Vida de cão
a mesa de cafe
Estou mesmo preocupado, e mesmo em baixo, estupidamente, talvez, porque “com tanta fome no mundo” e “com tanta gente a morrer em guerras estúpidas”, não deveria haver espaço para estas pequenas e míseras preocupações, mas o que de facto acontece é que não estou a saber lidar bem com a situação.
Se há pessoas que nos marcam, há de certo animais que o fazem; talvez uns nem façam por isso, como é o caso de um peixe ou de uma tartaruga, mas há outros que insistem em fazer parte no nosso quotidiano, e não abdicam ou arredar pé dele, a não ser pelo motivo que martela o terminus da nossa existência (e da deles), e faz questão de berrar dos nossos ouvidos o bicho minúsculo que somos, e o quão efémera é a nossa existência, que bem somada, não é nada (tal como a deles). No entanto, somos capazes de a preencher com pessoas…e ao preenchermos com pessoas, preenchemos com relações, e ao preenchermos com relações, preenchemos com discussões, e ao preenchermos com discussões, preenchemos com zangas, amuos, e todos aqueles estados de alma que fazem toda a gente sentir-se como namorado(a) de alguém. No caso dos animais, apercebemo-nos do quão estúpidos e bárbaros somos quando os tratamos mal, e nos zangamos, por uma simples razão: porque estes não são, efectivamente, em nenhum momento da sua existência capazes de nos fazer mal; ou se são, foi porque transcendentalmente a Natureza os programou para que o fizessem, por terem fome, por se sentirem ameaçados, ou por qualquer outra razão que não nos compete a nós entender. Um cão é talvez o animal doméstico mais comum…é talvez mais um móvel da casa, um tapete, uma mesa, qualquer coisa. Só que com uma pequena particularidade: cobra-nos a nossa atenção de forma sábia e inteligente; não é uma namorada mimada e ciumenta que nos chateia por não lhe termos mandado um toque à hora X, por não lhe termos dito que a adorávamos na mensagem Y; os cães, ou o cão, denunciam a nossa falta de atenção e descuido com uma simples cauda que abana quando chegamos a casa, com uns pulos e uns tapetes deslocados num certo sítio, com um arranhar de porta simplesmente para entrarem e se deitarem ao nosso lado, sem dizerem uma única palavra, fazendo-nos aperceber do quão falhados somos no nosso papel de donos. Quando olhamos para eles, mesmo sem que eles sequer percebam isso, lembramo-nos uma vez mais que passou a hora da rua, que não lhe mudamos a água da taça, enfim, que falhamos, e que continuamos a falhar, por preguiça, porque eles não berraram connosco e nos disseram que estava na hora de ir à rua, não reivindicaram água porque estavam cheios de sede; e quando protestam, a única coisa que fazem é porem-se a olhar para nós, a morderem-nos as bainhas das calças, e a arranharem a porta da rua; por mais atrasados que estejamos; por mais vezes que o nosso descuido se repita; por mais egoístas e estúpidos que sejamos em não lhe darmos toda a atenção e cuidado que nos prometemos a dar quando insistimos em o ter, como um brinquedo, mas que como não podemos desligar se repercute na nossa vida, todos os dias, todo o dia.
Tudo isto para dizer que estou mesmo em pânico, porque detectaram Leishmaniose ao meu cão, uma doença que é praticamente inofensiva para o ser humano, mas que é fatal para os canídeos; podem-se retardar os seus efeitos com medicação, mas nunca se cura. Pega-se através de um mosquito que espalha a doença entre eles, e se encarrega de fazer o mesmo connosco, se bem que, como já disse, é muito difícil de a apanharmos (embora no caso de pessoas com um sistema imunitário mais deficiente esta se pegue com bastante mais facilidade, e possa ter outras consequências).
Sentimentalismos fora, um conselho para quem tem estes animais (e gatos também): evitem deixá-los a dormir fora de casa nestes meses quentes ou, basicamente, evitem expô-los aos mosquitos. Uma nota: há umas coleiras que não são 100% seguras mas que servem como repelentes destes bichos.
Agora que já me preocupei egoistamente com estes assuntos que não interessam a ninguém, continuemos – com alguma coisa que realmente interesse, como o facto da Académica não perder há 12 jogos, por exemplo. Enfim…
Estou mesmo preocupado, e mesmo em baixo, estupidamente, talvez, porque “com tanta fome no mundo” e “com tanta gente a morrer em guerras estúpidas”, não deveria haver espaço para estas pequenas e míseras preocupações, mas o que de facto acontece é que não estou a saber lidar bem com a situação.
Se há pessoas que nos marcam, há de certo animais que o fazem; talvez uns nem façam por isso, como é o caso de um peixe ou de uma tartaruga, mas há outros que insistem em fazer parte no nosso quotidiano, e não abdicam ou arredar pé dele, a não ser pelo motivo que martela o terminus da nossa existência (e da deles), e faz questão de berrar dos nossos ouvidos o bicho minúsculo que somos, e o quão efémera é a nossa existência, que bem somada, não é nada (tal como a deles). No entanto, somos capazes de a preencher com pessoas…e ao preenchermos com pessoas, preenchemos com relações, e ao preenchermos com relações, preenchemos com discussões, e ao preenchermos com discussões, preenchemos com zangas, amuos, e todos aqueles estados de alma que fazem toda a gente sentir-se como namorado(a) de alguém. No caso dos animais, apercebemo-nos do quão estúpidos e bárbaros somos quando os tratamos mal, e nos zangamos, por uma simples razão: porque estes não são, efectivamente, em nenhum momento da sua existência capazes de nos fazer mal; ou se são, foi porque transcendentalmente a Natureza os programou para que o fizessem, por terem fome, por se sentirem ameaçados, ou por qualquer outra razão que não nos compete a nós entender. Um cão é talvez o animal doméstico mais comum…é talvez mais um móvel da casa, um tapete, uma mesa, qualquer coisa. Só que com uma pequena particularidade: cobra-nos a nossa atenção de forma sábia e inteligente; não é uma namorada mimada e ciumenta que nos chateia por não lhe termos mandado um toque à hora X, por não lhe termos dito que a adorávamos na mensagem Y; os cães, ou o cão, denunciam a nossa falta de atenção e descuido com uma simples cauda que abana quando chegamos a casa, com uns pulos e uns tapetes deslocados num certo sítio, com um arranhar de porta simplesmente para entrarem e se deitarem ao nosso lado, sem dizerem uma única palavra, fazendo-nos aperceber do quão falhados somos no nosso papel de donos. Quando olhamos para eles, mesmo sem que eles sequer percebam isso, lembramo-nos uma vez mais que passou a hora da rua, que não lhe mudamos a água da taça, enfim, que falhamos, e que continuamos a falhar, por preguiça, porque eles não berraram connosco e nos disseram que estava na hora de ir à rua, não reivindicaram água porque estavam cheios de sede; e quando protestam, a única coisa que fazem é porem-se a olhar para nós, a morderem-nos as bainhas das calças, e a arranharem a porta da rua; por mais atrasados que estejamos; por mais vezes que o nosso descuido se repita; por mais egoístas e estúpidos que sejamos em não lhe darmos toda a atenção e cuidado que nos prometemos a dar quando insistimos em o ter, como um brinquedo, mas que como não podemos desligar se repercute na nossa vida, todos os dias, todo o dia.
Tudo isto para dizer que estou mesmo em pânico, porque detectaram Leishmaniose ao meu cão, uma doença que é praticamente inofensiva para o ser humano, mas que é fatal para os canídeos; podem-se retardar os seus efeitos com medicação, mas nunca se cura. Pega-se através de um mosquito que espalha a doença entre eles, e se encarrega de fazer o mesmo connosco, se bem que, como já disse, é muito difícil de a apanharmos (embora no caso de pessoas com um sistema imunitário mais deficiente esta se pegue com bastante mais facilidade, e possa ter outras consequências).
Sentimentalismos fora, um conselho para quem tem estes animais (e gatos também): evitem deixá-los a dormir fora de casa nestes meses quentes ou, basicamente, evitem expô-los aos mosquitos. Uma nota: há umas coleiras que não são 100% seguras mas que servem como repelentes destes bichos.
Agora que já me preocupei egoistamente com estes assuntos que não interessam a ninguém, continuemos – com alguma coisa que realmente interesse, como o facto da Académica não perder há 12 jogos, por exemplo. Enfim…
Quase que não conseguia ler o teu post até ao fim. As palavras q disseste deram-me vontade de dar a tal atenção q falas aos meus gatos. Agora, com licença...
Posted by Alexandre Carvalho | 12/5/05 4:55 da tarde