As Invasões Bárbaras
Como nenhum dos prezados bloguistas que viram o filme comigo decidiram antecipar-se e colocar aqui uma crítica (ou pseudo crítica, mais no meu caso) a este filme (e como a ausência de actividade neste blog me indica que não o deverão fazer), decidi avançar eu, apesar de não ir dizer nada que já não tenha sido na boa crítica (aqui sim) que o Pedro fez n’A Ilha do Dia Antes a esta produção canadiana.
Por onde começar? O filme é tão simples, e ao mesmo tempo tão complexo, que é difícil determinar por onde se deve começar; o Pedro sugere que seja pelo medo da morte que a personagem principal, Rémy, sente, ao lhe ser diagnosticada uma doença terminal; de facto, o filme centra-se bastante neste aspecto – vive disso. O medo que Rémy tem de morrer é justificado pela sua percepção do quão errado foi o seu passado, que vê agora impossível de corrigir. Acha o filho um bárbaro capitalista, acha a filha uma frustrada, mas só até perceber os esforços que o primeiro faz para lhe proporcionar um fim de vida digno; e que a segunda vive no seu elemento, que é o mar, de onde lhe envia vídeos por satélite que o comovem verdadeiramente. Rémy sente o erro brutal que foi toda a sua vida; a forma abusiva como traiu a mulher, como se traiu a ele próprio, a efemeridade de todos os prazeres a que se habituou, que vai gozando por uma última vez: “o último carro”, a “última viagem”, etc.; a forma cruel como o tempo lhe escorreu por entre os dedos, e não o deixou escrever os livros que queria escrever, fazer as críticas que queria fazer, corrigir os erros que queria corrigir.
Outro aspecto interessante no filme é o flagelo da droga: tão presente, tão real, tão palpável. O filho, Sébastien, empenhado na tarefa de minimizar o sofrimento do pai, procura uma amiga de infância, toxicodependente, que lhe fornece heroína, “8 vezes mais eficaz para as dores que morfina”. As conversas entre Rémy e Nathalie são, aliás, dos momentos do filme que mais impressionam, pelo confronto de pontos de vista sobre a própria vida, pelo contraste entre o discurso negro, gelado, da cocaínomana, e a fugacidade de Rémy, cuja vida não lhe chegou.
Igualmente densas são as conversas sobre sexo, política e filosofia que os amigos de Rémy têm, seja enquanto fumam um charro à volta da fogueira, seja em pleno quarto de hospital; um grupo heterogéneo, que se reúne no fim de uma vida para chegarem à conclusão que são pessoas imensamente sós, mesmo tendo companheiros com que dividir a casa e a vida.
No fundo, “As Invasões Bárbaras” é um filme que fala, essencialmente, da solidão e da efemeridade da vida. Da mudança que a percepção de um fim próximo pode operar na pessoa. Da droga, de sexo em idades avançadas. De solidão. De perfis, de atitudes. “As Invasões Bárbaras” é um filme brilhante, ao qual nem a crítica aos sindicatos ou ao sistema de saúde canadiano falta. É uma película intensa, pesada, com boas doses de fine humour, com uma boa fotografia e, acima de tudo, com excelentes actores...
Por onde começar? O filme é tão simples, e ao mesmo tempo tão complexo, que é difícil determinar por onde se deve começar; o Pedro sugere que seja pelo medo da morte que a personagem principal, Rémy, sente, ao lhe ser diagnosticada uma doença terminal; de facto, o filme centra-se bastante neste aspecto – vive disso. O medo que Rémy tem de morrer é justificado pela sua percepção do quão errado foi o seu passado, que vê agora impossível de corrigir. Acha o filho um bárbaro capitalista, acha a filha uma frustrada, mas só até perceber os esforços que o primeiro faz para lhe proporcionar um fim de vida digno; e que a segunda vive no seu elemento, que é o mar, de onde lhe envia vídeos por satélite que o comovem verdadeiramente. Rémy sente o erro brutal que foi toda a sua vida; a forma abusiva como traiu a mulher, como se traiu a ele próprio, a efemeridade de todos os prazeres a que se habituou, que vai gozando por uma última vez: “o último carro”, a “última viagem”, etc.; a forma cruel como o tempo lhe escorreu por entre os dedos, e não o deixou escrever os livros que queria escrever, fazer as críticas que queria fazer, corrigir os erros que queria corrigir.
Outro aspecto interessante no filme é o flagelo da droga: tão presente, tão real, tão palpável. O filho, Sébastien, empenhado na tarefa de minimizar o sofrimento do pai, procura uma amiga de infância, toxicodependente, que lhe fornece heroína, “8 vezes mais eficaz para as dores que morfina”. As conversas entre Rémy e Nathalie são, aliás, dos momentos do filme que mais impressionam, pelo confronto de pontos de vista sobre a própria vida, pelo contraste entre o discurso negro, gelado, da cocaínomana, e a fugacidade de Rémy, cuja vida não lhe chegou.
Igualmente densas são as conversas sobre sexo, política e filosofia que os amigos de Rémy têm, seja enquanto fumam um charro à volta da fogueira, seja em pleno quarto de hospital; um grupo heterogéneo, que se reúne no fim de uma vida para chegarem à conclusão que são pessoas imensamente sós, mesmo tendo companheiros com que dividir a casa e a vida.
No fundo, “As Invasões Bárbaras” é um filme que fala, essencialmente, da solidão e da efemeridade da vida. Da mudança que a percepção de um fim próximo pode operar na pessoa. Da droga, de sexo em idades avançadas. De solidão. De perfis, de atitudes. “As Invasões Bárbaras” é um filme brilhante, ao qual nem a crítica aos sindicatos ou ao sistema de saúde canadiano falta. É uma película intensa, pesada, com boas doses de fine humour, com uma boa fotografia e, acima de tudo, com excelentes actores...
Também vi o filme há umas semanas e adorei ;-) Concordo com a análise.
Posted by Mariana | 4/12/05 7:19 da tarde