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quinta-feira, junho 30, 2005

World Jump Treta

a mesa de cafe

Afinal é mesmo treta. Para quem ainda pensava que fosse possível (oxalá que fosse) alterar a orbita da terra com um, ou melhor, com 6 milhões de saltos, desengane-se, porque não passou de uma “brincadeira”. O famoso World Jump Day não passou disto, uma simples e criativa brincadeira. Passo a explicar:
Enviam, normalmente um amigo, para o mail, um link que nos reenvia para o site oficial do dito “evento”. Abre-se o site e depara-se com uma animação de um planeta que gira em torno do sol e que, com a “força” exercida pelos saltos de 6 milhões de pessoas, desvia a órbita uns centímetros para baixo. Supostamente, isto alteraria o clima, e atrasaria uns anos o aquecimento global. Só que, obviamente, é pura fantasia.
Veio um artigo na “Visão” que desmistifica toda a coisa. Em primeiro lugar, não existe nenhum cientista com o nome do criador dessa imaginativa teoria; em segundo, é impossível alterar o clima na Terra com este desvio orbital; em terceiro, a energia exercida pelos saltos (mesmo que os 6 milhões saltem) é menor que, por exemplo, a energia produzida por um simples tremor de terra, o que significa que já devíamos ter sofrido muitos desvios orbitais.
Mas mesmo que viessem dezenas de cientistas com teorias que contradigam a do físico aveirense, que foi a que explicou esta, não iriam muito longe, dado que o próprio criador do site admite que foi tudo uma brincadeira. Ainda me desagradou mais o facto de afinal não ser no dia dos meus anos. De qualquer forma, ninguém me vai impedir de aplicar a força dos meus 80 e muitos kg no solo terrestre, dia 20, às 11:39. Era só que mais faltava…

segunda-feira, junho 27, 2005

Prisão Perpétua, Pena de Morte, ou, simpesmente, nenhuma?

Esta é uma daquelas questões que nos dá que pensar, pois envolve muito mais do que a simples Justiça tradicional, por acumulação de anos de pena.
Na minha opinião, a prisão é algo que provoca profundas alterações nos condenados e, na maior parte dos casos, quando esta se prolonga por excessivo tempo, aniquila completamente qualquer futuro digno possível a quem dela acaba por sair.
Consequentemente, entendo-a como uma solução indicada para apenas alguns casos; digamos, a maior parte, mas não todos. Em relação a aqueles que cometem crimes e são presos durante alguns anos; os suficientes para se corrigirem, mas não tantos, que, de tão veementemente o fazerem, acabem por se “esborratar” completamente; deve ser aplicada a receita convencional. Já, por outro lado, em relação a aqueles que cometem crimes menores, não é aconselhável, quanto a mim, a mistura com os restantes presos, pois isso poderá ter como efeito contraproducente, não o “tratamento”, mas o agravar da tendência para o crime.
Finalmente, pois é esta a questão essencial, naqueles casos em que os crimes são de tal forma hediondos que a pena máxima (pelo menos no caso português) não é suficiente, surgem três soluções possíveis: aplicar, ainda, a pena máxima; aplicar a pena de Prisão Perpétua ou, ainda, aplicar a Pena de Morte.
Ora, na minha modesta opinião, e como já referi, há casos em que a prisão deixa de ser benéfica. Assim, quando se verificam crimes hediondos sou determinantemente contra a aplicação da Prisão Perpétua, pois considero-a inútil, tanto para a sociedade, como para o próprio preso. Já, por outro lado, a Pena de Morte, não me parece despropositada, pois há casos (poucos mas há, não o neguemos), em que as pessoas em causa não merecem simplesmente viver. Assim, nestes casos, o que é melhor, forçar a pessoa a sofrer, vivendo eternamente presa, sem qualquer perspectiva de um futuro melhor, ou, pelo contrário acabar com a sua vida, em relação à qual, na maior parte dos casos, esta já não tem o mínimo interesse. É necessário ser racional: que benefício traz à sociedade o facto de ter um criminoso hediondo preso eternamente? E a ele, será que lhe traz alguma vantagem? Na maior parte dos casos, a resposta é não!
Vejamos por exemplo o conhecido ditador Saddam Hussein, esse bom homem. Será que a sociedade lucra alguma coisa com o facto de este estar preso eternamente? E será que, por outro lado, este não merece (e merece-o mesmo) morrer?
Na minha opinião a Pena de Morte é, em casos excepcionais, a melhor solução!
Mas, no entanto, não deixo de a encarar de um ponto de vista utópico, pois esta pode ter efeitos muitíssimo nefastos; basta verificar o que se passa nos EUA em que alguns (poucos, mas acontece) são condenados à Pena capital, injustamente.
Ainda assim, entendo-a como a melhor solução. Só não sei se o mundo tem condições de a aplicar justamente. Essa é para mim, a grande questão!

Já agora, gostava de conhecer os pontos de vista dos restantes participantes deste Blog. :)

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a mesa de cafe

"Conquista pois sozinho o teu futuro,
Já que os celestes guias te hão deixado,
Sobre uma terra ignota abandonado,
Homem – proscrito rei – mendigo escuro!

Se não tens que esperar do Céu (tão puro,
Mas tão cruel!) e o coração magoado
Sentes já de ilusões desenganado;

Ergue-te, então na majestade estóica
Duma vontade solitária e altiva,
Num esforço supremo de alma heróica!

Faze um templo dos muros da cadeia,
Pretendo a imensidade eterna e viva
No círculo de luz da tua Idéia!"


ANTERO de Quental

*

Até Quinta!

sábado, junho 25, 2005

Por Zeus, Sócrates!

a mesa de cafe


Como já disse o Pedro n’ “A Ilha do Dia Antes”, a medida que Sócrates tomou, de reduzir o número de professores a exercer funções sindicais, mostrou que este Governo está, finalmente, a atacar uma fatia que se revelará essencial no bolo final. Toda a gente sabe como é que funcionam os lobbies neste país. Agradou-me ainda que a lista das colocações dos professores em concurso já tenha saído, duas semanas antes do prazo: mostra que o raciocínio primitivo do défice como único ponto para onde convergem todas as funções do Governo acabou. Por isso, para o ano, já 50% das escolas terão inglês, e um horário de funcionamento alargado até às 17h30, o que mostra que Sócrates não descurou totalmente as medidas de âmbito social a que se propôs. Penso ainda que Sócrates tem muita razão nas críticas que fez à atitude dos professores, principalmente no domínio das progressões automáticas. A atitude de Francisco Louçã revelou-se ainda, a meu ver, uma necessidade de oposição facil, visto que aquilo que Sócrates disse em relação à greve dos docentes e devida actuação, é incontornavelmente verdade.
Claro que, longe de conseguir atacar convenientemente o Primeiro-ministro, a bancada liderada pelo Dr. Marques Mendes (que poderia começar a trazer umas notas de casa, para acabar com aqueles intensos exercícios de incoerência) perdeu-se a criticar o que foi feito, de forma pouco justa ou mesmo racional, e pouco disse em relação ao que deveria ser feito (também porque ainda não tem, propriamente, provas de que não poderá ser feito – como os exames nacionais no 9ºano, por exemplo –).
Mas a pièce de résistance foi mesmo o caso das 17 secretárias de José Sócrates, polémica apontada pelo deputado da bancada laranja Luís Montenegro, um assunto que sem dúvida se reveste de uma importância extrema. Claro que nem passou pela cabeça deste ser que o Primeiro-ministro tivesse chefes de gabinete e adjuntos…

sexta-feira, junho 24, 2005

Afinal, eles andam mesmo aí...

a mesa de cafe

Acreditem ou não, é mesmo verdade. Eles andam aí. Na blogosfera é por todo o lado, mas nas ruas parece que são só mesmo uma meia dúzia que, dois dias depois, se transforma em meio milhar (daqui a umas duas semanas prevejo que seja metade da nação - não população, porque só quem nasceu em Portugal é que deve ter oportunidade de pertencer à causa)
Bem, mas voltando ao que estava a dizer, parece que acordaram para a vida… Voltaram as larvas tumulares. Mergulham nos posts e provocam, insultam, fazem trinta por uma linha. Um bom exemplo disso, é o post do Daniel Oliveira no “Barnabé”, acerca da manifestação da Frente Irracional, que está neste momento com 130 comentários. Trocas de insultos, misturadas com frustradas tentativas de justificar o injustificável, por meios que, honestamente, estão separados por uma linha ténue da incoerência…Se não fosse a manifesta superioridade intelectual e humorística das pessoas que lá escrevem regularmente, com uma grande dose de bom senso e outra redobrada de paciência, aquilo já tinha descambado há muito tempo. Há, ainda por cima, um líder que se diz nacionalista, mas que não consegue dispensar as palavras “raça”, “branco”, “caucasiano” e outras do género num único post. Finalmente, há ainda aqueles que acreditam piamente que alguém treme com medo de meia dúzia de perus tatuados e taxistas de dentes estragados.
Parece-me ainda que devem estar próximos do colapso mental, a avaliar pela poesia que escrevem aqui e acolá:

“Àqueles que não gostam
De nos ver de braço ao alto
Temos só de lhes dizer
Que vão ter de viver
Em eterno SOBRESSALTO”


Tive para dizer a este senhor que o seu lirismo chega a ser enternecedor, mas não o fiz “por uma questão de higiene” e, até, porque não consigo argumentar contra alguém que deve ter andado a ensaiar estas bostas durante mais de 30 anos e que aproveitou esta oportunidade para soltar a sua larga prisão de ventre.
Passou-me depois pela cabeça informá-lo que, certamente, conseguiria obter colaboração nalgumas claques de futebol, sítio em que o nível intelectual predominante é pouco superior ao dele (mas que, apesar de tudo, ainda o consegue ultrapassar). Mas lembrei-me (felizmente, a tempo) que isso provavelmente produziria efeito e não o fiz.
De qualquer modo, têm aqui a conferir… (os comentários) e aqui o link para o Barnabé, que me parece ser um blog simpático…e que por isso vai para a lista dos links deste blog….

Já agora...


A mim deu-me isto. Não sei o que quererá dizer...

You are a Social Liberal (61% permissive)

and and...

Economic Liberal (31% permissive)

You are best described as a:

Democrat You exhibit a very well-developed sense of Right and Wrong and believe in economic fairness.


Depois tentei que me desse o Darth Vader, mas...

You are a: Social Conservative (6% permissive)and and Economic Conservative (83% permissive).

You are best described as a:

Fascist You exhibit a very well-developed sense of Right and Wrong and believe in economic fairness.

P.S. Reparem na descrição de um Fascista...é a mesma.... :P

Gosto de saber...





You are a

Social Liberal
(75% permissive)


and an...

Economic Liberal
(11% permissive)


You are best described as a:
Socialist


You exhibit a very well-developed sense of Right and Wrong and believe in economic fairness.

Quarteto

a mesa de cafe

Ainda está para vir o dia em que entre na Quarteto (e também no Mayflower) e consiga aquilo que quero, na hora. Ou está sempre esgotado ou nunca tiveram. Seja o “Guia de Acesso” ou qualquer outro livro, a resposta é sempre a mesma: “Pode soletrar?”; “Pode encomendar…”; Posso encomendar? Mas para que é que me serve encomendar, se o quero ler já, ou se tenho exame daqui a uma semana?
Exceptuando, claro, o caso dos grandes best sellers. Esses há sempre, com posters e tudo o que for preciso, como se de uma bebida nova se tratasse.
É essa a vantagem das grandes superfícies comerciais…de chuteiras a Nietzsche, há de tudo…

Capítulo DOIS

Lembram-se do post acerca do Metro de Coimbra que provocou muita polémica neste blog?
Pois é... Parece que cada vez menos se tem em consideração o valor histórico dos edifícios. Desta vez trata-se da Casa de Almeida Garrett de cuja demolição tomei conhecimento hoje através do Diário de Notícias Online.

Ao longo de 150 anos, conseguiu resistir a vários projectos de demolição e a um quadro de abandono e negligência. Ironicamente, será num tempo em que a defesa do património está legalmente consagrada como um dever de todos que deverá, tudo o indica, desaparecer - contrariando os apelos para que fosse preservada e convertida em equipamento cultural, a casa de Almeida Garrett na Rua Saraiva de Carvalho, 68, a Campo de Ourique, em Lisboa, está à beira da demolição. Os sinais preparatórios, esses, são já evidentes aviso actualizado de emissão de alvará de construção, painel interditando a entrada no imóvel a pessoas estranhas à obra, painel identificando o empreiteiro, ruído associado a intervenções nos interiores.

Penso que aqui é inequívoco o atentado à memória daquele local, ainda por cima porque, não só os argumentos são dúbios, como também não se justifica esta demolição tendo em conta que o que se pretende construir naquele espaço é um prédio que, segundo o DN, aponta para cinco pisos acima da cota de soleira (os edifícios que compõem a mesma frente de rua não ultrapassam, em média, os três pisos).

quinta-feira, junho 23, 2005

Sentado à mesa de um café devasso...

a mesa de cafe

Sozinho, o Ritz vazio...Vazio não, uma mesa com três jovens com pouco mais de 25 anos.
Falavam da Universidade, de teatro, de cinema…até que ouço:
- Comprei “O Capital, de Marx”…
Mal ouvi o nome virei a cabeça instintivamente e fixei, com um olhar de misto, espanto e consternação a rapariga que tinha dito aquilo, que ficou…confusa.
Voltei-me como se nada tivesse acontecido:
“Mas também, não percebi! Comprei a edição em B.D. para entender…”

Não, nunca li Marx…

A propósito do "orgulho de ser branco"

Aconselho vivamente que leiam este texto!

quarta-feira, junho 22, 2005

"A negação do prazer é a negação da vida"

Proponho uma discussão acerca da relação entre as religiões (em geral) e o prazer, partindo deste texto do filósofo Friedrich Nietzsche:

Uma obrigação para com Deus: esta ideia foi porém o instrumento de tortura. Imaginou-se Deus como um contraste dos seus próprios instintos animais (do homem) e irresistíveis e deste modo transformou estes instintos em faltas para com Deus, hostilidade, rebelião contra o «Senhor», «Pai» e «Princípio do mundo», e colocando-se galantemente entre «Deus» e o «Diabo» negou a Natureza para afirmar o real, o vivo, o verdadeiro Deus, Deus santo, Deus justo, Deus castigador, Deus sobrenatural, suplício infinito, inferno, grandeza incomensurável do castigo e da falta. Há uma espécie de demência da vontade nesta crueldade psíquica. Esta vontade de se achar culpado e réprobo até ao infinito; esta vontade de ver-se castigado eternamente; esta vontade de tornar funesto o profundo sentimento de todas as coisas e de fechar a saída deste labirinto de ideias fixas; esta vontade de erigir um ideal, o ideal de «Deus santo, santo, santo», para dar-se melhor conta da própria indignidade absoluta... Oh, triste e louca besta humana!
A que imaginações contra natura, a que paroxismo de demência, a que a bestialidade de ideia se deixa arrastar, quando se lhe impede ser besta de acção!... Tudo isto é muito interessante, mas quando se olha para o fundo deste abismo, sentem-se vertigens de tristeza enervante. Não há dúvida de que isto é uma doença, a mais terrível que tem havido entre os homens e aquele cujos ouvidos sejam capazes de ouvir, nesta negra noite de tortura e de absurdo, o grito de amor, o grito de êxtase e de desejo, o grito de redenção por amor, será presa de horror invencível... Há tantas coisas no homem que infundem espanto! Foi por tanto tempo a terra um asilo de dementes!·


Friedrich Nietzsche, in 'A Genealogia da Moral'

terça-feira, junho 21, 2005

Só uma pequena nota...

Faz hoje 100 anos que nasceu Jean-Paul Sartre... O pai do existencialismo.

De olhos bem tapados

a mesa de cafe

Talvez devesse escrever isto com mais calma e ponderação, mas este assunto tinha-me passado ao lado e, como sabia que tinha de mais tarde ou mais cedo dizer alguma coisa sobre ele, decidi não adiar mais e fazer aqui uma síntese da reportagem que repetiu já por duas vezes sobre um assunto sórdido: “A Lei do véu” em França.
Ora, para alguém que pura e simplesmente não tem e não liga a religião, a atitude mais previsível seria a básica: “Acho muito bem, afinal ninguém é obrigado a suportar com a religião de ninguém…”. Só que a dita reportagem abriu-me um pouco os olhos para a falta de escrúpulos, e diria mesmo mais, de respeito pelas culturas e tradições de outros povos, neste caso por parte dos franceses em relação aos povos árabes e muçulmanos (Uma pequena nota: o Racismo – pelo menos o cultural – repugna-me, e é por isso que tantas vezes me refiro a ele). E não falo de católicos e de cristãos por esta simples razão: um crucifixo escondido atrás de uma camisola não chateia nada. Aliás, um crucifixo pequeno nem se consegue notar no meio das centenas de colares fashion que toda a boa adolescente de 14/15 anos (e mesmo até mais velha) tão pretensiosamente (yes, the magic word) gosta de usar. Este raciocínio poderá parecer um pouco…vazio. Mas, honestamente, não me parece que nenhum bom samaritano se sinta incomodado com esta Lei…Os colégios privados (“Écoles privées sous contrat”) em França são, segundo este site, maioritariamente religiosos, e adivinhem lá: qual será a religião que ocupa a maior fatia? Acertaram, é essa mesma! Pois parece-me que para cumprir rigorosamente a lei, muitos destes colégios ficarão vazios, proporcionando uma visão muito agradável e ainda menos ostensiva: funcionárias nuas! Porque a não ser que todas as devotas senhoras passem a adoptar a camisola de gola alta, uns jeans ou mesmo uma batinha azulada (hipótese que se adivinha pouco provável), terão de andar nuas na presença da inspecção, coisa que a meu ver parece-me que não agradará nada ao Senhor…Só que, curiosamente, parece-me que os secularistas ainda não se decidiram importar muito com isto. Aquilo que, pelos vistos, os incomoda muito, é o seu querido e prezado laicismo ameaçado por uma minoria de alminhas que tão inocente e devotamente vão de hijâb para a escola, com medo que algumas hormonas em ebulição lhes olhem para aquilo que guardam (ou melhor, que os seus pais e Alá guardam) para os seus futuros maridos, que darão certamente continuidade aos “preceitos da decência” nas gerações vindouras. Isto é aquilo que realmente perturba os franceses adeptos do secularismo e o Parlamento – que uma minoria étnica ponha em causa a separação entre Estado e Igreja que proclamam na rua, com cartazes de cartolina.
Só que aos olhos do mais leigo português (ainda por cima português – “Jean Pierre arrête, se não levas nos cornos”), eu não vejo que porra de atentado ou efeito é que possa produzir um ou dois trajes religiosos numa turma. Penso até que há duas leituras possíveis: ou são os árabes, muçulmanos e todos aqueles que vendem relógios e tapetes uns (pronto, mais umas) ingratos(as) em reivindicarem que determinada cultura se molde à sua cultura e práticas religiosas, ou são os franceses que, com patriotismos baratos e uma certa dose de mesquinhice (pela estreiteza de espírito), estão a atentar contra a liberdade religiosa de um povo que deverá ter liberdades e garantias iguais à do povo com berço em França. Ou então, aponto uma terceira hipótese, que é os efeitos que o lema “liberdade, igualdade, fraternidade”, que certamente só existe numa melodia, produz nas cabeças mais desorientadas. Ou seja: se há liberdade para os cidadãos (e se, efectivamente estas minorias são constituídas por cidadãos), não se deveria atentar contra a liberdade destes. Se deve haver igualdade, deverão, suponho, ser todos iguais e, como tal, agarrar no missal, no crucifixo, no Corão ou na Bíblia só para ir à igreja ou à mesquita. Surge ainda um tiro derradeiro, que vem agravar o conjunto antitético, e que é este: se se quer fraternidade (resta saber em relação a quem – Portugal, Reino Unido e Estados Unidos não deverá ser certamente), deverão andar felizes e contentes, proclamando a fraternidade. Só que, infelizmente, parece que nenhum destes três aspectos parece alguma vez ter sido conseguido pelos franceses, coisa que parece ameaçar tudo e todos os que pisem naquele país. A prova disso foi aquele director buçal que, à porta da escola, aquando da entrada da lei em vigor, mandava alunas de outras etnias destaparem as orelhas. Com muito medo, vergonha e humilhação, as pobres lá iam destapando a testa e as orelhas; “Assim até ouvirás melhor…”, diz o director, enquanto esboça um sorriso alarve para a equipa que o ajudava nesta tarefa, igualmente alarve. Honestamente, a reportagem impressionou-me – boas alunas que desistiram, no último ano, do secundário e que, segundo elas, nunca arranjaram problemas na escola e tiram boas notas, que se sentem postas de parte e esmagadas…esmagadas por um pomposo e áspero termo que dá pelo nome de secularismo…

domingo, junho 19, 2005

Nota

a mesa de cafe

Isto é chover no molhado, mas só mais um pequeno reparo: o Hino Nacional canta-se de mão no coração, não de braço direito erguido…Seus…seus…tudo o que já chamei!

sábado, junho 18, 2005

Mensagem

Estou siderado com o que acabei de ver. Estou assustado com o que acabei de ver. Estou indignado, tal como Jorge Sampaio. Estou irritado por ver que ainda existem pessoas destas. Expatriado devia ser o líder da Frente Nacional. Preso. Apedrejado. Porque é que eu não vivo em Lisboa, para agarrar num megafone e lhe berrar isto nos ouvidos?! Dizem que não são racistas e mandam pessoas honestas para a terra delas, meramente pela cor da pele? A comunicação social - seja ela qual for – mente quando diz que este grupo de RACISTAS é constituído por skinheads? NÃO! Não mente, é a pura verdade! O imbecil que falou com os jornalistas, que se diz líder do que quer que seja deu provas daquilo que é! Ainda bem! Ele próprio admitiu que era anti-democrata! Que não é adepto da democracia! Que a manifestação foi pedida por 3 elementos anónimos, no Governo Civil! Aquela manifestação foi uma manifestação de skins? FOI! FOI! As imagens provam-no! Vi cabeças rapadas com o braço direito erguido! Vi desdentados a berrarem com negros, a mandarem-nos para a terra deles! A terra deles é AQUI, e é mais DELES que VOSSA!

FASCISTAS, RACISTAS, XENÓFOBOS, MORALISTAS, CONSERVADORES, MORRAM! MORRAM! MORRAM! FILHOS DA P***A! PRENDAM O LÍDER DA FRENTE NACIONAL! PRENDAM-NO! TIREM DO PAÍS NÃO OS IMIGRANTES, MAS SIM A FRENTE RACISTA! PREFIRO VIVER NA COVA DA MOURA DO QUE NO MEIO DELES!

TENHO ORGULHO EM PORTUGAL...NAQUELE PORTUGAL QUE BERROU NESSA MANIFESTAÇÃO AOS VOSSOS OUVIDOS AQUILO QUE VOCÊS SÃO!

O Racismo e a Xenofobia são a pior coisa do mundo. Não. O fascismo e o neonazismo é que são.


Não. A Frente Nacional é que é.

Manifestação...

Proponho que leiam o artigo do público.pt acerca da manifestação de hoje. De qualquer forma, destaco algumas frases do dirigente da Frente Nacional:

«protesto contra a violência grupal que tem assolado o país»
(até agora, tudo bem)

«há portugueses que estão despertos para o que se está a passar e estão dispostos a tomar medidas»
(o que se está a passar?)

«O nosso país está tomado a saque e os brancos cada vez mais são um alvo dos ataques das outras minorias (...) esta não é uma manifestação racista, mas apenas uma forma de demonstrar "orgulho na raça e no povo português". Somos portugueses há 850 anos. Eles compraram o Bilhete de Identidade no Martim Moniz e no Rossio há cerca de 30»
(um pouco contraditório, não?)

Além disto, podemos ainda ler algumas frases da manifestação:

«Isto é nosso»
«Sampaio na Cova da Moura os portugueses no Martim Moniz»
«Travar a imigração e expatriar os clandestinos»
«Imigrantes igual a crime»


(Estas mentalidades não chocam?)

Nacionalismo my ass

a mesa de cafe

Nutro uma enorme simpatia por esse partido de ideologias nada mascaradas, distorcidas e encobertas que é o Partido Nacional Renovador, a Frente Nacional ou a porra que lhe queiram chamar. Ponto primeiro: é um partido de extrema-direita (O PCP não tem vergonha de se assumir como um partido de extrema-esquerda, logo…); ponto segundo: é um partido de ideologias fascistas, racistas, xenófobas, moralistas (sim, as “palavras mágicas” que numa atitude de vitimização estupidificante rejeitam, mas que descrevem toda a sua génese e objectivos), repressivas e opressivas que mascaram com uma bonita e apelativa camada de nacionalismo; ponto terceiro: existe uma enorme contradição entre o suposto manifesto (parece que nem um têm – mas que merda de movimento político vem a ser este?) e a justiça: seja ela de que tipo for. Aliás, consegui um notável feito: sugiro que procurem, aqui, encontrar (pelo menos uma vez que seja) a palavra justiça, em todo o documento que serve como “manifesto” do dito movimento; ou melhor, desistam já da ideia, porque é um esforço inglório. Não a encontrarão. Os nacionalistas esqueceram-se (ou desconhecem, parece-me) dos fins do Estado Social de Direito, esqueceram o que é a justiça (quanto mais a social), desconhecem tudo o que possa corresponder a uma igualdade de direitos e oportunidades que, à partida, não deveria ser esquecida por um partido que pretende chegar ao poder pela via democrática (nota: a frente nacional (FN) surge como um prolongamento ideológico do Partido Nacional Renovador (PNR)). Assim, são simplesmente a incoerência no seu esplendor. “Renunciam à violência”, renunciam à globalização, renunciam ao consumismo, renunciam a isto, renunciam aquilo…Que nojo! N-o-j-o, é o que sinto por esta gente, hipócrita, que vem com falsos moralismos quando atentam contra a moral constantemente. Mas, a meu ver, os cúmulos de incoerência fragmentam-se por todo o texto: “Defendemos uma Terceira Via pro-europeia, de aproximação dos povos irmãos, por uma Europa unida face aos perigos que a atormentam”/ “Rejeição da Constituição Europeia e da entrada da Turquia na U.E.”. Alguém entende isto? Alguém entende a vacuidade de conteúdo lógico disto? É suposto entender? Ou é suposto vomitar, simplesmente, em cima deste diarreia ideológica reprimida durante anos? Consulto, agora, a secção de fotografias do site. O que são estas caras distorcidas? O que é fazer-se política ou lutar-se por objectivos sem dar a cara? O que são estas cabeças rapadas, em encontros em Milão, e logo em Itália, país em que ideologias políticas se fundem em claques de futebol? O que são todos estes skins que circulam no meio das ruas, de caras igualmente distorcidas? O que é que, visto serem um movimento de ideologias irrepreensíveis têm, efectivamente, a esconder? Com que lata é que se demarcam do racismo salazarista e vêem nos emigrantes a causa da criminalidade? Que definição de racismo é esta? Porque raio têm de colar cartazes a meio da noite? Repito a pergunta: O QUE É QUE TÊM A ESCONDER, seus FASCISTAS? É este o nome que têm a esconder? Temem que vos apelidem assim? Alarmismos é sim o que pretendem, para levarem a vossa avante. Esse “STOP Imigração” é a nojenta solução que encontram para a criminalidade? A carapaça que os senhores pretendem criar em Portugal é para obtermos mais uns anos-luz de atraso cultural que o vosso “Professor Doutor António de Oliveira Salazar” tão patrioticamente quis obter (e que conseguiu)? Esperam que algum ser humano com dois dedos de testa acredite, depois de constatar o teor e a violência dos vossos cartazes, numa tentativa de desmentirem a comunicação social (aliás, em três), que constituem as “notícias” empolgantes do vosso miserável site? Em que país é que vocês vivem? Aliás, em que mundo? Mas estão mesmo convencidos que o país inteiro é constituído por leigos como os que punham a trabalhar na PIDE/DGS?

Matem-se! Somente isto! Matem-se! Ou então não se escondam, apareçam! Apareçam para proclamarem os vossos discursos à porta das escolas, e justifiquem o apedrejamento com os interesses materialistas das juventudes partidárias…ou talvez até com o “acomodamento” e “apego ao politicamente correcto”!
Partidos Democratas…Partidos que prezam e valorizam a Democracia…Sejam de esquerda ou de direita…é urgente a rejeição e o protesto contra esta existência…ou pelo menos, é urgente que se forcem estas pessoas a assumirem aquilo que são (ou que nunca deixaram de ser)!

Por tudo isto, boicotem a manifestação que têm preparada para hoje, dia 18 de Junho. Mostrem que não somos estúpidos, e que a ferida em que tocaram não é causada pela faca que apregoam tê-la causado! Que meter os imigrantes no mesmo saco é pior que primitivo!

Portugal aprendeu a lição…e não a esquece…

Poema dum Funcionário Cansado

Se calhar estou a insistir um pouco na poesia, mas hoje, nas minhas deambulações por António Ramos Rosa descobri um poema que achei inevitável por no blog:

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.

António Ramos Rosa

quinta-feira, junho 16, 2005

A Greve

É incrível como o sindicato dos professores pôde marcar uma greve nacional para os dias que coincidem com os exames mais concorridos. Não é só a facto de coincidir com os exames, fá-lo logo de modo a prejudicar o maior número de pessoas.
Para além disso, vejamos… estou enganado ou os professores são justamente, dos funcionários públicos, aqueles que, salvo casos pontuais, trabalham menos. A verdade é que, ao contrário dos restantes funcionários públicos, os professores, para além de terem, já a partida, uma carga horária reduzida, vão perdendo horas à medida que vão acumulando anos de trabalho. Este tema é uma espécie de tabu entre os professores, pois é encarado como uma espécie de diminuição da importância dos professores, relativamente aos restantes funcionários públicos. Na minha opinião, um professor não se deve sentir diminuído por trabalhar menos, deve antes agradecer.
Agora, vejamos as medidas contra as quais estes protestam: O fim das promoções automáticas, passando a ser substituídas por promoções baseadas no mérito; e o alargamento da idade da reforma.
Ora, quanto à primeira, parece-me certíssimo, de modo a privilegiar os que realmente são bons professores (todos nos sabemos de muitos “maus” professores), já a segunda, parece-me lógica pela situação do país e pelo aumento da esperança média de vida; para além disso, um professor em fim de carreira tem já muito poucas horas de aulas, pelo que tem muito tempo livre para gastar.
Resumindo, então, quem se manifestará amanha são algumas destas pessoas que se sentem indignadíssimas pela situação que se lhes depara e não se importam minimamente em prejudicar milhares de alunos que andam há um ano a preparar-se para estes exames. Parece-vos bem? A mim não…

quarta-feira, junho 15, 2005

O operário em construção

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário
em construção
Compreender
por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário
em construção.
Olhou
em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário
em construção
E
olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu
em vão
Pois
além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício
em construção
Que
sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício
em construção
Seu
trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Vinicius de Moraes

Mais um café rápido...

a mesa de cafe

Porque o Cesário, o Antero, o Vergílio e outros mafiosos exigem a minha presença hoje, aqui vai mais um post rápido, para continuar com "a mesa de café" light, consequência do árduo estudo para os exames, estigma que ameaça perdurar até dia 30. Espero que possa cicatrizar o blog deste vazio a partir daí, e penso que os outros blogueiros subscrevem...
Bem, isto só para dizer que descobri há umas semanas uma música fenomenal, com Black Eyed Peas e Jack Johnson, que diz tintim por tintim o que penso acerca de muitos músicos da actualidade. Ok, vocês vão logo dizer que os Black Eyed Peas e o Jack Johnson querem o mesmo, mas isso é discutível, e a letra não deixa de ser muito boa (conteúdo, conteúdo!) por causa disso. Vá, não sejam preguiçosos e tentem ler até ao fim...
Bem, aqui vai:


Artista: Black Eyed Peas
Album: Monkey Business
Canción: Gone going gone (featuring jack johnson)

Johnny wanna be a big star
Get on stage and play the guitar
Make a little money, buy a fancy car
Big old house and an alligator
Just to match with them alligator shoes
He´s a rich man so he´s no longer singing the blues
He´s singing songs about material things
And platinum rings and watches that go bling
But, diamonds don´t bling in the dark
He a star now, but he ain´t singing from the heart
Sooner or later he´s just gonna fall apart
Coz his fans can´t relate to his new found art
He ain´t doing what he did from the start
And that´s ??
He decided to live his life shallow
Passion is love for material

[Chorus]
And its gone... gone... going...
Gone... everything gone... give a damn...
Gone be the birds when they don´t want to sing...
Gone people... up awkward with their things... gone.

You see yourself in the mirror
And you feel safe coz it looks familiar
But you afraid to open up your soul
Coz you don´t really know, don´t really know
Who is, the person that´s deep within
Coz you are content with just being the na¯ve brown man
And you fail to see that its trivial
Insignificant, you addicted to material
I´ve seen your kind before
Your the type that thinks souls is sold in a store
Packaged up with inscent sticks
With them vegetarian meals
To you that´s righteous
You´re fiction like books
You need to go out to life and look
Coz... what happens when they take your material
You already sold your soul and its...

[Chorus]

You say that time is money and money is time
So you got mind in your money and your money on your mind
But what about... that crime that you did to get paid
And what about... that bid, you can´t take it to your brain
Why you on about those shoes you´ll wear today
They´ll do no good on the bridges you´ve walked along the way

All that money that you got gonna be gone
That gear that you rock gonna be gone
The house up on the hill gonna be gone
The gold -- on your grill gonna be gone
The ice on your wrist gonna be gone
That nice little Miss gonna be gone
That whip that you roll gonna be gone
And what´s worst is your soul will be gone

[Chorus]


terça-feira, junho 14, 2005

INOCENTE (?)


Michael Jackson considerado inocente de todos os crimes de que era acusado

Não sei porquê mas mantenho uma certa desconfiança em relação ao resultado deste julgamento...

Adeus

a mesa de cafe

Quem melhor que ele próprio para se despedir...de ele próprio?

ADEUS

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

Este é um dos (e sou honesto - provavelmente o único) poemas que me marcaram da poesia de Eugénio de Andrade (daqueles que demos nas aulas, e que são certamente insignificantes para podermos afirmar que o conhecemos).
Poderia escrever mais, mas...
A comunicação social já gastou as palavras.

Adeus.


segunda-feira, junho 13, 2005


Assinala-se hoje, também, a morte de Eugénio de Andrade, poeta pelo qual tenho um especial agrado...
Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém - mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.
Eugénio de Andrade


Não posso deixar passar este dia sem referir o falecimento desta figura fulcral na história, não só do comunismo português, como na história da nossa democracia.

É bom que jamais percam a necessidade e o gosto de escrever, de pintar, de tocar um instrumento, de mesmo em silêncio, sem assim se chamarem, continuarem a ser artistas.
Álvaro Cunhal

domingo, junho 12, 2005

Um café rápido...

Já repararam como é curiosa a forma como se abrem os telejornais neste país? Passavam 7 minutos das 8h00. A TVI batia na tecla da morte de Vasco Gonçalves (e a meu ver, com razão – pelo menos uma vez na vida. Não sou ninguém para elevar ou diminuir a importância do companheiro Vasco- Go Lurdinhas!!). A SIC alarmou-nos com os números de acidentes – tudo bem, já é um clássico. A RTP1, como serviço público (supostamente, supostamente...), abriu com o tratado. Ouvimos Mário Soares. E ouvimos muito bem. Também devem ter combinado todos rodar as notícias para não passarem todas ao mesmo tempo – embora a reportagem da TVI sobre Vasco Gonçalves tenha ocupado as duas primeiras da SIC.
Pronto, OK...Who cares?

quarta-feira, junho 08, 2005

Infelizmente...

a mesa de cafe

E como já repararam, a frequência com que posto aqui diminuiu bastante...O que se passa é que impera o estudo para os exames, mas mesmo assim vou tentar arranjar um tempo para escrever aqui alguma coisa de vez em quando.
De qualquer forma, dia 30 I'll be back :D...

terça-feira, junho 07, 2005

Emptiness...

a mesa de cafe

…retomando a conversa do intervalo de hoje de manhã: acabaram-se as aulas, pelo menos as de português; no more práticas absentistas, no more coertar (coertar, não coarctar), no more ingressar no ensino superior, no more sobejamente, no more policromático, no more dilacerado, no more informatizar, no more verbalizar, no more coadunar, no more exacerbadamente, no more colmatar, no more clarividência, no more com efeito…no more…

...no more aulas de português…

sábado, junho 04, 2005

Alberto João Jardim


"Há aqui uns bastardos na comunicação social do continente, e eu digo bastardos para não ter de lhes chamar filhos da pà, mas há uns bastardos na comunicação social do Continente que aproveitaram este ensejo para desabafar o ódio que têm sobre a minha pessoa. Não lhes basta mentir sobre a Madeira e a minha pessoa"

"Como são bastardos e têm o complexo de bastardos, à mínima coisa essa comunicação social do continente, alguns dos que estão lá, desabafa isso sobre mim"

Um excelente mail que recebi...

Definições à Volta do Défice
Nos tempos que correm é possível distinguir as cores políticas de meio mundo através da análise das suas posições sobre o problema do défice. É assim:

Socialistas Crentes: Pensam que a culpa do défice é de Barroso e Santana e acreditam que Sócrates só aumentou os impostos porque não esperava um défice tão grande.

Socialistas com QI>50: Dizem que a culpa é de Barroso e Santana e sabem que Sócrates só arranjou um défice tão grande para poder aumentar os impostos.

Santanistas: Dizem que Santana não teve tempo para ter culpa do défice e fingem que perceberam as contas de Constâncio. Têm os quatro a mesma opinião.

Barrosistas: Dizem que a culpa é de Guterres e acham que se não fosse a Manuela, o défice seria de 16,92%. Têm pena de não terem feito uma encenação tão gira há 3 anos.

Guterristas: Dizem que a culpa foi de Cavaco e fazem de conta que já sabiam quanto era o défice, embora não saibam muito bem para que é que serve. Acreditam que Constâncio é um génio matemático.

Comunistas Clássicos: Dizem que a culpa é das políticas de direita e pensam que os ricos podem pagar a crise. Ainda não perceberam o que é que o défice tem a ver com impostos. Acham que Constâncio é um perigoso neo-liberal.

CêDêEsses: Dizem que a culpa é das políticas de esquerda e pensam que os ricos devem ser subsidiados por causa da crise. Constâncio merece-lhes todo o respeito, até porque tem um grande BMW e mora na linha.

Bloquistas: Acham que a culpa é da direita e acreditam que a solução para o défice está no aumento da despesa pública. Pensam que Fernando Rosas percebe dessas coisas da economia e até seria um excelente Governador do Banco de Portugal.

Nacionalistas: Acham que a culpa do défice é da Europa e acreditam que isto só vai lá com um Salazar.

Benfiquistas: Só hoje é que ouviram falar no défice e ignoram tudo o que aconteceu na semana passada. Esse Constâncio, é o gajo que vem substituir o Trapatoni?

Nuno Cardoso: A culpa do défice é evidentemente de Rui Rio.

sexta-feira, junho 03, 2005

A Intérprete

a mesa de cafe

Surpreende-me a forma como Nicole Kidman fica brutal em todos os papéis que faz; ou melhor, em quase todos, visto que demorei algum tempo a descobrir que personagem é que interpretava em “As Horas”, visto estar completamente deslocada do seu padrão de mulher loira, com nível, e bem vestida. Bem, mas a verdade é que faz um papel de aplaudir em “A Intérprete”, tendo a personagem “Sílvia Broome” um conjunto de tiques (até no sotaque) que dão credibilidade à história que está por detrás desta.
“A Intérprete” é um filme que introduz um tema que, como diz o Zé, não pode ser comparado a nenhum outro…ou se calhar até pode, porque como diz Luís Miguel Oliveira n’ “O Público”, este filme “limita-se a tentar apanhar um pouco do estilo das ficções "liberais" dos anos 70” (whatever that means). Bem, mas se eu ou qualquer outra pessoa se guiasse pelo que aquela panóplia de intelectualóides diz, estávamos e estaríamos bem tramados, porque raros são os filmes que conseguem reunir um consenso de, pelo menos, algumas estrelas, por parte de todos estes críticos. Mas, como estava a dizer, concordo com o Zé, porque realmente o filme destaca-se de uma temática em que o possamos inserir; se me perguntarem em qual é que inseriria “O Dia Depois de Amanhã”, diria provavelmente que o filme trata uma catástrofe natural que advém do aquecimento global (and all that creepy stuff). Se me perguntassem o mesmo do “Star Wars” ou do “Senhor dos Anéis”, diria (quer dizer, não diria, é o género que está, pelos vistos, definido para ambos) que são filmes de ficção científica. Se me perguntarem a temática de “A Intérprete”, diria um vago/vácuo: “é um filme que trata um conflito político num país qualquer da África do Sul” (se bem que, pelos vistos, inventado). E calar-me-ia. Não, não me calaria; acrescentaria que o senhor Luís Miguel Oliveira diz que o filme tenta apanhar o estilo das ficções “liberais” dos anos 70. E aí ficaria a pessoa com que estou a falar a olhar para mim com cara de quem pensa: “nem tu sabes o que estás a dizer”. E curiosamente teria razão.
A meu ver, este filme reúne todas as condições para arrecadar alguns Óscares na cerimónia de 2005, e isto, claro, se for nomeado (é difícil que não seja). Sean Penn faz um bom papel (melhor actor secundário?). Nicole Kidman faz um estrondoso, mas dificilmente chega a melhor actriz…Não poderia haver melhor cenário para o filme que o interior do edifício das Nações Unidas (a certa altura sentimo-nos quase sentados na Bancada de Portugal a assistir ao assassinato de Zuwane _o dito presidente_). E, claro, as panorâmicas de Nova Iorque abonam, de igual modo, muito a seu favor :D…

quinta-feira, junho 02, 2005

Ciência no seu melhor?

E se um spray pudesse aumentar a confiança que temos nos outros?

E se lhe dissessem que é possível aumentar a confiança que as outras pessoas têm em si, bastando para isso destapar uma garrafinha e soltar uma espécie de perfume da confiança? Uma equipa da Universidade de Zurique, na Suíça, e da Universidade de Claremont, na Califórnia, desenvolveu um spray nasal à base de ocitocina, uma molécula com funções de hormona e de neuromodulador, que se propõe fazer isso mesmo.

Tentativas de criar um "spray para aumentar a confiança" ou para manipular outras pessoas?

Acho bem que a ciência procure cada vez mais, descobrir explicações para a complexidade humana. Acho bem que se tente (porque duvido que se consiga) encontrar a fórmula científica de algo tão pouco objectivo como os sentimentos... Porque é a curiosidade que faz evoluir o Homem. Contudo, não percebo como é possível estarem a criar um "perfume" para aumentar a confiança que temos nos outros, porque isso, mal utilizado pode não ser muito simpático, além de ser de uma ética muito discutível... Confiança, como qualquer sentimento/atitude para com outras pessoas, ou se tem ou não se tem... Não acho que possa ser provocada, mas se for não estou NADA de acordo...

Já pensaram nas manipulações que se poderiam fazer, a nível pessoal e mesmo político? Seria atentar contra a opinião de cada um, contra a sua originalidade, fazendo agir as pessoas todas no mesmo sentido... Espero sinceramente que a eficácia desta descoberta esteja no domínio do hipotético e que daí não passe e, mesmo que passe, que nunca seja utilizada...

A Mesa de Café

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a mesa de café Blogger