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M!C ou M?C?

Eu não tenho nada de pessoal contra Manuel Alegre. Não concordei com a sua candidatura – achei, na altura, que Soares estaria em muito melhores condições de derrotar Cavaco – afinal, o grande objectivo da esquerda (pelo menos da pragmática - na qual me incluo) e acho, hoje, que teria sido perfeitamente possível eleger um presidente de esquerda como Soares que, certamente, não embarcaria no neoliberalismo socrateniano a que temos assistido. Porque Soares não embarcaria, e disso estou certo.
No entanto, choca-me que um movimento da envergadura do supracitado continue a ver na figura de Manuel Alegre qualquer tipo de orientação/ inspiração. Decorridos quase 6 meses das eleições Presidenciais, o seu discurso continua a ser de uma inconsequência e desadequação assustadoras. Novamente “a vitória da cidadania”; novamente “o triunfo dos cidadãos”; novamente o analgésico com que tenta atenuar a sua fractura com o PS aparelhista. Alegre que siga em frente, porque o seu movimento já seguiu. Apesar de não ter visto no debate de ontem (por não ter assistido até ao fim, provavelmente) uma vitória dos cidadãos (à excepção de um senhor embriagado que, em tom manifestamente exaltado, se manifestava contra tudo, e contra todos – até mesmo contra a Universidade, vá-se lá saber porquê (apesar dos seus raciocínios não serem totalmente errados) – esse sim, saiu vencedor (de um tímido pedido de Faria Costa para que concluísse e desse a palavra a outro cidadão)), notei um desejo generalizado da população em participar em mais iniciativas do mesmo género, o que mostra que existem condições para superar o marasmo. Se, por um lado, os ditos “diálogos” do M!C (pelo menos o que assisti ontem) pecam pela falta de sentido de oportunidade e preparação dos temas que caracterizaram alguns dos seus intervenientes (não me queiram convencer que algumas reflexões foram mais do que retórica e chavão - ex: “mais político, menos económico”); por outro, é importante realçar e congratular o esforço de aproximação entre eleitores e eleitos que caracteriza o movimento. E preservá-lo, visto que, de dia para dia, assistimos ao fenómeno contrário – tão caro às camadas mais reaccionárias da nossa sociedade...

António,

"(...) que teria sido perfeitamente possível eleger um presidente de esquerda como Soares que, certamente, não embarcaria no neoliberalismo socrateniano a que temos assistido. Porque Soares não embarcaria, e disso estou certo."

Aqui discordo contingo. Porque não se esperaria de Alegre? Aliás, a imagem de Alegre (embora, inegavelmente, menos popular que a de Soares) era respeitada pelos portugueses. Constituia um bom candidato do espaço de Esquerda e que inegavelmente representa os seus valores e ideias essenciais e permitia (mais que Soares?) uma agregação de várias linhas políticas. Por outro lado, comprovou-se que o facto de Soares se candidatar uma terceira vez e aos 81 anos foi, a par com o seu estilo de campanha, um erro. Aliás, penso que mais que a idade ou contexto, foi o modo que o "tramou". É incompreensível como Soares (provavelmente, o mais inteligente e experiente político português) aceitou tal estilo de campanha! Tens que admitir que tal constitui uma viragem no seu estilo habitual (irreverente sim, mas sempre respeitador!). Ora, isso não se verificaria também na sua magistratura de influência (o termo é de Sampaio)?

Mas, conheces-me, eu preferiria Soares a Cavaco. Sempre.

Sobre a dependência da figura de Alegre, penso que, num primeiro momento, ela é necessária (terias tido a projecção mediática de quinta sem ele? ou casa cheia? duvido). Contudo, como já defendi n'A Ilha, a médio prazo é indispensável que o Movimento crie uma identidade própria (e, sejamos justos, Manuel Alegre já deu sinais que tal terá que acontecer). Tenho dúvidas da necessidade prática de existirem figuras nacionais e/ou locais no MIC. Creio que a intervenção local - a que pode dar maiores frutos - não exige uma figura local mas antes um conjunto sólido de apoiantes, democratas e cidadãos, figuras de prestígio na cidade, que transmitam a ideia de um colectivo organizado e democrático, mas também aberto. Sobretudo, temo que o surgimento de figuras como coordenadores (e, nesse aspecto, a abertura da Coordenadora a qualquer integrante do MIC foi essencial) leve à construção de uma agenda pessoal para o MIC e à dominação das suas acções por ideias de indivíduos. O que, claramente, constituiria um défice democrático no seio do MIC.

Partilho, igualmente, da tua preocupação do MIC (e já a transmiti há alguns meses na Coordenadora) vir a ter um estilo de intervenção cívica clássico e esgotado: insipientes debates com as caras de sempre, uma certa elite intelectual). Felizmente, a maior partilhou de tal preocupação. Mas como se diz, a ver vamos...
O facto do 1º Diálogo contar com a participação dos cidadãos e decorrer num café constitui uma tentativa de cortar com esse modo de operação. Devemos, pois, reinventar novas formas de acção.

Honestamente, ficaria contente de te ver senão como membro, pelo menos menos, como simpatizante do MIC. Quanto menos bloquista, comunista ou socialista for o MIC, mais é de Esquerda, menos é partidário, mais é eficiente.

Pedro

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