Mário Soares e a Globalização
a mesa de cafe
Dizer abruptamente que Mário Soares é “contra a globalização” soa, a meu ver, ao mesmo que dizer que um comandante de um navio cheio de furos é contra o seu naufrágio. A globalização é um fenómeno que se reveste de inevitabilidade, e que, por isso mesmo, acarreta consequências positivas e negativas; aceitar a globalização de forma cega e dogmática, e nada fazer para minimizar as assimetrias que resultam deste fenómeno, é um comportamento que pode pôr em xeque as sociedades democráticas, que não conseguem responder aos desafios lançados por outros sistemas políticos e económicos (inundações de produtos produzidos em comunismo cerrado, políticas unilaterais e neo-liberais, etc.).
Mário Soares defende o seu ponto de vista em muitos textos que escreveu acerca do assunto; preferi partir da sua crítica a “Salto Global” (obra de que falarei mais à frente) para vos falar da sua opinião. Nela, Soares alerta para os perigos do modelo neo-liberal deste fenómeno (que é o que actualmente vigora) e para as “patologias [advindas] da globalização” (corrupção de políticos, proliferação de doenças, “migrações sem normas protectoras”, etc.).
Aquilo que o seu texto deixa transparecer era o que já se previa: Soares não questiona as teses de Ernesto Samper, ex-P.R. colombiano (tal como penso ser inquestionável), o “fenómeno inelutável da globalização do conhecimento e da informação, obra das revolução informática, científica e tecnológica”. O que os 2 ex-P.R. questionam duramente é, sim, o aproveitamento que países como os E.U.A. e o Japão tiveram do fenómeno globalização, bem como a pobreza que esse aproveitamento gerou nos países da América do Sul: ou seja, as assimetrias América do Norte/ América do Sul, que aumentaram com o “hegemonismo imperial americano” e com “o seu unilateralismo no plano mundial” “desde a guerra-fria”.
Soares conclui que é extremamente difícil conciliar “políticas de crescimento consistentes” com a coesão social que marca os princípios europeus (“uma das marcas principais da nossa identidade”).
Pelo exposto, concluímos que Soares não é contra a globalização, ou seja, contra aquilo que esta pode acarretar de bom para o estreitamento dos laços entre as nações, contra a facilitação da comunicação de hoje à escala global, contra os efeitos positivos que esta pode produzir em diversos campos; Mário Soares é, sim, contra o monstro incontrolável que provoca assimetrias, que distribui pobreza. Mário Soares é, sim, a favor do modelo social europeu, que não coaduna com países que agem “tendo em vista os seus resultados” e que conduzem “à divisão do mundo”. Mário Soares é, sim, pela salvaguarda do Estado Providência, que terá, certamente, de tomar medidas em relação a este fenómeno – se o quer continuar a ser!
Dizer abruptamente que Mário Soares é “contra a globalização” soa, a meu ver, ao mesmo que dizer que um comandante de um navio cheio de furos é contra o seu naufrágio. A globalização é um fenómeno que se reveste de inevitabilidade, e que, por isso mesmo, acarreta consequências positivas e negativas; aceitar a globalização de forma cega e dogmática, e nada fazer para minimizar as assimetrias que resultam deste fenómeno, é um comportamento que pode pôr em xeque as sociedades democráticas, que não conseguem responder aos desafios lançados por outros sistemas políticos e económicos (inundações de produtos produzidos em comunismo cerrado, políticas unilaterais e neo-liberais, etc.).
Mário Soares defende o seu ponto de vista em muitos textos que escreveu acerca do assunto; preferi partir da sua crítica a “Salto Global” (obra de que falarei mais à frente) para vos falar da sua opinião. Nela, Soares alerta para os perigos do modelo neo-liberal deste fenómeno (que é o que actualmente vigora) e para as “patologias [advindas] da globalização” (corrupção de políticos, proliferação de doenças, “migrações sem normas protectoras”, etc.).
Aquilo que o seu texto deixa transparecer era o que já se previa: Soares não questiona as teses de Ernesto Samper, ex-P.R. colombiano (tal como penso ser inquestionável), o “fenómeno inelutável da globalização do conhecimento e da informação, obra das revolução informática, científica e tecnológica”. O que os 2 ex-P.R. questionam duramente é, sim, o aproveitamento que países como os E.U.A. e o Japão tiveram do fenómeno globalização, bem como a pobreza que esse aproveitamento gerou nos países da América do Sul: ou seja, as assimetrias América do Norte/ América do Sul, que aumentaram com o “hegemonismo imperial americano” e com “o seu unilateralismo no plano mundial” “desde a guerra-fria”.
Soares conclui que é extremamente difícil conciliar “políticas de crescimento consistentes” com a coesão social que marca os princípios europeus (“uma das marcas principais da nossa identidade”).
Pelo exposto, concluímos que Soares não é contra a globalização, ou seja, contra aquilo que esta pode acarretar de bom para o estreitamento dos laços entre as nações, contra a facilitação da comunicação de hoje à escala global, contra os efeitos positivos que esta pode produzir em diversos campos; Mário Soares é, sim, contra o monstro incontrolável que provoca assimetrias, que distribui pobreza. Mário Soares é, sim, a favor do modelo social europeu, que não coaduna com países que agem “tendo em vista os seus resultados” e que conduzem “à divisão do mundo”. Mário Soares é, sim, pela salvaguarda do Estado Providência, que terá, certamente, de tomar medidas em relação a este fenómeno – se o quer continuar a ser!
Ninguém comenta os seus textos? Porquê? Porque ninguém os lê? Mas são tão interessantes, profundos e originais...
Posted by Anónimo | 16/11/05 11:11 da manhã
Caro/a Messie:
Li há pouco o seu comentário e posso dizer-lhe, desde já, que há uma coisa em que está errado/a: os meus textos costumam ser comentados, nem que seja por algum javardo anónimo que perde tempo a fazê-lo (acredito que seja uma qualquer forma de catarse...), ou por outros visitantes que costumam comentar frequentemente, de blogs vizinhos, etc.
Ponto 2: se na segunda parte do comentário está realmente a falar a sério, agradeço-lhe o elogio; se está a ser irónico/a (infelizmente, recentes comentários aqui no blog levam-me a acreditar mais nesta segunda hipótese), terei que o/a mandar à merda mais convenientemente. Por isso, espero resposta. Obrigado...
Posted by António Pedro | 16/11/05 8:49 da tarde