Está tudo doido?
O mundo está-se a passar, e o sítio mais insano é, provavelmente, os EUA. Senão vejamos: Ele é a guerra do Iraque, que, qual jogo de computador, parecia ser o Hobbie predilecto de Bush; ele é o julgamento de Saddam Hussein, que se assemelha incrivelmente a um filme cómico; ele é as torturas nas prisões iraquianas; ele é ainda o espancamento de iraquianos por soldados britânicos comentado por um imbecil qualquer que merecia sofrer uma tortura pior, qualquer coisa como viver com a Manuela Moura Guedes para o resto da vida. E, por fim, a cereja em cima do bolo: Freitas do Amaral. O homem, que até estava a ter sucesso com a sua pose de independente, que via tudo de cima num politicamente correcto majestoso que pretendia, e conseguia, agradar a todos, meteu o pé na argola. De facto, conseguiu por a Esquerda e a Direita, não a seu favor, como pretendia certamente, mas contra si, o que, diga-se de passagem, é um feito apenas digno de alguém como ele. Primeiro aproximou-se da argola pé ante pé, falando de “Cristo e da sua Mãe, a Virgem Maria.”, comparando-os a Maomé. Mais tarde, num movimento de agilidade intelectual formidável, introduziu completamente o dito pé na dita argola proferindo, certamente confiando na sua superioridade, o seguinte: “Portugal lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos”. Parece que finalmente a esquerda se começa a aperceber que não foi assim tão bom negócio ter ido contratar a custo zero uma aparente pérola da Política como o nosso Freitas. Mais vale tarde que nunca, mas finalmente conseguimos perceber que esta pérola há muito que foi desencrostada do seu anel e já ressequiu.
Mas agora que já vimos o filme cómico, vejamos o Drama.
É com apreensão que venho a reparar (aliás, já aqui postei sobre o assunto) há muito tempo a curiosa e preocupante similitude entre as condições que vivemos hoje e as que deram origem, há quase 70 anos à II G.M e até, de certa maneira, das que deram origem à I G.M. Se repararmos bem, há 70 anos estava-se numa situação parecida com a que vivemos hoje. Hitler reforçava o exército, fazia alianças com Berlim e Tóquio e ameaçava a Guerra iminente. Hoje vemos o Irão e a Coreia do Norte a fabricar armas Nucleares, o terrorismo a alastrar, e, pior que tudo, um fanatismo religioso que controla totalmente as sociedades islâmicas (felizmente, não todas) persuadindo os populares a odiarem o Ocidente. Hoje, como há 70 anos, os Governos Democráticos querem a todo o custo fingir que não se passa nada, o que, como aconteceu nesse tempo, pode ter consequências bastante graves. Ora bem, mas se estas circunstâncias me parecem semelhantes aquelas que se viveram nos anos 30, há outras que me parecem bem piores. É que nessa altura os cidadãos alemães e os italianos, por exemplo, não eram propriamente muito diferentes dos seus congéneres ingleses e franceses, pois eram todos fruto de uma evolução comum, só quebrada poucas décadas antes. O que os diferenciava era que os primeiros possuíam governos que através de uma máquina propagandista exemplar os mandatavam a participar e a concordar com uma guerra ilógica e os segundos tinham governos democráticos. Agora a situação é bem diferente. As sociedades islâmicas encontram-se num mediavalismo inacreditável em que a religião se sobrepõe ao estado. Para além disso estes povos não esquecem os conflitos passados com o Ocidente nem a mãozinha dos EUA nos seus territórios. Por outro lado, possuem a droga do Ocidente, o petróleo e sabem como se fazer valer disso. E, o mais preocupante: desenvolveram-se muito, economicamente, enquanto que, socialmente, isso não se verificou. Este facto dá-lhes a sensação de poder para combater o Ocidente, algo que, há cem anos não tinham.
A situação de hoje ultrapassa largamente a simples diferença entre Democracia e Ditadura, é muito mais grave e desperta fantasmas antigos com que o Ocidente nunca soube lidar. Enquanto há 70 anos, embora com a ajuda das nações democráticas, Hitler teve de carregar a lenha, atirá-la para a fogueira e acender a mesma, agora basta aos governos islâmicos deitar uma achazinha para as chamas irromperem de uma fogueira que há muito está carregadinha de lenha.
E, mais grave que tudo, enquanto a segunda guerra parecia poder ser resolvida para sempre através da guerra e da deposição das ditaduras, esta iminente guerra do Islão é muito mais do que isso e parece um bico de obra bastante mais difícil de solucionar.
Caro mestre.
Apesar de não me encontrar tão certo desse paralelismo entre o pré II Guerra Mundial e os tempos que correm, confesso sentir um certo arrepio ao ler o seu artigo. Até aqui tenho-me limitado a pensar na crise das caricaturas sob o ponto de vista do individuo, e, tal como o sr. acho que se criou um enredo bastante denso entre assuntos que poderiam ser tratados separadamente.
Cumprimentos bloguistas
Posted by Anónimo | 22/2/06 2:52 da tarde