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A Sombra

Penso não haver muita coisa que esteja mal n’ “O Sol”. Atrever-me-ia, aliás, a dizer, que a única coisa que está verdadeiramente mal – à excepção do seu tendenciosismo, desculpável — é mesmo José António Saraiva, que assina esta semana um editorial intitulado “Uma Cultura de Morte”.
Para minha grande surpresa (ou não), JAS ainda não percebeu duas coisas muito simples: a primeira é que ninguém está interessado nas conversas “secretas” que teve com o seu mui amigo Balsemão, nem nas razões que o levaram a abandonar o “Expresso”; a segunda, é que ninguém está interessado, propriamente, nele. Talvez no Prof. Marcelo ou em Miguel Portas. Mas não nele.
Ficarmo-nos por aqui já não seria pouco, mas parece haver ainda outra coisa que escapa a JAS: que pôr toda a esquerda no mesmo saco é errado - tal como fazer o mesmo com toda a direita o seria, da mesma maneira - ora, se JAS ainda nem a esta simples conclusão conseguiu chegar, é difícil que algum dia venha a perceber (ou acreditar) que nem toda a esquerda acredita numa “cultura de morte” – apesar de não me atrever a negar a hipótese de que haja aquela que acredita – da mesma maneira que me parece difícil que Jerónimo de Sousa venha algum dia a perceber (ou a acreditar) que haja alguém à direita que não seja reaccionário – apesar de não me atrever a negar a hipótese de que haja aquela que efectivamente o é. Infelizmente para ambos, não me parece que haja muita gente com paciência para lhes explicar que as coisas não são bem assim.

Para meu grande espanto (volto a repetir: ou não) JAS considera os debates sobre o aborto e o casamento entre homossexuais (“estéreis”) uma perda de tempo. O país deveria, antes, estar a “promover nascimentos”. Deduzo que tentar fazer as duas coisas seja uma hipótese que não passa pela cabeça de JAS. Duvido, aliás, que este alguma vez tenha dedicado mais do que uns minutos ao conceito de pragmatismo: talvez porque se o tivesse feito não acreditaria que toda a esquerda estivesse empenhada numa “cultura de morte”. Tavez percebesse que existe uma esquerda (e acredito que seja uma maioria) que não é a favor do aborto (i.e., do acto de abortar), mas sim da despenalização do aborto. Talvez percebesse que existe uma esquerda que não encoraja o acto de abortar: antes o desmistifica. Talvez percebesse que existe uma esquerda que não considera o acto de abortar uma decisão que deva ser tomada de ânimo leve ou por mera conveniência, mas sim um acto a controlar com legislação rígida e completa sobre a matéria. Talvez percebesse que o que se pretende é não penalizar alguém que já sofreu o suficiente. Parece-me bastante difícil que JAS consiga entender alguma destas ideias – e ainda mais difícil que consiga entender o que está por trás da eutanásia (Ana Costa, uma mulher com cancro que testemunhou para uma reportagem da SIC sobre o tema, define-a de uma forma, a meu ver, deliciosa: “caridade cristã”) cujo debate considera outra “perda de tempo”. É compreensível. E acredito que fosse preferível, para JAS, pôr estas questões “incómodas” de lado. Ignorá-las. Fingir que não existem, que não acontecem. Felizmente que há muitas pessoas que não pensam assim: o seu jornal está, aliás, cheio delas...

"O Sol" é um novo semanário, não é?

Oui, mendiant ;)

O que não se compreende é como se começa no Expresso, se vai para o Correio da Manhã e, sem glória, se acaba no 24 Horas... isto sem passar na revista Tabu e na masturbação mental que é cada "revelação" de A. Saraiva sobre a sua saída...

O pior é que o Expresso não está melhor.

Pedro

Sobre a eutanásia, Nancy Reagan, mulher do actor de filmes rascos e presidente dos EUA Ronald Reagan, deixou de ser uma feroz opositora ao estudo de células estaminais a partir do momento que o marido teve alzheimer... e esta, hein?

E depois a Direita ainda acha incoerência o Louçã gostar de charutos...

Pedro

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