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quarta-feira, agosto 31, 2005

Presidenciais

Pedindo desculpa pela minha ausência prolongada da actividade bloguista (no caso de terem sentido a minha falta), volto para comentar um tema bastante actual: As Presidenciais.
No entanto, e para variar de conteúdo, não quero começar por discutir a validade dos actuais candidatos (ou candidatos a candidato), mas sim a do actual possuidor do cargo. Sim, Sampaio!
Não serei, concerteza, o primeiro a reparar que o nosso Presidente se limita a dizer coisas triviais e obvias, pois não? Para quem ainda não reparou e se queira esclarecer recomendo que leia a coluna do “Altos e baixos”(penso que é este o nome) do Expresso, pois o que lá está escrito resume quase por completo a minha opinião. De facto, Sampaio parece um patetinha que apenas é capaz de condecorar pessoas com largos sorrisos e de repetir “balelas” recorrentes do senso comum como: “ O racismo é mau”, ou “É necessário limpar as matas.”. É, de facto, notável como o nosso presidente pode ter uma tamanha incompreensão da realidade. Estará ele convencido que é através deste tipo de acções que irá contribuir para a resolução dos problemas do país? Pensará ele que aqueles a quem competeria limpar as ditas matas, ao ouvir o discurso de sua excelência, se encherão de vergonha, indo a correr limpar as matas, para evitar os fogos do ano seguinte? Voltando 10 anos atrás e tentando-me lembrar de alguma acção importante para o futuro do país levada a cabo por Sampaio entretanto, ocorrem-me apenas duas, sendo que em ambas foi obrigado a agir: A primeira, a nomeação do governo de Santana Lopes e a segunda a sua destituição.
Ora, pergunto eu, agora, é de um Presidente como este que nós necessitamos? Para mim a resposta é “Não”. Mas, por outro lado, necessitaremos de um Presidente que, ao contrário do seu predecessor, intervenha para além, das suas capacidades (como já demonstrou)? Também me parece que não.
Agora, surge-me a questão crucial: Daria (ou dará) Cavaco um bom Presidente da República, capaz de se remeter às suas funções, sem, no entanto as deixar esmorecer? Não sei, mas temo bem que não…

Comunicado

a mesa de cafe

Como única forma de acabar com o SPAM nos comentários, vi-me obrigado a activar o “word verification”, um sistema que vos obriga a escrever uma palavra numa caixa, para poderem comentar, que é a única maneira de evitar isto – estes comentários são gerados por um programa que os vai publicando em dezenas de blogs.
Peço desculpas aos nossos comentadores (iremos certamente perder algumas centenas, mas…coisas da vida), em nome da direcção.

O recuo de Alegre...

a mesa de cafe

Se já tinha uma grande consideração por Manuel Alegre como político, surpreendeu-me a sua decisão, apesar de calcular que foi, certamente, alvo de gigantescas pressões do PS e de outras entidades interessadas no sistema e, obviamente, na sua continuidade.
O discurso de Alegre ilustrava bem aquilo que se poderia esperar dele: um candidato à esquerda, consciente da necessidade de renovar o ciclo político que agora se esgota, e do perigo que essa mesma não renovação dos ciclos políticos pode representar para a própria democracia. Alegre parecia-me ser, actualmente, um homem mais adequado ao cargo de P.R. (e ao que esse cargo envolve) do que Soares. No entanto, acredito em Mário Soares e no seu projecto, bem como no seu esforço por tentar, já no fim da sua carreira política, dar um rumo ao país. Vejo na sua atitude um acto de coragem; vejo na sua atitude não um combate preenchido por rivalidades infantis, mas sim uma enorme consciência da necessidade que o país tem dele, para assegurar um Estado justo, igualitário, democrata, solidário.
Porém, acho que há qualquer coisa que pode virar o tabuleiro do avesso: a candidatura de Soares é uma candidatura de peso, mas as fracturas dentro da própria esquerda, com uns possíveis 3 candidatos, poderão jogar muito a favor de Cavaco, que concorrerá com apenas outro candidato, não mais que isso, à direita. Há uma grande possibilidade de obter 50% logo na primeira volta. É talvez por isso que se verá se Soares está ou não apto para este papel – desiluda-se quem pense que o combate está ganho.
Mas acredito em Soares…Afinal, é uma personagem bigger than life

terça-feira, agosto 30, 2005

"Queremos Paz"

amesadecafe

(…)We want peace; we want to build a better life for our people, and that is why we avoid answering, so far as possible, the planned provocations of the Yankee. But we know the mentality of United States rulers; they want to make us pay a very high price for that peace. We reply that price cannot go beyond the bounds of dignity…

Ernesto Che Guevara

Gotan Project é boa música. É bom Tango. É o que se poderia chamar o futuro do Tango, ou o Tango moderno. Este grupo de músicos argentinos exilados em Paris habituou-nos desde o seu primeiro disco (“La Revancha Del Tango”) a uma música instrumental fresca, a uma música electrónica audível, a um Chill Out que prova a diversidade possível dentro do estilo.
Há algumas músicas que sobressaem de entre o repertório já razoavelmente longo deste grupo. Uma delas chama-se “Queremos Paz” e inclui fragmentos de um discurso de Che Guevara dirigido às Nações Unidas, em Dezembro de 64, que, lido na íntegra (e é sempre um prazer ler Che Guevara, apesar do ícon pop em que se transformou) ilustra perfeitamente algumas posições do revolucionário argentino, face ao imperialismo Norte-americano, à guerra no Vietname, ataques desta Civilização no Cambodja, que não cedeu como a Tailândia, etc.
Consegui arranjar o discurso completo aqui, e uma montagem em vídeo com a música de que falei aqui.
Ah, e arranjem, se puderem, o CD dos Gotan Project com Yann Tiersen (o músico que compôs a banda sonora d’ “O Faboloso Destino de Amélie) e um novo, com músicas remixadas, bastante bom…

segunda-feira, agosto 29, 2005

Chamem-me o gerente...

a mesa de cafe

Jovens inocentes à procura de emprego, entregam numa livraria o currículo que, visto ser permitido entregar até quarta-feira, vinha dentro do tempo.
Um gerente que estaria bem a gerir uma pocilga, e que provavelmente não sabe gerir nada, muito menos uma livraria, muito menos clientes, muito menos situações e muito menos pessoas diz-nos simplesmente que não vale a pena entregar. Deu-me vontade de chamar o gerente, mas...Aquele era, por incrível que pareça, o gerente.
Mas voltando à parte do não vale a pena, não fiquei surpreendido, de facto. Neste país já nada vale a pena…

Bom dia

amesadecafe

Sei que não são propriamente 7 da manhã, mas, tendo em conta que me ando a deitar por volta dessa mesma hora e a acordar, em média, 12/13h depois, acho que se pode dizer que me levantei consideravelmente cedo...

domingo, agosto 28, 2005

"The Incredibles" (não, não somos nós...)

A Disney, a Dream Works e a Pixar desde o “Shrek” ou do “Ice Age” que nos habituam a fazer filmes para crianças que fazem rir mais adultos que a audiência que lhe és destinada. O público infantil não percebe muitas das piadas que, em muitas situações, são humor que exige uma maturidade bem grande.
“The Incredibles” é a história de uma família de super-heróis que, face a uma gigantesca revolta da população contra os “acidentes de percurso” que estes causam durante os seus salvamentos, é obrigada a viver recatada, como uma família normal.
Claro que o filme não teria piada nenhuma se isto fosse assim (que obviamente não se resume a isto). No entanto, a somar à história, que está bastante imaginativa e muito bem concebida em termos de animação e efeitos, estão momentos hilariantes, advindos desta “vida normal” que esta família tenta levar. O pai que trabalha na empresa capitalista americana (de seguros – típico), em que é obrigado a explorar clientes e em que é explorado pelo patrão, a seriedade com que a população lida com estes seres, enfim, uma espécie de “Super-Simpsons” que aborda, se bem que de forma mais condensada (por ser um filme) e subtil (visto que os seus objectivos diferem dos levados cabo pelos “Simpsons”, que não pretendem ser mais do que isso - uma família), aspectos da vida familiar. Ora, está provado que o público gosta de séries de família. E se os membros tiverem, ainda por cima, super poderes, está explicado o porquê da fórmula ter pegado, o que abre certamente as portas para um “The Incredibles 2”, que não tardará.
Se gostam de filmes de animação, não percam este…

Dawson's Creek (e não me perguntem o nº da série)...

As férias têm-me permitido fazer coisas que não costumo fazer. Uma delas é ver televisão. Ultimamente, em momentos de verdadeiro ócio, tenho assistido a um outro programa razoável, como aquele dos Pastéis de Nata, ou o “Dawson’s Creek”, que vejo muito raramente, dado que é uma verdadeira tortura assistir a um programa destes dobrado. Mas até que têm piada, estes “Morangos com Açúcar” americanos. Um dia vou pedir à TVI para se limitar a legendar aquilo. Isto claro, se me der na telha…

Post dedicado a todos os "Aníbeis"

a mesa de cafe

O Aníbal (nome fictício) é mecânico, provavelmente nunca foi nem sabe ser outra coisa. Arranja “todo o tipo de motores”, a “preços à maneira, altamente”. O arranjo nunca fica completo sem “segmentos, piston, viela(…)”, seja lá o que isso for. O “Sr. (ou shô) Aníbal” guarda as motas cá fora, todas com a chave na ignição, e a torrarem debaixo de um sol de 40º. O Sr. Aníbal tem um rádio na oficina; nunca teve outro. O filho do Sr. Aníbal testa-lhe as motas, os kits, as rectificações. Quando era pequeno ia aos fins-de-semana picar-se na “Recta da Bencanta". O Sr. Aníbal compra, provavelmente, peças roubadas, de motas roubadas.
A oficina do Sr. Aníbal não tem boas ferramentas, nem bom equipamento, nem arejamento.
A oficina do Sr. Aníbal deveria estar, muito provavelmente, fechada, em pleno séc. XXI.
Mas não está.

E ainda bem, o Sr. Aníbal não viveria a fazer outra coisa...

Calçada do Gato...

Dantes era uma ladeira húmida e íngreme, coberta de árvores e diversa vegetação nas colinas. Hoje é uma ladeira húmida mas seca à vista, coberta de um enorme cinzeiro em tons de cinzento e preto.
Futuramente serão bons apartamentos, com vista para a circular externa.
Ou, quem sabe, madeira para móveis…

quinta-feira, agosto 25, 2005

Pés e cabeça

Jornais e Blogs lançam-se em discursos demolidores contra Jorge Sampaio e António Costa. É, aliás, um hábito que criaram, quais mulheres de mercearia que, no dia em que já não houver nem divórcios, nem adultérios no bairro, perdem o tema de conversa.
Pessoalmente, aplaudo a actuação quer de um, quer de outro. A TVI, na sua qualidade de mad TV, tem-me permitido assistir a sucessivos discursos e declarações de ambos. Vejamos, por exemplo, no caso das escandalosas férias do primeiro-ministro. António Costa reagiu de forma sensata, coerente. Simplesmente disse que não havia necessidade de Sócrates interromper as suas férias, pelo menos por enquanto. Foi imediatamente um festival: é o primeiro-ministro que já não manda no país, é um calão…Esquecem-se que interromper umas férias destas não é propriamente como o vizinho se meter no carro e vir do Algarve, mas enfim…Eu, humildemente, pergunto-me: porquê tudo isto? …Será que o primeiro-ministro, como ser humano que trabalha e que merece descansar não o pode fazer (mesmo sendo primeiro-ministro e, como tal, não tendo direito a nada que não seja ouvir contestações atrás de contestações…)?
Todas as medidas que foram anunciadas pelo Ministro da Administração Interna foram recebidas com sucessivos urros: “este deve estar à espera que os fogos se resolvam por decreto” e etc.…
Quanto a Jorge Sampaio, mostrou uma enorme presença de espírito no apelo que fez na reestruturação de todo o sistema de combate aos fogos; no estabelecimento de uma lei que obrigue os proprietários de matas a procederem à sua limpeza…Honestamente, não me pareceu um Governo ausente, nem trapalhão. Pareceram-me medidas e intervenções com pés e cabeça. Mas parece que ser desta opinião não interessa para nada nem a ninguém, no es muy verdad?

O 3º Mundo é aqui...

a mesa de cafe

Alguém me explica porque é que nos E.U.A., ou até em Espanha, pelo que sei, a coisa mais natural do mundo é que jovens da nossa idade tenham empregos (e que aqueles que não têm sejam olhados como chupistas), e que aqui em Portugal qualquer um que se proponha a ter um miserável part-time é visto como alguém que, das duas, uma: ou tem tempo a mais ou tem tempo a menos? Digo tempo a mais para ainda ter tempo para o fazer, tempo a menos para estudar ou levar uma vida normal…
Quando vieram cá os americanos ficaram bastante surpreendidos com isto e, para quem tem consciência desta triste realidade, a pergunta soou um pouco a humilhação de nação superior: «São os vossos pais que vos pagam as despesas?!», ao que nós respondemos, com o ar mais natural do mundo: «Sim, São! And so what?». Realmente, qual é o espanto…?
Ás vezes penso que a nossa mentalidade está 50 anos atrás do resto do mundo. Ou pronto, 50 anos atrás do mundo normal…

A Revolta do Pastel de Nata

(ou qualquer coisa do género)

a mesa de cafe

A RTP2 sempre teve bastante mérito na sua árdua tarefa que é a de fazer programas minimamente relevantes para jovens. No entanto, há um je ne sais quoi naqueles apresentadores, sempre com o seu ar arrogantezinho de “jovem-intelectual-de-esquerda-que-esteve-a-fumar-ganzas-antes-dos-programas” que me arrepela os cabelos.
Estou-me a referir à dupla que apresenta um programa que é aquilo que o Curto-Circuito podia ser, mas que se fosse não teria o mínimo interesse (se é que ainda tem algum). Esse programa chama-se “A Revolta do Pastel de Nata”, ou qualquer coisa do género e, pelo que entendi, destina-se a discutir muito jovialmente temas polémicos como a despenalização das drogas, etc. Pelo que sei, a equipa de produção do programa é constituída por guionistas, o que justifica uns sketches sem a mínima piada durante o programa. Imaginem “Os Malucos do Riso”, só que sem cenários e com apenas duas personagens.
Bem, mas hoje consegui a assistir praticamente ao programa inteiro, e não posso deixar de colocar duas questões, digamos que…metafísicas:
Sinceramente, quem é aquele “Dj Jel” (não Jil, nem Gel) que finge que mexe numas espécie de mesa de mistura durante o programa, cola post-its na boca com frases a roçar a infantilidade, e se apresenta num programa de televisão com timbre minimamente sério com uma postura de Dj cromo da noite, de roupa fashion e palavreado semi-caro? (e digo “semi”, porque o gajo simplesmente não consegue dizer uma…Hoje virou-se para um ex-ministro do Governo de Santana Lopes (penso eu, visto que só exerceu funções durante 3 meses – não me perguntem quais, porque honestamente não sei…) e, como um adolescente mandado para a rua por um professor, começou num custoso discurso sobre liberdades, num tom que se usa para mandar sentar um cão. Está bem que o ministro até era do Governo de Santana Lopes, mas sempre merece algum respeito...Enfim..
Outra é: onde é que aquele apresentador que tem pinta de leite antes de ir dormir vai buscar aquelas piadas irreverentes do género: “Ai esteve na Suécia? Onde é que se arranja lá ganza?”?
Todas estas perguntas poder-me-iam angustiar mas, felizmente, não o fazem, porque já deixei de ligar ao conteúdo televisivo há algum tempo. Só que a RTP2, que até fazia uns programas engraçados, como aquele do “Caderno Diário” ou mesmo o Hugo, preocupa-me com esta recém-adquirida vontade de harmonizar os interesses e preocupações dos jovens...
Eu não era capaz de participar num programa daqueles. Prefiro discutir assuntos deste género aqui com vocês que, apesar de tudo, me parecem bem melhores que a equipa d’ “A Revolta do Pastel de Nata”. Bem, mas um conselho aos jovens que não tem esta oportunidade: fujam destas anormalidades; outro conselho: comprem um jornal e procurem na vossa escola com quem falar sobre isto e aquilo…Se não andarem no S. João de Brito, de certeza que vão encontrar…

terça-feira, agosto 23, 2005

Recomendo mesmo que leiam...

a mesa de cafe

Desculpem insistir, mas é que Umberto Eco é simplesmente... fenomenal; este excerto está, para mim, sublime. Mostra aquilo que penso sobre aquelas acções de solidariedade do género “caixote-de-cartão-debaixo-da-árvore-de-Natal”, em que todo o bom cristão/ cristã deposita os sapatos mais velhos e gastos, os brinquedos mais partidos que consegue encontrar em casa. Para mim, solidariedade está longe de passar por isto. A solidariedade exige sacrifícios nossos, não a nossa comodidade. Bem, e esta atitude do professor faz-me lembrar um(a) ex-professor(a) bem conhecido(a), que procederia exactamente da mesma maneira, e que trata os alunos precisamente desta forma, porém obviamente mais moderado(a). Reparem bem nas frases sublinhadas. Quem já percebeu a quem me refiro, veja se não encaixam completamente no perfil da peça…

“(…)O Bruno tinha a bata preta rasgada, não tinha o colarinho branco, ou, quando o tinha, estava sujo e puído e, naturalmente, não tinha o laçarote azul como os meninos «bem». Tinha crostas, por isso estava rapado à máquina zero, o único tratamento que a família conhecia, também contra os piolhos, e viam-se-lhe as manchas brancas das crostas já saradas. Estigmas de inferioridade.
O professor era essencialmente um bom homem, mas, como tinha sido membro dos esquadrões fascistas, sentia-se obrigado a educar-nos de forma viril e pregava valentes bofetadas. Mas nunca a mim e a De Caroli, pois sabia que iríamos dizer aos nossos pais, que eram seus pares (…) e porque a minha mãe era prima de uma directora pedagógica.
Para o Bruno, pelo contrário, as bofetadas eram diárias (…) e acabava sempre atrás do quadro, prestando-se ao ridículo.
Um dia, o Bruno chegou às aulas depois de uma falta injustificada e, enquanto o professor já estava a arregaçar as mangas, desatou a chorar e, por entre as lágrimas, deixou entender que o pai tinha morrido. O professor comoveu-se, pois os membros dos esquadrões fascistas também tinham coração. Naturalmente, encarava a justiça social como caridade e pediu-nos para fazermos um peditório. Também os nossos pais deviam ter bom coração, pois no dia seguinte cada um voltou com algumas moedas, umas roupas velhas, um frasco de doce de fruta, um quilo de pão. O Bruno teve o seu momento de solidariedade.
Mas, na mesma manhã, durante a marcha no quintal, começou a andar de gatas, e todos pensámos que devia ser mesmo mau para se portar daquela maneira depois da morte do pai. O professor disse-lhe a gritar que não tinha o mais elementar sentido de gratidão.
(…) Diante o Bruno a andar de gatas, percebi que aquilo era um sobressalto de dignidade, uma forma de reagir à humilhação que a nossa generosidade mórbida lhe tinha infligido.
Percebi isso ainda melhor uns dias mais tarde, numa daquelas concentrações do sábado fascista, em que estávamos todos alinhados, de farda, a nossa impecável, a do Bruno como a bata de todos os dias, com o lenço mal atado, e tínhamos de pronunciar o Juramento. O centurião dizia: «em nome de Deus e da Itália, juro cumprir as ordens do Duce e servir com todas as minhas forças e, se for necessário, com o meu sangue, a causa da revolução fascista. Jurais?» E todos deveríamos responder: «Juro!». Enquanto todos gritávamos «Juro!» o Bruno – que estava ao meu lado, e que ouvi perfeitamente – gritou «Furo!» Revoltou-se. Foi a primeira vez que assisti a um acto de revolta.
Ter-se-á revoltado por iniciativa própria ou porque tinha um pai bêbado e socialista (…)? Mas agora percebo que o Bruno foi o primeiro que me ensinou como reagir à retórica que nos sufocava.
Entre a redacção dos dez anos e a crónica dos onze, no fim da escola primária, tinha sido transformado pela lição do Bruno. Anarquista revolucionário ele, apenas céptico eu, o seu Furo passou a ser o meu copo inquebrável* (…)”.

*Nota: Para ficarem a saber o que é o copo inquebrável a que Eco se refere, leiam “A Misteriosa Chama da Rainha Loana”. Não teria sentido explicar aqui.

Enquanto me sento a escrever isto...

a mesa de cafe

O país arde e com ele arde a comunicação social, a escaldar de contentamento pelo fétido material novelesco que muito profissional e eticamente reproduz todos os dias à mesma hora. Isto é, a avidez de audiências continua a falar mais alto, e não há reunião de directores de informação que produza algum efeito enquanto o interesse não for informar, no sentido mais restrito da palavra, mas sim captar a atenção do telespectador, que assiste a um telejornal como quem assiste a um programa de entretenimento, de cabeça esvaziada – porque lho é permitido; porque não é preciso pensar. Os telejornais são, sem dúvida o espelho da conduta de um canal. Provam que a televisão portuguesa tem uma característica particular, que a faz diferir de muitas outras: dispensa que se pense.
Confrontei-me com a ideia de ter um fogo muito perto de casa e, como estava de férias, a reacção mais natural foi a de tentar procurar informações nos telejornais. Comecei pela RTP, que iniciou o Jornal da Noite com fogos noutras zonas, o que me obrigou a mudar para a SIC. Aqui, e apesar de mais moderadas, as imagens apareciam como num verdadeiro filme de acção, com labaredas filmadas de diferentes planos e com jornalistas no terreno que pouco mais dizem para além daquilo que conseguiram arrancar do Comandante dos Bombeiros – isto é, dão a informação que realmente interessa; quando se esgota o assunto, entram em monólogos que, escutados com atenção, podem provocar o riso, apesar, obviamente, do assunto ser sério, e do ar melancólico do jornalista que, quase em verso, vai esbatendo impiedosamente a fronteira entre a informação – que conseguiu transmitir em 45 segundos – e a stand up tragedy, encomendada provavelmente pelo director de informação – que dura uns bons 5/6 minutos.
Quando finalmente acaba o sketch, (uma pequena nota: noticiar é o acto de “(…)dar notícias, dar a conhecer assuntos de interesse(…)” – sim, assuntos de interesse, não dotes dramáticos de jornalistas que erraram na profissão. Posto isto, parece-me que chamar a estes curtos teatrinhos notícias é o mesmo que chamar ao 24h jornal.) sobe ao palco o próximo actor, desta vez em Castelo Branco, ou terra parecida. Mudo de canal para a TVI e é aí que realmente me apercebo do que é explorar o assunto ao máximo. Imediatamente imagino Mário Moura (director de informação da TVI) sentado à mesa com os seus jovens pupilos, (que conseguiram provavelmente uma almofada quentinha na redacção da TVI graças ao tio) a estudarem o guião de cada notícia: “Vão rodar a cena numa mata ardida. Enquanto ela desce lentamente pela colina, vai tentar verter uma lágrima, enquanto declama Florbela Espanca: ”No entanto fogo, que lavas, a montanha”
Mas aqui ainda só conceberam o drama. O filme de acção requer preparação. Espanta-me como é que JEM ainda não colocou umas gruas com câmaras nos vales que ardem para filmar todo espectáculo, em 35mm. Uma banda sonora do Toy e está perfeito.
No entanto, enquanto só trabalha com os meios que tem à sua disposição para gravar estas novelas, limita-se a fazer uns genéricos que passam sempre que vai começar a enxurrada de pseudo-informação, assim com umas palavras que vão aumentando e desaparecendo: “Pânico”, “Caos”, “Tragédia”, “Drama”, tudo com um cenário de incêndio por trás. Seguidamente, aparece um grupo de idosas, vestidas de negro e em pranto, a descerem a rua, enquanto gritam: “Ai a minha casinha!”, “Ai que fiquei sem nada!”. Claro está que o javardo do repórter não perde a oportunidade de ir a correr para as senhoras para imediatamente lhes colocar uma série de questões extremamente oportunas: “Então e…ficou sem nada?” (etc.). Finaliza com um pedido, o de deixar uma mensagem ao governo, que costuma ser como quem diz…para acabar em beleza: a pièce de résistance.
Mas afastando o modo insultuoso como a TVI faz aquilo a que chama jornalismo (ninguém me convence que eles não têm uns estúdios atrás onde gravam aquelas cenas em que o repórter tosse com o fumo – atenção, estou a brincar), apenas me preocupa o que realmente emerge desta catástrofe anual: o país que se vende à clientela do costume, o país ávido e ganancioso. O país que faz com que o povo não acredite nem no Governo (nem no Estado já), nem na política, nem na polícia, nem nos médicos – às vezes nem já nos bombeiros. Um país que não acredita em nada. Em nada. Um país que está vendido a gente mesquinha, que procura simplesmente o mais cómodo para si, que não olha a meios para atingir fins. Um país de espertos. Não de inteligentes, de espertos.
Uma legislação que proibisse qualquer tipo de actividade num terreno ardido durante, pelo menos, os 200 anos subsequentes ao incêndio, era uma boa solução. Só que isto é um ciclo vicioso, que faz Portugal parecer Marrocos, ou outro qualquer país em que estas coisas não acontecem simplesmente – são a base de todo o sistema. Para uma legislação deste tipo fazer efeito, era preciso fiscalização. E as fiscalizações em Portugal são tão prestáveis…Um apartamento para si e para a família. É quanto basta para derrubar a fiscalização. Sim, meus amigos. O País está ingovernável…


sábado, agosto 20, 2005

Fernando Pessoa fala por mim...

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa

terça-feira, agosto 16, 2005

Solitude...


Onde é que raio se enfiou toda a gente?

segunda-feira, agosto 15, 2005

No sótão com Yambo...




Chega-nos pelas páginas de Umberto Eco um vasto material sobre a educação fascista na Itália de Benito Mussolini, na década de 40, em plena Guerra. E também sobre a vida no meio rural durante este período. Tudo isto no seu último romance ilustrado, "A Misteriosa Chama da Rainha Loana".
Yambo é um homem que acorda um dia de um coma profundo. Apercebe-se pouco depois que as únicas memórias que lhe restam são as pertencentes a uma memória semântica (esta divisão das memórias vem já de S. Tomás de Aquino e Eco tem uma tese de licenciatura sobre este, o que justifica as suas constantes reminiscências a esta densa figura da Idade Média…). Como forma de recuperar a sua memória emocional vai, aceitando a sugestão da sua mulher, passar uns tempos na casa onde cresceu. No sótão explora vários caixotes, com cadernos escolares, livros, revistas e discos de várias gerações.
Assim, e como referi no início, um dos aspectos mais significativos deste contacto, são as vivências que emergem de cartazes de propaganda, livros escolares, discursos em êxtase de Benito Mussolini – vivências condicionadas e ensinadas na escola.

“Dissolve-se a neve,
o nevoeiro, a geada
os abjectos ingleses
que pernoitam nas caves
tragam garrafas,
chupando pastilhas

(…)

Maldosa Inglaterra
Tu perdes a guerra
A nossa vitória
Sobre a tua cabeça orgulhosa está”


É interessante reparar na educação completamente manipulada e direccionada unicamente para a guerra, principalmente a dos jovens Balilla (equivalente à ministrada na “Mocidade Portuguesa” mas, obviamente com fins ligeiramente distintos – quer-se mais que obediência):
Há até uma composição escrita pela personagem de Eco em criança:

"São os Balillas que, orgulhosos e valentes sob o tépido Sol da nascente Primavera, marcham disciplinados e obedientes às ordens bruscas dos seus oficiais; são os rapazes que aos vinte anos largarão a caneta e pegarão no mosquete para defender a Itália das insídias inimigas(…)"
Para além de tudo isto, é interessante observar a resistência anti-fascista preconizada pelo avô desta personagem, que esconde opositores ao regime numa espécie de câmara secreta no sótão…
Bem, pelo menos uma coisa é certa: Umberto Eco é fenomenal (e olhem que conheço muito pouco dele…)

No iPod de Mr. Bush...

a mesa de cafe

“Não existem músicas de cantores negros, nenhuma de nenhum artista homossexual, nenhuma de outra língua que não a inglesa e de nenhum género musical inventado nos últimos 25 anos”. Bush utiliza o seu “iPod One” enquanto faz exercício físico, vigiado pelos serviços secretos. Segundo o historiador Douglas Brinkley, “a divulgação da playlist de Bush vem confirmar muitos dos seus traços: conservador, populista e pouco imaginativo”. O historiador considera importante a divulgação de aspectos pessoais como este, dado que “o Presidente e a Primeira-dama exercem uma enorme influência na cultura americana”. Ora, a meu ver, os 50 cent e a G-Unit devem viver noutro país que não os E.U.A., porque reúnem todas as condições para serem rejeitados por este texano, que ouve essencialmente música proveniente deste mesmo estado. Sim, aquela com grandes guitarradas que ecoam nas paredes dos saloons. Para além disso, os artistas que mais vendem neste país. (e creio que no resto do mundo também) são precisamente os que reúnem todas estas características. Ou seja, todas as variações do Pop, do Rock, do Metal…o Grunge, o Chill Out, o Ska – todas rejeitadas pelo Presidente. A Música Cubana, o Tango, o Fado…

Bush, és mesmo limitado

Moralmente Superior

a mesa de cafe

Aqui há uns dias saiu no “Público” uma sugestiva crónica de uma jornalista de que nunca ouvi falar, que dá pelo nome de Helena Matos, sobre a prática antidemocrática que é a rejeição do fascismo – que origina um paradoxo dentro da própria democracia. A cronista chega mesmo a afirmar que a esquerda “(…)se acha moralmente superior(…)” e no direito de condenar e rejeitar ideias que não as dela, nomeadamente, o fascismo e o conservadorismo.
Eu parei na parte do “moralmente superior”. Estou como RT do “Barnabé” – a direita “precisa de amor”. Precisa desse mundo esvaído, “(…)certinho, seguro, cheio de cavalheirismo, rapazes com a tabuada na ponta da língua, livros com intriga e personagens, torradas(…)” (e continuo a acrescentar) missas ao Domingo, visitas de condes de extenso nome, casas apalaçadas, empregadas grávidas, homens de honra desvirginados nas meninas
Não, minha cara senhora. A direita é moralmente superior. A esquerda finge que é…

segunda-feira, agosto 08, 2005

Untitled 4


"America is a country that doesn't know where it is going but is determined to set a speed record getting there."

Laurence J. Peter (1919 - 1988)

domingo, agosto 07, 2005

Criticism is prejudice made plausible...

a mesa de cafe

Não sei como falar disto sem que pareça uma observação estúpida e despropositada. Mas como isto é um blog estúpido e despropositado, até que é capaz de nem destoar muito.
Bem, mas isto tudo para perguntar se nunca vos aconteceu estarem a falar sobre cinema, perguntarem sobre o que é que trata um filme, e apanharem uma pessoa que se limita a reproduzir os acontecimentos mais importantes exaustivamente. Passo a explicar: pergunta-se a y: “Ó y, de que trata “O Papão”?” ao que o y responde “O Papão é a história de um monstro que mete medo às criancinhas durante a noite e, que quando mal disposto, as chega mesmo a comer/ matar”.
Ok, ficámos satisfeitos com a resposta. Mas não pensem que o assunto esgotou; imediatamente há-de surgir um x morto para falar com o seu ar de Vasco
Câmara (aquele tipo do “Público” que só dá boas classificações a filmes para esquizofrénicos e frequentadores do cinema do “Gil Vicente” 4ª feira à meia-noite) sobre o filme, começando a desbobinar: “Pá, o filme é assim: o gajo vai a andar pela casa e o Papão está escondido debaixo do lavatório, o Papão fica a observá-lo e o gajo olha pelo espelho da entrada, consegue vê-lo, vai chamar a vizinha que vive à frente, com quem tinha dormido na noite anterior, mas ele gosta é da mãe, que espreitou pela fechadura do quarto e viu o Papão no tecto do quarto, depois ela vai buscar a faca à cozinha, mas tropeça nas escadas e bate com a cabeça no telefone, o Papão não sabe mas ela marcou o nº da polícia com a cabeça, por isso vai buscar o espanador (…)”
Até que finalmente para, face ao ar de aborrecimento chapado na cara da audiência…Claro que a cena se repete quando se avança para outro filme…

Untitled 3

a mesa de cafe

Voltei…por um dia.
É isto que tem piada nas férias…Estar num sítio à espera de outro…

quinta-feira, agosto 04, 2005

Chegou a minha vez

a mesa de cafe

De ir de férias…mais uma vez. O Blog fica, portanto, em autogestão…
Até daqui a uns dias...

quarta-feira, agosto 03, 2005

Em resposta ao RB

a mesa de cafe

Em primeiro lugar, é pena que essa apoio tão romântico ao Toninho te faça esquecer que primeiro lhe chamas múmia e em seguida reconheces que está em perfeita idade de governar. Fizeste bem, aliás, porque na minha opinião quem se centra neste ponto é porque não consegue passar dele – quanto a isto estamos conversados.
Respondendo ao terceiro: então porque apoia Sócrates Soares? Para lhe apertar as bochechas? Então mas se Soares é assim tão faccioso não deveria apoiar incondicionalmente as medidas de um governo PS, eleito com maioria absoluta? Não as apoiar não é uma prova de imparcialidade? Claro que não, é uma prova de que está gágá (aliás, convém imenso que esteja...). E se Sócrates não coabita um ano com Soares não coabita um mês com Cavaco, não porque não consiga, mas porque Cavaco tem também sempre à sua disposição o artigo 133º da CRP mas, neste caso, a alínea e)…
Quarto: contra essa vida paralela de Soares estão coisas que, enquanto verdades comprovadas, me parecem bastante mais plausíveis que todos esses pseudo-crimes, que me espanta não terem sido investigados ainda pela ONU ou outra qualquer entidade: foi peça fulcral no processo de independência das colónias, evitou que Portugal se tornasse um regime militarizado de extrema-esquerda, é o responsável pela entrada de Portugal na UE, no processo de reintegração de milhares de portugueses oriundos das colónias, na constituição do Estado de Direito (e mais tarde na do Estado Social de Direito), numa das primeiras revisões da CRP, na consagração do pluripartidarismo, em sucessivos planos de estabilidade económica como primeiro-ministro, etc. Um conselho: investiga tu a biografia de “Mário Alberto Nobre Lopes Soares” (ou melhor, investiga-a ainda mais, antes de lhe pegares pelo cadastro).
Quanto à implementação de impostos na UE, não te sei dizer o que isso representa (e não por duvidar das tuas capacidades como hipotético economista de blogs, duvido que também o saibas ao certo...); quanto aos "encontros diplomáticos com representantes do Terrorismo Internacional", sugiro-te que leias alguns textos de FNV no "Mar Salgado" (cujo link se encontra mesmo à tua direita), porque este ponto pode originar uma discussão semelhante à que se tem vindo a efectuar neste blog. De facto, “(…)o Ocidente, tolerante e democrático, não negoceia com terroristas, ponto final. Perdão: não negoceia com estes terroristas (com todos os outros já o fizemos) (…)”
Para além disso, vejo aqui mais uma bifurcação: ou sou eu que sou pouco perspicaz, ou és tu que és pouco claro; como arriscaria mais na primeira hipótese, pedia-te que explicasses a que te referes com a "Europa como alternativa económica e MILITAR aos EUA" – honestamente, sinto dificuldades em perceber a primeira, e uma estúpida concordância com a segunda.
No que diz respeito ao tratado de Quioto, sinceramente, não lhe consigo detectar deficiências (talvez a sua pouca incisão). Sei que Clinton e depois Bush se recusaram a aderir a ele, talvez pelo segundo ter em mente umas Petroleiras para o Alasca.
Quanto ao papel activo dos sindicatos, começas a entrar por um caminho que a meu ver comprova o que já suspeitava...era melhor que não existissem, não era? Não. Era melhor que sofressem reestruturações profundas, que lhes injectasse gente mais lúcida, mais capaz. Já D. Miguel não gostava que as suas ordens andassem na boca do povo...
Bem, e suponho que estejas a brincar, quando insistes na "personalidade envelhecida", com umas duvidosas nuances/analogias com Salazar. Mas, afinal, a idade é ou não um factor relevante? Ou só o é para Soares?
Quanto à falta de informação que tenho em relação a Cavaco, prefiro, honestamente, manter-me na minha leiguicidade. É figura que não me desperta o mínimo interesse, talvez por não conseguir "ir ao fundo” – como ele aliás tem insistido em ir. Apenas tenho a certeza de que, para evitar que comece a entrar no subterrâneo, e que com ele leve o país, voto Soares. Sem sombra de dúvida…

terça-feira, agosto 02, 2005

Man is what he believes

a mesa de cafe

"O que nos divide não é Marx – ou seja, a construção do socialismo, de uma sociedade sem classes, onde termine progressivamente a exploração do homem pelo homem; o que nos divide é Estaline – ou seja, a concepção totalitária do Estado, o partido único todo-poderoso, o problema da defesa das liberdades públicas e dos direitos do homem."

Comunicado do PS sobre o momento político,
A Capital, 28.07.05

segunda-feira, agosto 01, 2005

Acreditar nos rankings é pouco prudente...

Fiquei um pouco indignado com o método seguido pelo ex-reitor da Universidade Nova de Lisboa, Luís de Sousa Lobo, num estudo destinado a fazer um ranking de Universidades, que se baseia no número de artigos publicados em revistas científicas no estrangeiro. Parece-me imprudente publicar um estudo desta dimensão antes deste estar concluído (como o próprio autor admite), e parece-me ainda pior o critério utilizado na avaliação das Universidades: de acordo com o número de artigos publicados em revistas científicas no estrangeiro. Vejamos, por exemplo, uma Universidade mais direccionada para as ciências humanas; esta Universidade terá, certamente, muito menos artigos publicados, porque a produção estrangeira (como penso, aliás, que toda a gente sabe) privilegia as ciências mais férteis em investigação – basta dizer que em primeiro lugar está a Universidade de Aveiro, seguindo-se a do Porto e a Técnica de Lisboa. Ou seja, os resultados podem ser enganadores, se não forem criteriosamente explicados. O “Público” dedicou algumas páginas a este assunto, incluindo um bom artigo de opinião do reitor Seabra Santos, cuja leitura recomendo. Não sou ninguém para julgar métodos de avaliação, mas parece-me que aquilo que o reitor diz é bem verdade. Parece-me igualmente importante que haja uma consciência generalizada, entre os estudantes, destes assuntos, porque não são só os docentes que fazem uma boa Universidade...

Nesse caso...


Faça você também Que gênio-louco é você?

Soares é (mais) fixe

a mesa de cafe

Gerou-se uma grande polémica em torno das eleições presidenciais, polémica essa que advém sobretudo da avançada idade de ambos os candidatos. Aliás, essa polémica ocupa o centro da questão, o que mostra a priori a falta de matérias densas que ocupem o debate político.
Mas é inegável que este factor é relevante. Mário Soares tem 80 anos, cumprirá certamente o primeiro mandato com toda a lucidez que lhe é exigida, mas…cumprirá o segundo? Estou certo de que sim, nem lhe é exigido que não o cumpra, apesar de um Chefe de Estado como Soares ser fulcral para que o actual ciclo político não se esgote. Ninguém duvida que Cavaco não hesitará em derrubar o actual governo (lentamente), tal como Soares fez, há uns anos, com sucessivos vetos a dezenas de projectos governamentais ao Governo cavaquista. Temo que Cavaco não tenha esquecido os sucessivos ataques de que foi alvo, temo que a sua eleição inicie um longo jogo de Pingue-pongue.
Por outro lado, balanceando todos os pesos que temos, veremos que o prato de Soares é de longe o mais pesado. Figura central na constituição da Democracia, esforçou-se desde cedo para que Portugal não caísse nas mãos da URSS (toda a gente o sabe, e o camarada Cunhal tem culpas no cartório), é uma figura activa na política nacional, o que, aliás, o diferencia de Cavaco, que se limitou a jogar à defesa, certo de que o combate com Alegre estava ganho à partida. Cavaco percebeu desde cedo o que nós percebemos depois: que, como diz VPV (e eu não aprecio as crónicas de VPV) não havia senhores de 50 anos para sentar no lugar que tanto anseia. Deve ter aplaudido a queda do Governo de Santana Lopes e a sua não continuidade, porque saberia que se as presidenciais decorressem neste cenário político, estaria derrotado à partida, tal como um candidato PS estaria actualmente – a não ser que esse candidato político seja alguém como…Soares.
Mas o que me faz, sobretudo, apoiar este dinossauro (pergunto-me até que ponto é que esta denominação é intrinsecamente má…), é, como já referi, a sua actividade política, tendo ou não idade para isso. Quem lê os seus artigos de opinião, constata que Soares não é uma figura desligada do mundo. Podemos dizer o mesmo de Cavaco? E quanto ao lado humano, o estofo que Cavaco efectivamente não tem? O Pedro já o disse, n’”A Ilha do Dia Antes”: Cavaco é um tecnocrata. O seu milagre económico justifica-se, sobretudo, pela entrada dos primeiros fundos comunitários. Urge, então, a pergunta final: se Cavaco não tem um lado humano, nem um lado técnico (ou mesmo que tenha, não adequado às suas funções), pensemos: estará mesmo pronto para ser Chefe de Estado?

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