O Clube de Scolari
Está agora na “berra” a polémica quanto à não convocação de Ricardo Quaresma (unanimemente considerado o melhor jogador português a actuar em Portugal) por parte do seleccionador português Luís Felipe Scolari para o Mundial 2006.
Acontece que esta já não é a primeira contestação às decisões do treinador, nem será, provavelmente, a última.
Tudo começou com a persistente não convocação de Vítor Baia, mesmo quando se verificava o decréscimo de forma do guarda-redes titular, Ricardo. Baía ficou mesmo a “arder” para fúria dos adeptos portistas. Posteriormente, perto do Euro 2004, parecia improvável a convocação de um dos jogadores em melhor forma do Porto, campeão português e europeu de 2004, Maniche. No entanto, surpreendente e inexplicavelmente, este acabou mesmo por ser convocado na derradeira convocatória. Na altura perguntei-me se não teria sido bem melhor convocá-lo antes, para criar o entrosamento necessário com os companheiros de selecção.
Contudo, estes eram apenas pormenores quase insignificantes, comparados com o que se vinha a passar durante os jogos de treino (visto que Portugal estava automaticamente qualificado para o Euro). Nestes jogos, Scolari insistia em jogar com Fernando Couto (quando tinha Ricardo Carvalho), com Rui Jorge (quando tinha Nuno Valente), com Petit (quando tinha Maniche), com Simão (quando tinha Cristiano Ronaldo) e, “at last but not at least”, com Rui Costa (quando tinha Deco).
Como seria de esperar, Scolari manteve as suas ideias e jogou com esta equipa, quando há mais de um ano, toda a gente (comentadores ignorantes, segundo o seleccionador) dizia que ele estava errado. Pois bem, bastou uma derrota contra a Grécia na 1ª Jornada para o omnisciente Scolari mudar a equipa para aquela que toda a gente lhe indicava há muito tempo. Contudo, o mais espantoso é que depois de se verificar que Scolari tinha estado todo este tempo errado e as pessoas que o criticavam, consequentemente, certas, este, com o apoio surpreendente da comunicação social (que eu estou certo, não se teria verificado caso se tratasse de um treinador português) fez de conta que o mérito era todo dele e colheu os louros (isto, claro, até perder, pela segunda vez, com a Grécia, na final).
Passado o Euro, veio a fase de qualificação na qual Scolari manteve o grupo do Euro, indiferente a oscilações de forma dos seus jogadores a nível de Clubes. Portugal qualificou-se (quase) impecavelmente.
Pois bem. É aqui que se põe a questão: Scolari besta ou Scolari bestial?
Por um lado, é besta, pois insiste em por a jogar jogadores como Ricardo, Hugo Viana, Hélder Postiga (em baixa de forma), Nuno Valente, Maniche e Costinha (com pouca utilização nos seus clubes); não dando oportunidades a jogadores em claro crescente de forma como o referido Quaresma, Pedro Mendes, Manuel Fernandes, João Moutinho, João Tomás e até (face à falta de Pontas-de-lança) Hugo Almeida.
Por outro lado é bestial, pois mantém unido um grupo desde o Euro completamente ao seu lado que, estando individualmente em pior ou melhor forma, está altamente motivado, entrosado e ao lado do treinador. Só isto pode explicar a polémica não convocação de Ricardo Quaresma.
De facto, Scolari introduziu um esquema de selecção pouco habitual em Portugal, em que não jogam os melhores, mas sim os que o seleccionador decide como fazendo parte do grupo (O Clube de Scolari). Este esquema tem pontos positivos, como a estabilidade e união do balneário, mas também os tem negativos, pois retira competitividade à convocatória (pois os jogadores habituais já a têm assegurada) e impossibilita os grandes jogadores que despertam de ter oportunidades.
Concluo então que à eterna questão (Besta ou Bestial) talvez possamos ter resposta durante o Mundial de 2006 na Alemanha.