Eu não tenho nada de pessoal contra Manuel Alegre. Não concordei com a sua candidatura – achei, na altura, que Soares estaria em muito melhores condições de derrotar Cavaco – afinal, o grande objectivo da esquerda (pelo menos da pragmática - na qual me incluo) e acho, hoje, que teria sido perfeitamente possível eleger um presidente de esquerda como Soares que, certamente, não embarcaria no
neoliberalismo socrateniano a que temos assistido. Porque Soares não embarcaria, e disso estou certo.
No entanto, choca-me que um movimento da envergadura do supracitado continue a ver na figura de Manuel Alegre qualquer tipo de orientação/ inspiração. Decorridos quase 6 meses das eleições Presidenciais, o seu discurso continua a ser de uma inconsequência e desadequação assustadoras. Novamente “a vitória da cidadania”; novamente “o triunfo dos cidadãos”; novamente o analgésico com que tenta atenuar a sua fractura com o PS
aparelhista. Alegre que siga em frente, porque o seu movimento já seguiu. Apesar de não ter visto no debate de ontem (por não ter assistido até ao fim, provavelmente) uma
vitória dos cidadãos (à excepção de um senhor embriagado que, em tom manifestamente exaltado, se manifestava contra tudo, e contra todos – até mesmo contra a Universidade, vá-se lá saber porquê (apesar dos seus raciocínios não serem totalmente errados) – esse sim, saiu vencedor (de um tímido pedido de Faria Costa para que concluísse e desse a palavra a outro
cidadão)), notei um desejo generalizado da população em participar em mais iniciativas do mesmo género, o que mostra que existem condições para superar o marasmo. Se, por um lado, os ditos “diálogos” do M!C (pelo menos o que assisti ontem) pecam pela falta de sentido de oportunidade e preparação dos temas que caracterizaram alguns dos seus intervenientes (não me queiram convencer que algumas reflexões foram mais do que retórica e
chavão - ex: “mais político, menos económico”); por outro, é importante realçar e congratular o esforço de aproximação entre eleitores e eleitos que caracteriza o movimento. E preservá-lo, visto que, de dia para dia, assistimos ao fenómeno contrário – tão caro às camadas mais reaccionárias da nossa sociedade...