rir com a "crise", chorar com a "crise"
Um texto que não é político, não é económico nem social, não é nada. Talvez uma descargazinha de consciência por fazer tempo que aqui não escrevo nada no meio de gigabytes de textos que falam de cinco ou seis parvalhões que querem ser presidentes.
O que eu queria perguntar não passa do seguinte: “estamos em crise?”…
Ah estamos? Porquê? Por no ano novo os hotéis de luxo do Algarve encherem? Por haver listas de espera intermináveis para o novo desportivo BMW z4? Porque 12 meses por ano há milhares a ir queimar as trombas para as estâncias de neve e do nordeste brasileiro?
Não posso deixar aqui de dizer que desde pequenino que me lembro de ouvir que os tempos estão difíceis e que esta é a pior crise que atravessamos… Não terá esta teatrada uma explicação psicológica. Não será mais confortante para o Zé Povinho frustrado, que parte os cornos à mulher com porrada todos os dias, sentenciar a crise como atenuante (a curtíssimo prazo, só assim se pode conceber), para a vida desgraçada que leva, numa forma de dizer “deixa-me estar quietinho aqui, que qualquer dia passa a crise e é só ligar a televisão, que vejo logo que esta merda fica toda melhor…”. A “crise” é quase uma questão filosófica do nosso tempo… Sempre me lembro de ver e ouvir falar de muito ricos que não sabem que fazer às notas e muitos mais muito pobres que não sabem que fazer à vida… nunca atribuí nenhuma, nenhuma relação à crise que aparece na TVI do Zé Povo mas que qualquer dia há-de passar (ooh isto agora é só lá para 2009, que risada). É um debate filosófico giríssimo, até Manuel Maria Carrilho deve gostar de dissertar sobre ela, inspirado no corpus da sua bela mulher. Manuel Alegre dedica-lhe uma Ode um dia destes e Santana Lopes dá o nome de “Crise” a uma das próximas filhas.
Enquanto isto, passo eu todos os dias no metro e nas rotundas, onde vejo publicidade maravilhosa ao “compre agora, pague em Setembro”, “para quê não comprar se pode pagar em suaves prestações”: estas são as razões do sobre-endividamento, um fenómeno gravíssimo, com muita psicologia e pouca filosofia que afecta de uma forma drástica a actual economia das famílias em Portugal. Mas para esse não há críticas, nem preocupações, deixem andar junto com os “ah eu até ia comprar o A6, mas isto da crise, pá atinge toda a gente, que tou a ver que compro só a carrinha A4 a Diesel e só vem o A6 quando acabar de pagar a casa do Algarve e os miúdos saírem do colégio, foda-se a crise é mesmo tramada…”
Claro que vamos todos no mesmo comboio, uns com mais, outros com menos (dinheiro e culpa…), mas se não fosse a crise como seria? Entre os Morangos com Açúcar e o Reality Show que é que o país via?
O que eu queria perguntar não passa do seguinte: “estamos em crise?”…
Ah estamos? Porquê? Por no ano novo os hotéis de luxo do Algarve encherem? Por haver listas de espera intermináveis para o novo desportivo BMW z4? Porque 12 meses por ano há milhares a ir queimar as trombas para as estâncias de neve e do nordeste brasileiro?
Não posso deixar aqui de dizer que desde pequenino que me lembro de ouvir que os tempos estão difíceis e que esta é a pior crise que atravessamos… Não terá esta teatrada uma explicação psicológica. Não será mais confortante para o Zé Povinho frustrado, que parte os cornos à mulher com porrada todos os dias, sentenciar a crise como atenuante (a curtíssimo prazo, só assim se pode conceber), para a vida desgraçada que leva, numa forma de dizer “deixa-me estar quietinho aqui, que qualquer dia passa a crise e é só ligar a televisão, que vejo logo que esta merda fica toda melhor…”. A “crise” é quase uma questão filosófica do nosso tempo… Sempre me lembro de ver e ouvir falar de muito ricos que não sabem que fazer às notas e muitos mais muito pobres que não sabem que fazer à vida… nunca atribuí nenhuma, nenhuma relação à crise que aparece na TVI do Zé Povo mas que qualquer dia há-de passar (ooh isto agora é só lá para 2009, que risada). É um debate filosófico giríssimo, até Manuel Maria Carrilho deve gostar de dissertar sobre ela, inspirado no corpus da sua bela mulher. Manuel Alegre dedica-lhe uma Ode um dia destes e Santana Lopes dá o nome de “Crise” a uma das próximas filhas.
Enquanto isto, passo eu todos os dias no metro e nas rotundas, onde vejo publicidade maravilhosa ao “compre agora, pague em Setembro”, “para quê não comprar se pode pagar em suaves prestações”: estas são as razões do sobre-endividamento, um fenómeno gravíssimo, com muita psicologia e pouca filosofia que afecta de uma forma drástica a actual economia das famílias em Portugal. Mas para esse não há críticas, nem preocupações, deixem andar junto com os “ah eu até ia comprar o A6, mas isto da crise, pá atinge toda a gente, que tou a ver que compro só a carrinha A4 a Diesel e só vem o A6 quando acabar de pagar a casa do Algarve e os miúdos saírem do colégio, foda-se a crise é mesmo tramada…”
Claro que vamos todos no mesmo comboio, uns com mais, outros com menos (dinheiro e culpa…), mas se não fosse a crise como seria? Entre os Morangos com Açúcar e o Reality Show que é que o país via?
Este texto fez-me lembar uma entrevista no Jornal da Noite de 1984 (que passou na noite de Natal) a um comerciante de uma loja de brinquedos, que dizia que se notava uma grande diferença no poder de compra, comparativamente com o ano passado (83, portanto).
Ora, se isto é uma tendência que só evolui no sentido que todos nós sabemos, o actual poder de compra devia ser...inexistente.
Também me fez lembrar uma senhora gorda, entrevistada na rua (acerca dos saldos), que dizia que, de facto, comprando férias no Brasil e carros de luxo, não acreditaria que as pessoas pudessem gastar muito nos saldos.
Seis parvalhões, Band? Não me digas que o Jerónimo também entrou na lista negra...
De resto, concordo praticamente com tudo...grande texto, Vand.
PS (Post Scriptum, não Partido Socialista, acalma-te): acho...hum... honesto que expliques com quem começou esta massificação do recurso aos créditos...
Fica a dica ;)
Posted by António Pedro | 9/1/06 5:54 da tarde
explico sim:
os cartões de crédito apareceram no ano qm que Cavaco era ministro e praticava a sua economia experimental de que brevemente (em dois anos, espero), me vou tornar disciplo (ou não...), mas enquanto o indigena prativava números sem poder usar incógnitas, eis que o rei marajá se rebolava com todo o seu elegante porte (as miudas chamavam lhe bochechas por ser muito fofinho), deixando passar tudo, excepto a sua colecção de dentes de elefante e diaamantes.
Desconheço esse ta Jerónimo de sousa, cheira-me a nome de refugiado da ex-URSS perdido no Cáucaso ou na América Central com problemas de lucidez que o levam a jurar que estamos em 88 (quatro anos após a entrevista do meu amigo)...
enfim, nem sei se são cinco ou seis ou sete míseráveis, presidenciais é um assunto que me passa ao lado e não me diz respeito
Posted by Zé Bandeirinha | 9/1/06 6:49 da tarde