9-11 cá por dentro
5 anos depois, cá estou eu no humilde primeiro andar de um modesto apartamento, onde os aviões passam em voos rasantes, ensurdecedores e pensativos rumo sei lá onde, mesmo no centrinho da capital Lisboa. Parece que foi ontem. E o que mudou? Quando na altura parecia ser apenas o impacto, os números, as mortes e o cada vez mais habitual murmirio de “como é possível tamanha maldade?”, agora vejo que o que mudou muito, mesmo muito mais que isso.
Se “abriu um novo capítulo na história”, perguntem-me daqui a 20 anos se cá ainda estiver ou estiverem. Deixem que lhes diga que nos assuntos inerentes ao deste texto, começo a acreditar em tudo… Agora se ficou tudo maluco, respondo-lhes prontamente que sim sem esconder as evidencias que o justificam. No inicio, a mim e a todos chocava as mortes e a “inovação” de haver suficiente “maldade” para meia dúzia de homenzinhos se meterem num avião e pumba, contra um prédio qualquer… Claro que com o acalmar dos ânimos, qualquer cabeça minimamente fria se aperceberia que a dimensão do 11/9 se devia não ao numero de vitimas: mortos e desaparecidos somados não chegam a 3000, número de estudantes que qualquer ditador indonésio dos anos 90 exterminava sem problema nem sacrifício numa semana de mau humor, sem que muitos jornalistas ou cidadãos do mundo se ralassem. O impacto e o mediatismo conquistado perante mim, a imprensa, os que me lêem, os que lêem a imprensa, os que lêem os dois (e mesmo assim ainda acreditam em mim), ou os que não lêem nenhum, deve-se hoje ainda evidentemente ao símbolo do poderio americano, que tinha acabado de ser brutalmente abalado de uma forma nunca antes vista ou pensada. Nem falo tanto no que se passou no Pentágono (acabo, alias de ver na televisão de todos nós um documentário sensacionalista acerca da “parte por explicar” deste ataque que permaneceu bastante encoberto e esquecido). No fundo, o poderio dos EUA reflecte-se bem mais em dois edifícios iguaizinhos onde estão sedeadas quase tantas empresas como no off shore da Madeira, do que num simples edifíciozito estatal com uma forma confusa, que nem os terroristas se quiseram preocupar muito em abater em condições…
No dia 10 de Setembro de 2001, quando, onde e como é que algum disparate destes ia acontecer?... A isso já é tarde para responder, sei apenas que cerca de uma semana antes tinha assistido de forma não atenta a uma noticia intermédia de telejornal em que se dizia numa das semanas seguintes virem importantes cidades americanas a ser bombardeadas, sendo Saddam a principal suspeita. Por muita tareia que levemos, vamos sempre continuar a ser anjinhos, está na essência do ser humano (excepto aqueles que conseguem levar a cabo as verdadeiras atitudes baixas, os que acabam por vencer sempre…). Porquê? Porque nesse preciso momento estava Ossama Bin Ladden na Clínica Americana do Dubai a ser tratado por uma equipa altamente especializada de urulogistas recebendo um tratamento ao nível de um respeitado agente federal como ele, que tanto esforço tinha empenhado na expulsão as tropas soviéticas do território afegão.
Agora a teoria tão sensacionalista como bem pensada acerca do 11 de Setembro que me faz estremecer, tal e o sentido que para mim ela faz: É facto que os mercados mundiais estavam a entrar desde as crises do petróleo num evoluir rotineiro demasiadamente fácil de controlar, previsível e sistemático. Aos gigantes detentores, aos verdadeiros impulsionadores da economia, convinha brutalmente uma ruptura neste modelo (uma crie e uma depressão “à séria”), que tirasse aos mercados e aos sistemas de alta finança qualquer foco de previsibilidade… Porque é que a noticia que falei acima vinha tão “sem sal”, no meio de um telejornal da hora de almoço, como se de mais um lar de velhinhos mal tratados ou de mais uma criança abusada se tratasse? … Porque é que GWB antes de ter sido o “salvador da pátria do pós 11 de Setembro”, teve as atitudes mais estranhas possíveis nas horas anteriores e posteriores ao incidente (até fizeram vídeos cómicos com a aula que ele tão arduamente se esforçava para dar aos meninos no momento do ataque ao WTC…). Será que foram feitos todos os possíveis para evitar uma catástrofe destas? Tento acreditar que sim, embora nem sempre seja fácil.
A mudança mais suja do 11 de Setembro foi sem dúvida o nojento evoluir do complexo nós (ocidentais) e eles (mouros bárbaros) que se criou e que a equipa do Gato Fedorento tão bem soube retratar na curta do “Gajo de Alfama”. Não “estaremos”, ao pensar assim, a ser tão “fundamentalistas” como “os mais fundamentalistas” dos terroristas? Será pelo aspecto, língua e nacionalidade que vemos se algum ser humano é “bom” ou “mau”?
De uma ideia estou eu certo e, como tal, andarei com ela até virem os bichos comer a minha carne lá em baixo (ou lá em/de cima). È na criação de cedências mútuas e no bom entendimento e tolerância entre os povos que reside a única (a meu ver) réstia de esperança de sobrevivência da espécie humana (nunca numa interminável sequela de histórias mal contadas que tentam justificar ofensivas em massa de parte a parte). Porém, sei que a maldade (bem como a estupidez) do ser humano são infinitamente grandes.
Perante isto o que esperar?
Ó peste que roubaste o nosso Zé Bandeirinha, devolve-o imediatamente!
Fora de gozo: brilhante análise. E a parte que mais me agrada: sem recorrer a fundamentalismos! Bem vindo ao mundo do bom senso, Band ;)
Posted by António Pedro | 11/9/06 5:15 da tarde