Notas Sobre Um País Grande
Bill Bryson é uma daquelas pessoas tão chatas que se tornam engraçadas. Ou tão versáteis que se tornam curiosas. Alguém que se define, aliás, como “um escritor de viagens” e que acaba a escrever livros tão antagónicos como “Breve História de Quase Tudo” (em que explica ciência de forma extremamente simples) e “Notas Sobre Um País Grande” (em que desanca a american way of life) só pode ser alguém fascinante. Mas não é só Bill Bryson que é fascinante. Os seus livros também o parecem ser (pelo menos este último).
Num estilo extremamente simples, recorrendo constantemente ao sarcasmo, Bryson consegue debater assuntos tão complexos como a pena de morte ou tão banais como o binómio eficiência/ simpatia no que diz respeito aos Correios Britânicos vs. Americanos. Tendo a vida que deixou em Inglaterra (com algum saudosismo) como pano de fundo, as suas crónicas são uma espécie de correspondência para uma família que deixou para trás (na verdade, são crónicas que este escreveu durante cerca de dois anos para um jornal britânico acerca da vida nos EUA, pais a que regressou com a sua família após 20 anos a viver em Inglaterra), em que relata a realidade quase doentia com que se deparou. A meio do livro temos a sensação que os EUA não são um país, são um planeta. Há tantas práticas, tantos hábitos, tantos vícios – aparentemente banais – institucionalizados, tão diferentes da (concluímos) simples vida europeia (a obsessão com a novidade e diversidade dos produtos; o paternalismo/ moralismo enraizado (bares em que se podem ler avisos como: “Levamos a nossa responsabilidade para com a comunidade a sério. Assim, estamos a introduzir a politica de limitar cada cliente a um máximo de três bebidas. Agradecemos a sua compreensão e cooperação”); a forma absurda como sucessivos governos combatem questões delicadas como a toxicodependência (ex: criando legislação penal cada vez mais rígida e investindo gigantescas somas de dinheiro em novas cadeias para alojar os novos reclusos, que se multiplicam, em vez de canalizar esses investimentos para programas de prevenção, etc.); a burocratização que cresce a um nível quase epidémico; a forma como alguns americanos tentam provar constantemente que a imigração é uma problema, quando esses fluxos migratórios são significativamente menores nos EUA do que em outros países (ex: Reino Unido, França) e existem centenas de Km2 quase que desertificados em dezenas de Estados; os questionários absurdos que são entregues aos “recém-chegados” (“Pretende praticar poligamia nos EUA”; “Pretende levar a cabo algum atentado terrorista?”); a total ineficiência dos serviços administrativos em geral; a crença de 2/3 da População de que a pena de morte é a solução mais eficaz para o combate ao crime, etc.).
É impossível transmitir aqui o prazer que se tem a ler, quase que ininterruptamente, uma após uma, as suas crónicas. A facilidade com que nos identificamos com alguns problemas com que Bryson se depara (ex: a mecanização dos empregados dos serviços de apoio ao cliente das companhias de telefones ou dos centros de assistência ténica e, consequentemente, a sua completa ineficácia na resolução de problemas), leva-nos a crer que, aparentemente, caminhamos para uma demência generalizada, globalizada, contagiante, capaz de levar à loucura o cidadão mais normal (como Michael Douglas em “Falling Down”). E sejamos francos: um livro que reitera a prática preferida do mundo - desancar americanos – só pode ser uma preciosidade.
Num estilo extremamente simples, recorrendo constantemente ao sarcasmo, Bryson consegue debater assuntos tão complexos como a pena de morte ou tão banais como o binómio eficiência/ simpatia no que diz respeito aos Correios Britânicos vs. Americanos. Tendo a vida que deixou em Inglaterra (com algum saudosismo) como pano de fundo, as suas crónicas são uma espécie de correspondência para uma família que deixou para trás (na verdade, são crónicas que este escreveu durante cerca de dois anos para um jornal britânico acerca da vida nos EUA, pais a que regressou com a sua família após 20 anos a viver em Inglaterra), em que relata a realidade quase doentia com que se deparou. A meio do livro temos a sensação que os EUA não são um país, são um planeta. Há tantas práticas, tantos hábitos, tantos vícios – aparentemente banais – institucionalizados, tão diferentes da (concluímos) simples vida europeia (a obsessão com a novidade e diversidade dos produtos; o paternalismo/ moralismo enraizado (bares em que se podem ler avisos como: “Levamos a nossa responsabilidade para com a comunidade a sério. Assim, estamos a introduzir a politica de limitar cada cliente a um máximo de três bebidas. Agradecemos a sua compreensão e cooperação”); a forma absurda como sucessivos governos combatem questões delicadas como a toxicodependência (ex: criando legislação penal cada vez mais rígida e investindo gigantescas somas de dinheiro em novas cadeias para alojar os novos reclusos, que se multiplicam, em vez de canalizar esses investimentos para programas de prevenção, etc.); a burocratização que cresce a um nível quase epidémico; a forma como alguns americanos tentam provar constantemente que a imigração é uma problema, quando esses fluxos migratórios são significativamente menores nos EUA do que em outros países (ex: Reino Unido, França) e existem centenas de Km2 quase que desertificados em dezenas de Estados; os questionários absurdos que são entregues aos “recém-chegados” (“Pretende praticar poligamia nos EUA”; “Pretende levar a cabo algum atentado terrorista?”); a total ineficiência dos serviços administrativos em geral; a crença de 2/3 da População de que a pena de morte é a solução mais eficaz para o combate ao crime, etc.).
É impossível transmitir aqui o prazer que se tem a ler, quase que ininterruptamente, uma após uma, as suas crónicas. A facilidade com que nos identificamos com alguns problemas com que Bryson se depara (ex: a mecanização dos empregados dos serviços de apoio ao cliente das companhias de telefones ou dos centros de assistência ténica e, consequentemente, a sua completa ineficácia na resolução de problemas), leva-nos a crer que, aparentemente, caminhamos para uma demência generalizada, globalizada, contagiante, capaz de levar à loucura o cidadão mais normal (como Michael Douglas em “Falling Down”). E sejamos francos: um livro que reitera a prática preferida do mundo - desancar americanos – só pode ser uma preciosidade.