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O Eco

Ter um blog implica uma intrínseca vontade de escrever para os outros. Um blog não é um diário, não é algo pessoal que se feche ao mundo. Toda a gente que escreve num e não tem problemas em o divulgar sabe que está a ser lido, sabe que alguém vai pensar no que escreve, sabe que muitos vão discordar ou concordar. Mas sabe – essencialmente – que vai ser lido. E se continua a escrever nele é porque gosta dessa sensação. Quem se acha dotado de ideias superiores não as divulga com facilidade, logo, não escreve num blog. Escrever num blog é a procura de um feedback feito à nossa medida, a la minute. Quanto mais se escreve, mais hipóteses temos de o receber – e é nessa reciprocidade que está a o segredo para o sucesso deste meio.
No fundo, um blog acaba por ser uma espécie de espelho da nossa alma. Há quem o utilize para escrever coisas rotineiras, há quem escreva artigos científicos, há quem escreva textos filosóficos, quem escreva sobre música mas, no fundo, quem escreve, escreve com um único intuito: o de receber algo de volta. Qualquer pessoa que escreva neste mundo o faz por este motivo. Porque gosta de ser ouvido, de ouvir o que os outros pensam, de ouvir críticas, de pensar nelas, de lhes responder. Se assim não fosse, um blog não faria sentido.
O blog como fenómeno social passa necessariamente pela revolução que os novos meios de comunicação permitidos pela Internet trouxeram. De facto, a Internet não é mais do que isso: um meio, um veículo de informação, de comunicação, de divulgação. A sua função esgota-se naquilo a que se destina, que não é mais do que isto. À medida que foi chegando a um número cada vez maior de pessoas foi fazendo com que outros meios tradicionais se tornassem obsoletos. Hoje em dia não se escrevem cartas, escrevem-se e-mails, não se telefona a alguém que tenha um Messenger, não se mandam telegramas porque toda a gente já tem telemóvel e toda a gente consegue mandar SMS a partir da Internet com relativa facilidade. As pessoas que nasceram nos últimos 20 anos convivem diariamente com tecnologia rotineira, que não lhes guarda muitos segredos. O grosso das pessoas desta geração sabe utilizar meios informáticos, serve-se deles sem qualquer tipo de problema. É, por isso, compreensível que estes se tenham imiscuído nas suas vidas sem sequer darem por isso. À medida que esse processo foi ocorrendo, foram criando hábitos – muitos deles sociais, de sociabilidade. Não espanta, por isso, que um blog seja um bom meio de combater a solidão – também ela tem um papel decisivo na forma como se utiliza o computador/ Internet: não é por acaso que os grandes dependentes (hoje em dia já é corrente caracterizar esta habituação como addiction) são pessoas essencialmente solitárias. Do meu ponto de vista, o uso deste meio é proporcional à solidão do utilizador, que quanto mais solitário é mais a ele recorre (se bem que, por vezes, inconscientemente).
Assim, podemos concluir que, como já foi dito, o blog acaba por ser um espelho, um reflexo daquilo que as pessoas são. Quem tem um temperamento conciliador, não se altera (a não ser que o anonimato o motive a fazê-lo); quem gosta de puxar a água ao seu moinho fá-lo da maneira que melhor sabe e consegue: argumentando – e a retórica tem, como todos sabemos, um papel decisivo na argumentação. Platão ensinou-nos com o seu “Górgias” que a retórica pode ter um fim construtivo, que não é certamente aquele para que os sofistas o utilizavam – o de persuadir ignorantemente. A retórica aliada ao conhecimento é a melhor arma que alguém pode ter: alguém com bom conhecimento de causa e com boa retórica é inderrubável (até que alguém com uma tese melhor e com retórica suficiente para persuadir o faça). Porém, o que acontece num meio (como os blogs, por ex.) que não é considerado um trabalho académico, que não tem por isso de ter necessariamente uma base científica consistente, é o privilégio da retórica em detrimento da base científica/ de conhecimento. E é precisamente aqui que está a função lúdica dos blogs: nos exercícios de retórica, que divertem as pessoas. Depois vem a necessidade do conhecimento para fazer sustentar um debate com pés e cabeça. Um debate que redunde num exercício de retórica não é mais do que isso...divertido: uma forma de entretenimento tão aceitável como um romance, como um programa de televisão, etc.
Há, porem, excepções: e o que acontece actualmente é estar na excepção o medidor de interesse de um blog. É quem conseguir cumprir a função de entretenimento e, simultaneamente, torná-lo interessante que pode dizer que tem um bom blog. O resto vem por acréscimo. Desengane-se quem pensar que esta tarefa é fácil: poucos são os que a conseguem cumprir. Mas é este desafio que motiva as pessoas a escrever – que, ao fazê-lo, estão a combater a solidão: inconscientemente. Isto significa que não se trata de um meio (escrever) para atingir um fim (combater a solidão): o fim faz, apenas, com que esse meio subsista...

inspirado no texto do Miguel

Acerca de - "mas, no fundo, quem escreve, escreve com um único intuito: o de receber algo de volta. Qualquer pessoa que escreva neste mundo o faz por este motivo."
Corroboro com - "(...) mas não o escrevi para mim, escrevi para me expressar.
E de que vale a expressão se não for notada?
De que vale a música se não for ouvida?
A escrita se não for lida? Expressão é igual a arte."

Peço desculpa, mas não sei de quem é isto...

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