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Tradições...

a mesa de cafe

Mais uma vez Coimbra entrega-se à tradição académica. Mais uma vez Coimbra é palco de bebedeiras e noitadas que atingem uns bons 75% da população universitária. Mais uma vez assistimos ao fim da praxe, aos convívios, às serenatas, ao cortejo e ao acontecimento que remata todas estas práticas: “As Noites do Parque”, festival em que se bebe mais cerveja do que na Oktoberfest, que era dantes celebrado no Parque da Cidade e que mudou mais recentemente para o espaço a que se chama “Quemódromo”. É engraçado ver como todos os jovens (pronto, quase todos) de todas as idades e ideologias, padrões e escalões sociais, estudantes ou não estudantes, correm ao recinto, seja simplesmente para ver um artista conhecido (que jamais passaria em Coimbra, fora deste acontecimento), para beberem, ou para ficar até tarde nas tendas de música electrónica. Todos com a mesma vontade de ir (e de ficar), todos (pronto, uma boa parte) imensamente orgulhosos de pertencerem a uma cidade que tem tradições académicas que remontam a séculos de existência…enfim…Coimbra adquire um sentimento quase que unificado, (porém volto, a frisar, só entre os mais jovens), sentimento esse que se esgota quando a semana acaba, e se volta à rotina, deixando de haver desculpas para ficar até tarde em dias de semana (ou pelo menos em que não se evita um certo peso na consciência de o fazer) …mas que porém renasce com a proximidade da seguinte…
Alegra-me a perspectiva de a curto prazo poder fazer parte deste universo estudantil, de poder levar uma vida que até agora não tive, de sentir que estou a estudar num curso que escolhi, em que se acabam as disciplinas que nada me dizem, de conhecer tanta, mas tanta gente nova…
Em conversa com a Mariana, pude constatar que esta se declara totalmente anti-praxe; eu entendo-a perfeitamente, aliás, partilho muitos dos pontos de vista dela acerca deste assunto…porém, não posso deixar de esclarecer o que penso:
Eu estou perfeitamente ciente daquilo em que a praxe se transformou – num mero exercício de humilhações por parte dos doutores, que se transmite e que assegura a sua continuidade, exactamente por essa tendência vingativa, natural no ser humano. No entanto, continuo a achar que este é o melhor meio de integração no meio académico, em que pelo facto de nos depararmos com situações caricatas aprendemos a rever as nossas atitudes; é a melhor prova que podemos dar da nossa capacidade de lidar com as mais diversas situações que nos caem em cima, sem aviso ou tempo de preparação. A meu ver, a praxe deve ser encarada com passividade…é certo que podemos não gostar daquilo que somos obrigados a fazer, mas se todos os obstáculos que a vida me reservar forem medir as Escadas Monumentais com um palito, estou certo que serei uma pessoa de sorte; por outro lado, compreendo perfeitamente que esta seja capaz de fazer o terror de pessoas mais reservadas ou sociofóbicas (ou seja, o género de pessoa que morre de medo que alguém a chame aos berros num centro comercial, e que faça questão que todos os transeuntes oiçam a conversa de circunstancia que insiste em ter), mas penso que isso até é um bom teste à própria pessoa…Só sou completamente contra uma coisa: que as pessoas que se declarem como anti-praxe sejam humilhadas (entenda-se, ainda mais humilhadas), e vistas como atrasados mentais por parte de um burgesso que faz Engenharia de Minas há 9 anos.
Em relação ao traje, considero que o seu fim inicial era mais que legítimo, ou seja, a tentativa de acabar com a diferenciação de estudantes pelo escalão a que pertencem; hoje em dia não passa de um mero capricho/ ornamento, que todo o estudante que ter para se juntar ao rebanho (e que admito, eu vou querer ter/ pertencer). Só isso. Ou talvez porque uma serenata sem uma grande mancha negra não seria o mesmo. Ou pronto, porque também sem ele não se poderiam distinguir as “Noites do Parque” de uma Festa Techno manhosa em Fornos de Algodres.
É assim, Coimbra; uma cidade de tradições _gastas, certamente_ mas que nem por isso deixam de ser tradições. E lá no fundo, sejamos honestos: a nossa passagem pela universidade seria um vazio enorme sem elas.

se me permites vou comentar este teu post, já que é um assunto que me interessa particularmente.fossem todos os adeptos da praxe (chamemos-lhe assim) tão lúcidos e sensatos como tu e estávamos bem melhor.contudo há alguns pontos que gostaria de focar para termos a perspectiva da tal coimbra que escapa aos "quase todos" que mencionas no teu texto.
vou abordar alguns tópicos um bocado ao de leve; serão depois desenvolvidos por todos nesta discussão.
seria tão mais salutar ver tamanha mobilização como a que mencionas em relação a outras questões que nos tocam a todos enquanto estudantes e, porque se trata de um aspecto indissociável, em articulação com a sociedade na qual nos inserimos e que muitas vezes nas lutas estudantis esquecemos, numa atitude algo egoísta e "corporativa", mas que tem interesses fortes em assim permancer no seio do movimento estudantil de contestação.não critico os milhares de estudantes que se juntam para beber copos;têm todo o direto.critico; mais que isso, entristece-me que não haja o tal confluir saudável de heterogeneidade de que falas em relação a outros tópicos, a meu ver mais importantes que o festejar do que quer que seja.por isso, neste caso concreto, nesta queima concreta a minha posição é ainda mais reticente.face, nomeadamente, aos acontecimentos de 20 de outubro e a tudo o que, desde aí e já antes se passara, a mobilização dos estudantes deveria ser no sentido de um boicote aos festejos.o contrário só alimenta o argumento falacioso e a imagem redutora e simplista do estudante bebedola e alienado por parte da tal sociedade civil não articulada com os estudantes e as suas causas.retira-nos, queiramos ou não, alguma legitimidade para a tal contestação, principalmente aos olhos dessas pessoas que, de fora, põem os estudantes todos no mesmo saco.esqucem-se que, salvo raras excepções, os que estiveram nos pólos a levar porrada da polícia, não são os mesmos que passam esta semana num excesso que ultrapassa a tal vertente salutar do convívio, a meu ver.
quanto à praxe em si mesma, penso que o meu testemunho é proveitoso e esclarecedor.no primeiro ano não existia praxe no meu curso. não deixei de conhecer pessoas novas, não deixei de beber copos, não deixei de me sentir totalmente integrado.será indisociável este espirito salutar de integração da vertente hierárquico-punitiva da praxe?será necessária esta vertente para o tal processo de acolhimento dos novos estudantes?
a questão não se põe do ponto de vista de medir ou pesar o obstáculo que a praxe nos propõe.é óbvio que não custa assim tanto fazer umas declarações a umas "doutouras" (termos por si só nojento, mas que se reveste de um tão maior absurdo neste contexto praxista), medir as monumentais com um palito, o que quer que seja.não é isso que está em questão sequer.é o principio de superioridade (de uns e consequente inferioridade de outros)que a praxe incute, a obrigação de ultrapassar este ou aquele obstáculo para poder aceder à tal integração, que na minha mente ingénua, não deve ser emcarado como um prémio para quem ultrapassou com sucesso esta ou aquela prova, mas algo tido como adquirido à partida.
quanto à forma como poderei ser visto por quem quer que seja , é algo que não me incomoda minimamente; é óbvio que estou inserido num contexto predominantemente anti-praxe; conheço amigos que são os únicos anti-praxe em cursos de grande tradição conservadora/ praxista.aí, sei-o, é uma experiência bem mais dificil de enfrentar; por isso se calhar há tantas pessoas a ceder aos seus principios e a alinhar no circo da praxe."até nem custa nada".
quanto ao traje, penso que dizes tudo.de vestimenta quotidiana e igualitária, passou a servir a instrumentalização da diferenciação gritante de classe e a elitização progressiva; passou a ser um fato de gala pago a peso de ouro para ser usado pouco mais que uma ou duas semanas por ano.
por agora penso que é tudo.depois desenvolverei mais estes tópicos que aqui mencioneie, nomeadamente, talvez a questão mais importante; o espirito e as ideias que a praxe incute e veicula.
só um pequeno preciosismo porventura: ninguém tem de se declarar anti-praxe; afirmar-se como anti-praxe é, em si mesmo, uma terminologia praxista.como tal, para quem como eu, que não reconhece legitimidade nem razão de ser à praxe esse acto é algo desadequado (o que não implica que não seja contra a praxe e, como tal, se quisermos, anti-praxe).

um abraço

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