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No sótão com Yambo...




Chega-nos pelas páginas de Umberto Eco um vasto material sobre a educação fascista na Itália de Benito Mussolini, na década de 40, em plena Guerra. E também sobre a vida no meio rural durante este período. Tudo isto no seu último romance ilustrado, "A Misteriosa Chama da Rainha Loana".
Yambo é um homem que acorda um dia de um coma profundo. Apercebe-se pouco depois que as únicas memórias que lhe restam são as pertencentes a uma memória semântica (esta divisão das memórias vem já de S. Tomás de Aquino e Eco tem uma tese de licenciatura sobre este, o que justifica as suas constantes reminiscências a esta densa figura da Idade Média…). Como forma de recuperar a sua memória emocional vai, aceitando a sugestão da sua mulher, passar uns tempos na casa onde cresceu. No sótão explora vários caixotes, com cadernos escolares, livros, revistas e discos de várias gerações.
Assim, e como referi no início, um dos aspectos mais significativos deste contacto, são as vivências que emergem de cartazes de propaganda, livros escolares, discursos em êxtase de Benito Mussolini – vivências condicionadas e ensinadas na escola.

“Dissolve-se a neve,
o nevoeiro, a geada
os abjectos ingleses
que pernoitam nas caves
tragam garrafas,
chupando pastilhas

(…)

Maldosa Inglaterra
Tu perdes a guerra
A nossa vitória
Sobre a tua cabeça orgulhosa está”


É interessante reparar na educação completamente manipulada e direccionada unicamente para a guerra, principalmente a dos jovens Balilla (equivalente à ministrada na “Mocidade Portuguesa” mas, obviamente com fins ligeiramente distintos – quer-se mais que obediência):
Há até uma composição escrita pela personagem de Eco em criança:

"São os Balillas que, orgulhosos e valentes sob o tépido Sol da nascente Primavera, marcham disciplinados e obedientes às ordens bruscas dos seus oficiais; são os rapazes que aos vinte anos largarão a caneta e pegarão no mosquete para defender a Itália das insídias inimigas(…)"
Para além de tudo isto, é interessante observar a resistência anti-fascista preconizada pelo avô desta personagem, que esconde opositores ao regime numa espécie de câmara secreta no sótão…
Bem, pelo menos uma coisa é certa: Umberto Eco é fenomenal (e olhem que conheço muito pouco dele…)

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