A minha opinião sobre o manifesto de Alegre...
a mesa de cafe
Manuel Alegre apresentou há dias o seu manifesto eleitoral. “Contrato presidencial”, como quis que se chamasse…Talvez estivesse a pensar num título para mais um poema ou, desta vez, para uma ode (resta saber se triunfal ou não).
Alegre é um homem de esquerda, cujo empenho e constante reminiscência aos valores de Abril merecem todo o respeito e apoio. É um candidato que dá especial ênfase aos direitos e liberdades dos cidadãos. Contudo, e como apoiante de Soares, noto na insistência da sua candidatura não um inocente exercício de direitos, mas sim um revanchismo perigoso para a credibilidade do lugar a que se candidatou (como a entrevista com Constança Cunha e Sá veio, a meu ver, a comprova). Como já disse anteriormente, penso que Alegre não fez bem em avançar. Alegre seria essencial daqui a 4 anos, não agora. Portugal precisa de um P.R. que não embarque em viagens sem regresso. E esse candidato não é, a meu ver Alegre.
Quanto ao seu discurso, gostaria de explicitar alguns pontos com que concordo, e outros que me pareceram nebulosos…inconsistentes até, de que discordo. São eles:
“ (…) Há uma crise do Estado, que por sua vez é fruto de uma crise da sociedade, da confusão e ausência de valores, do declínio do espírito de serviço público, do facilitismo, da negligência e do egoísmo. Há cada vez mais gente que já não acredita. Há um clima de suspeição, desconfiança e descrença que pode dar origem a graves tensões sociais e políticas. (…)”
Pareceu-me importante Alegre dar algum relevo a esta matéria, de extrema importância: de facto, a partir do momento em que a credibilidade política não é decisiva para eleger um governante (seja de que cargo político for), é porque conflitos profundos estão a ser gerados no seio da própria democracia, sistema que, para que perdure, precisa de correcções e medidas sérias. Espero que, se Alegre for eleito, se empenhe bastante nesta tarefa.
“ (…) Porque há duas maneiras de entender a identidade de um povo: a identidade-raízes e a identidade-projecto. Portugal tem uma fortíssima identidade histórico-cultural, mas está debilitado quanto à mobilização em torno de uma vontade colectiva. Temos que voltar a dizer com orgulho a palavra Pátria e dar-lhe um sentido de modernidade e de futuro (…)”
A nossa identidade histórico-cultural sofreu bastante com a forma obsessiva como foi impingida nas escolas durante o Estado Novo. A palavra “Pátria” sofreu danos irrecuperáveis com a sua constante utilização na retórica fascista. Por isso, penso que o processo de reflorescimento do orgulho português não deve passar por voltar a estes modelos “impingidores”, nem muito menos pela cópia do patriotismo cego americano. O patriotismo e o orgulho nacional criam-se, não é algo que possa ser concebido artificialmente, nem ressuscitado de um patriotismo cego que já não faz sentido. Fica esta pequena nota.
“(...)Defender a igualdade de homens e mulheres é para mim uma prioridade da organização social.(...)”
Escusado será dizer que esta deve ser a prioridade de qualquer governante. Penso que Alegre fez bem em ter focado este assunto, que é um problema bastante corrente. Até nos cargos políticos se pode observar essa enorme discrepância.
"(...)O Presidente tem de vigiar a ocorrência de conflitos de interesses entre o mundo político e o mundo económico, o poder mediático e de um modo geral todos os poderes fácticos que tendem a constituir-se como poderes paralelos, não sufragados nem legítimos.(...)"
Se Alegre diz com isto aquilo que penso que quer dizer, ou seja, que o P.R. se deve empenhar em combater o nojo de comunicação social que temos em Portugal, ou as clientelas instaladas que manipulam os dinheiros públicos, merece todo o meu (nosso apoio) se for eleito.
“(...)Será que a Constituição está a ser cumprida quando há dois milhões de portugueses em estado de pobreza, mais de meio milhão de desempregados, tantas famílias sem habitação condigna, tantos atentados ao meio ambiente, tanto insucesso e abandono escolar, tantas assimetrias regionais e desequilíbrios sociais?(...)"
Com esta frase parece-me que Alegre estudou a lição. Revela que está a par de uma série de direitos previstos em muitos artigos da C.R.P. E mostra que tem consciência do papel importante que um P.R. tem em fazer cumprir a Constituição, em todos os sectores que esta abarca.
“(...)Temos de tornar claro que não interpretamos o extremismo religioso como fazendo parte da cultura islâmica, com a qual temos laços de proximidade que devemos aprofundar.(...)”
Infelizmente, as comunidades muçulmanas (em França, por ex.) não têm muita vontade de inverter esta situação (os recentes conflitos em Paris comprovam-no, e movem massas de população muçulmana – ninguém me faz acreditar que estes conflitos não estão a ser alimentados em grande escala por fundamentalistas. Se o extremismo religioso não faz parte da cultura muçulmana, o que é certo, é que move massas). No entanto é imperativa uma solução para este cancro da U.E. Têm de ser feitas negociações. Quanto aos imigrantes residentes na U.E. (sejam de que país forem) não podem viver à margem. Precisam de ser integrados, e o mais rapidamente possível. Caso contrário, estes conflitos em Paris são uma pequena ponta do Iceberg de revoltas que tomará forma em muitas cidades europeias (e Lisboa poderá muito bem ser a próxima).
Quanto à entrevista que deu hoje à TVI, pronunciar-me-ei depois…A visão de Alegre em relação à U.E. e ao papel de Portugal na Europa e no mundo também merecerão um post….Até lá!
Manuel Alegre apresentou há dias o seu manifesto eleitoral. “Contrato presidencial”, como quis que se chamasse…Talvez estivesse a pensar num título para mais um poema ou, desta vez, para uma ode (resta saber se triunfal ou não).
Alegre é um homem de esquerda, cujo empenho e constante reminiscência aos valores de Abril merecem todo o respeito e apoio. É um candidato que dá especial ênfase aos direitos e liberdades dos cidadãos. Contudo, e como apoiante de Soares, noto na insistência da sua candidatura não um inocente exercício de direitos, mas sim um revanchismo perigoso para a credibilidade do lugar a que se candidatou (como a entrevista com Constança Cunha e Sá veio, a meu ver, a comprova). Como já disse anteriormente, penso que Alegre não fez bem em avançar. Alegre seria essencial daqui a 4 anos, não agora. Portugal precisa de um P.R. que não embarque em viagens sem regresso. E esse candidato não é, a meu ver Alegre.
Quanto ao seu discurso, gostaria de explicitar alguns pontos com que concordo, e outros que me pareceram nebulosos…inconsistentes até, de que discordo. São eles:
“ (…) Há uma crise do Estado, que por sua vez é fruto de uma crise da sociedade, da confusão e ausência de valores, do declínio do espírito de serviço público, do facilitismo, da negligência e do egoísmo. Há cada vez mais gente que já não acredita. Há um clima de suspeição, desconfiança e descrença que pode dar origem a graves tensões sociais e políticas. (…)”
Pareceu-me importante Alegre dar algum relevo a esta matéria, de extrema importância: de facto, a partir do momento em que a credibilidade política não é decisiva para eleger um governante (seja de que cargo político for), é porque conflitos profundos estão a ser gerados no seio da própria democracia, sistema que, para que perdure, precisa de correcções e medidas sérias. Espero que, se Alegre for eleito, se empenhe bastante nesta tarefa.
“ (…) Porque há duas maneiras de entender a identidade de um povo: a identidade-raízes e a identidade-projecto. Portugal tem uma fortíssima identidade histórico-cultural, mas está debilitado quanto à mobilização em torno de uma vontade colectiva. Temos que voltar a dizer com orgulho a palavra Pátria e dar-lhe um sentido de modernidade e de futuro (…)”
A nossa identidade histórico-cultural sofreu bastante com a forma obsessiva como foi impingida nas escolas durante o Estado Novo. A palavra “Pátria” sofreu danos irrecuperáveis com a sua constante utilização na retórica fascista. Por isso, penso que o processo de reflorescimento do orgulho português não deve passar por voltar a estes modelos “impingidores”, nem muito menos pela cópia do patriotismo cego americano. O patriotismo e o orgulho nacional criam-se, não é algo que possa ser concebido artificialmente, nem ressuscitado de um patriotismo cego que já não faz sentido. Fica esta pequena nota.
“(...)Defender a igualdade de homens e mulheres é para mim uma prioridade da organização social.(...)”
Escusado será dizer que esta deve ser a prioridade de qualquer governante. Penso que Alegre fez bem em ter focado este assunto, que é um problema bastante corrente. Até nos cargos políticos se pode observar essa enorme discrepância.
"(...)O Presidente tem de vigiar a ocorrência de conflitos de interesses entre o mundo político e o mundo económico, o poder mediático e de um modo geral todos os poderes fácticos que tendem a constituir-se como poderes paralelos, não sufragados nem legítimos.(...)"
Se Alegre diz com isto aquilo que penso que quer dizer, ou seja, que o P.R. se deve empenhar em combater o nojo de comunicação social que temos em Portugal, ou as clientelas instaladas que manipulam os dinheiros públicos, merece todo o meu (nosso apoio) se for eleito.
“(...)Será que a Constituição está a ser cumprida quando há dois milhões de portugueses em estado de pobreza, mais de meio milhão de desempregados, tantas famílias sem habitação condigna, tantos atentados ao meio ambiente, tanto insucesso e abandono escolar, tantas assimetrias regionais e desequilíbrios sociais?(...)"
Com esta frase parece-me que Alegre estudou a lição. Revela que está a par de uma série de direitos previstos em muitos artigos da C.R.P. E mostra que tem consciência do papel importante que um P.R. tem em fazer cumprir a Constituição, em todos os sectores que esta abarca.
“(...)Temos de tornar claro que não interpretamos o extremismo religioso como fazendo parte da cultura islâmica, com a qual temos laços de proximidade que devemos aprofundar.(...)”
Infelizmente, as comunidades muçulmanas (em França, por ex.) não têm muita vontade de inverter esta situação (os recentes conflitos em Paris comprovam-no, e movem massas de população muçulmana – ninguém me faz acreditar que estes conflitos não estão a ser alimentados em grande escala por fundamentalistas. Se o extremismo religioso não faz parte da cultura muçulmana, o que é certo, é que move massas). No entanto é imperativa uma solução para este cancro da U.E. Têm de ser feitas negociações. Quanto aos imigrantes residentes na U.E. (sejam de que país forem) não podem viver à margem. Precisam de ser integrados, e o mais rapidamente possível. Caso contrário, estes conflitos em Paris são uma pequena ponta do Iceberg de revoltas que tomará forma em muitas cidades europeias (e Lisboa poderá muito bem ser a próxima).
Quanto à entrevista que deu hoje à TVI, pronunciar-me-ei depois…A visão de Alegre em relação à U.E. e ao papel de Portugal na Europa e no mundo também merecerão um post….Até lá!