Faz tudo parte do mesmo
O “Mestre” diz que só viveremos em verdadeira democracia quando alguém que tiver nascido depois do 25 de Abril ocupar o cargo de PM. Devo dizer que discordo um bocado desta afirmação – ou pelo menos que a considero incompleta.
Se o que motivou o “Mestre” a escrever este post foi o facto de se ter dito, durante a campanha eleitoral para as Presidenciais, que Cavaco não tinha participado activamente no 25 de Abril, e que isso era uma lacuna no seu percurso, eu acho que agiu mal, porque ninguém está a fazer, com isso, um julgamento de competências, ou seja, a considerar Cavaco menos apto para exercer o cargo a que se propôs por essa razão; a crítica que se faz é mesmo à pessoa de Cavaco, ou seja, a um homem que em 74 (antes e depois) tinha idade para se ter manifestado criticamente e não o fez. Nunca o fez. Tal como estas críticas são dirigidas directamente a Cavaco, são também a outros que fizeram o mesmo – que estavam, no entanto, no seu pleno direito de não o fazer – mas que sofrem as consequências advindas do conflito entre carácter e competência, em que o primeiro, por este acto ser uma lacuna em qualquer cidadão que preze os valores democráticos, sai lesado.
Há ainda outra questão que vem a propósito desta: que permitir a criação de um Partido Fascista faria, de igual modo, progredir a democracia – de que também discordo. Não entendo, aliás, a contradição no discurso destas pessoas que dizem que, por um lado, a extinção de partidos extremistas como o PCP seria um avanço (o que é legítimo aceitar) e que, por outro, se deveria permitir a criação de um partido de extrema-direita. Ora, o objectivo não é tentar acabar com os extremos? Não será muito mais ético, democrático e eficaz confiar no julgamento do povo para solucionar este problema – povo que já caiu no erro uma vez, e que não cairá segunda? O facto de o PCP nunca ter obtido nenhuma vitória, quer nas Legislativas, quer nas Presidenciais, não significará alguma coisa?
Não me entendam mal, não estou a julgar nenhuma ideologia nem nenhum partido: estou apenas e só a partir do pressuposto que o PCP ser um partido de extrema esquerda é globalmente aceite – e estas questões surgem unicamente a propósito de conclusões que tenho ouvido, e de que não partilho. De qualquer forma, dormiria descansado se se permitisse a criação de um Partido Fascista (nunca neonazi), desde que se instituísse, simultaneamente, a cláusula-barreira...
Se o que motivou o “Mestre” a escrever este post foi o facto de se ter dito, durante a campanha eleitoral para as Presidenciais, que Cavaco não tinha participado activamente no 25 de Abril, e que isso era uma lacuna no seu percurso, eu acho que agiu mal, porque ninguém está a fazer, com isso, um julgamento de competências, ou seja, a considerar Cavaco menos apto para exercer o cargo a que se propôs por essa razão; a crítica que se faz é mesmo à pessoa de Cavaco, ou seja, a um homem que em 74 (antes e depois) tinha idade para se ter manifestado criticamente e não o fez. Nunca o fez. Tal como estas críticas são dirigidas directamente a Cavaco, são também a outros que fizeram o mesmo – que estavam, no entanto, no seu pleno direito de não o fazer – mas que sofrem as consequências advindas do conflito entre carácter e competência, em que o primeiro, por este acto ser uma lacuna em qualquer cidadão que preze os valores democráticos, sai lesado.
Há ainda outra questão que vem a propósito desta: que permitir a criação de um Partido Fascista faria, de igual modo, progredir a democracia – de que também discordo. Não entendo, aliás, a contradição no discurso destas pessoas que dizem que, por um lado, a extinção de partidos extremistas como o PCP seria um avanço (o que é legítimo aceitar) e que, por outro, se deveria permitir a criação de um partido de extrema-direita. Ora, o objectivo não é tentar acabar com os extremos? Não será muito mais ético, democrático e eficaz confiar no julgamento do povo para solucionar este problema – povo que já caiu no erro uma vez, e que não cairá segunda? O facto de o PCP nunca ter obtido nenhuma vitória, quer nas Legislativas, quer nas Presidenciais, não significará alguma coisa?
Não me entendam mal, não estou a julgar nenhuma ideologia nem nenhum partido: estou apenas e só a partir do pressuposto que o PCP ser um partido de extrema esquerda é globalmente aceite – e estas questões surgem unicamente a propósito de conclusões que tenho ouvido, e de que não partilho. De qualquer forma, dormiria descansado se se permitisse a criação de um Partido Fascista (nunca neonazi), desde que se instituísse, simultaneamente, a cláusula-barreira...
"Se o que motivou o “Mestre” a escrever este post foi o facto de se ter dito, durante a campanha eleitoral para as Presidenciais, que Cavaco não tinha participado activamente no 25 de Abril, e que isso era uma lacuna no seu percurso"
Não foi. Foi, como te disse, um paralelismo entre a situação do Clinton nos EUA, que nasceu, neste caso, depois da 2ª GM.
"Não entendo, aliás, a contradição no discurso destas pessoas que dizem que, por um lado, a extinção de partidos extremistas como o PCP seria um avanço"
Quem pensar assim está errado. Eu não penso desse modo. na minha opinião devem existir os dois extremos, numa democracia. É essa uma das grandes superioridades do regime democrático. Há países, como os EUA, em que os extremos são abafados (principalmente a esquerda), o que é altamente nefasto. Foi aquilo que disse toqueville, nos EUA a igualdade abafa a liberdade. Esse é um erro da nossa constituição que devia ser corrigido e que foi concebido por Comunistas no 25 de Abril sem espirito democrático, daqueles que graças ao nosso "amigo" Soares, felizmente, não estão no poder.
Posted by José Maria Pimentel | 1/2/06 10:23 da tarde
Como deves calcular, não estou dentro da tua cabeça para dizer com toda a certeza o que é que te motivou a escrever o texto. Sei que a primeira vez que falaste (voltaste a falar) nisso foi quando falei de um post d' "A Ilha do Dia Antes" sobre o facto de Cavaco não ter tido nenhum papel (activo ou não) no 25 de Abril. Espero que também te recordes que me disseste (antes daquela conversa na Abrav.)"para ver o exemplo de Espanha, em que o Partido Comunista não tinha representação" "e que até nisso eram mais avançados que nós". Lembro-me perfeitamente disto, e fiquei a achar que o pensavas...pelos vistos, mudaste de ideias (não te condeno por isso)...
Btw, penso que não estás a fazer muito bem em comparar duas realidades históricas totalmente diferentes (e, portanto, imcomparáveis): Portugal, um país historicamente de centro-esquerda, EUA, um país que nunca soube o que era a esquerda (apesar de alguns democratas se acharem socialistas...). Não tenho ideia que os extremos sejam abafados - a esquerda, simplesmente, não tem representação: aliás, toda a gente sabe do que são feitas as campanhas eleitorais nos EUA...Se fores ver os sites de um Partido Comunista/ Socialista americano vais-te rir...Penso que isso explica tudo...
Posted by António Pedro | 2/2/06 10:05 da manhã
No EUA há esquerda, só não há extrema-esquerda.
Quanto ao Cavaco, só disse que não foi o que me motivou, embora, claro, o caso dele se aplique, em parte, a esta situação. Parece que a competência politica, em Portugal, se tem de julgar por aquela célebre frase: "Onde é que estavas no 25 de Abril" (isto com a voz aguda do Baptista Bastos)
Bem, eu penso que não vale muito a pena andar às voltas com as cartas, há 2 pontos:
1) Portugal só se tornará uma verdadeira democracia se o Trauma do 25 de Abril dor ultrapassado e as pessoas passarem a pensar livremente sem tremer cada vez que um Cunhal disser: "Fascistas!"
2) Portugal só se tornará uma verdadeira democracia se houver permissão para existir todos os tipos de Partidos (ou quase), o que não acontece neste momento e da lugar a fenómenos como o PNR.
Posted by José Maria Pimentel | 2/2/06 12:25 da tarde
Exactamente.
Posted by José Maria Pimentel | 2/2/06 1:44 da tarde
Eu acho que as pessoas não tremem quando algum Cunhal diz 'Fascistas!', como disseste, Zé.
Se calhar o facto de ser de esquerda é que não me deixa ver isso, mas acho sinceramente que não há na população portuguesa uma reticência face à direita, por ainda sofrerem do trauma do 25 de Abril. Aliás, se formos a reparar bem, só há um trauma do 25 de Abril para quem nele participou. A maioria da população limitou-se a andar consoante a maré, a aceitar o regime do Estado Novo com a mesma naturalidade com que aceitou o PREC. E olha que não faltam velhotes saudosistas nas paragens de autocarro e afins a dizer como era bom o 'antigamente' em que não havia 'esta libertinagem toda'. Acho que em termos de discrimanção ou complexos, há-os tanto na direita como na esquerda. Tanto vocês terão que ouvir, a certa altura da vossas vidas, que são uns fascistas como eu terei de ouvir que sou uma comuna.
Daí não achar que há medo nas pessoas em votar mais à direita ou mais à esquerda e não me parece que haja algum complô motivado por saudosistas da revolução que impeça a liberdade moral de voto das pessoas.
Posted by Mariana | 2/2/06 2:03 da tarde
Tremem, tremem, por isso é que ele o diz (ou dizia). Embora, felizmente isso aconteca cada vez menos.
É obvio que há pessoas saudosistas, mas não se podem expressar politicamente do mesmo modo que as saudosistas do PREC podem. Discriminação? Para mim sim, para ti talvez não.
Os Partidos Fascistas são proibidos. É ponto assente.
Hás de reparar que, por exemplo, na televisão, as pessoas evitam falar de temas que remetam para o Fascismo e, pior, para o Estado Novo. É um facto. Num país sem o 25 de Abril não haveria esse medo. Já um comunista qualquer (há-os muitos) não pensa duas vezes (e bem) em dizer que a Revolução falhou quando o PREC foi derrubado.
Simples, parece-me.
Posted by José Maria Pimentel | 2/2/06 10:11 da tarde
Pois, num país sem o 25 de Abril não haveria esse medo, mas também não poderias falar na televisão a não ser que fosse para elogiar o regime vigente :P se com isso estavas a dizer que um país que não tenha passado por uma revolução que o fez transitar de uma ditadura para uma democracia, não haveria esse medo, também não haveria o que falar ou sobre o que ter medo, por isso não percebo o teu comentário. Também não percebo a ligação que fazes entre a pessoa que evita falar do Estado Novo na tv e do comunista qualquer que diz que a revolução falhou... nem acho que haja razões para ter medo de falar do que disseste, se as pessoas têm preconceitos e medo em relação a isso, acho que são infundados (aliás, a vantagem de vivermos numa democracia é mesmo poder-se falar abertamente de vários assuntos, sem que haja uma penalização por isso).
Ao dizeres que os saudosistas do Estado Novo não se podem expressar politicamente, pois os partidos fascistas são proibidos, estarás a dizer que o Estado Novo foi um regime fascista? ;-)
Concluindo, acho que se há algum trauma do 25 de Abril ele parece ser apenas fruto da direita e, então, a responsabilidade por medos ou receios de referências ao Estado Novo é inteiramente de quem os tem. Passem a falar abertamente sobre isso que não lhes acontece nada (represálias era noutros tempos...)! Porque fascistas também os há muitos, tal como os comunistas quaisquer :P
Simples, parece-me.
Posted by Mariana | 2/2/06 10:29 da tarde
parem de chamar mestre ao zé maria!!!Ou se o chamam mestre não contradigam o que ele diz;)Acho que o zé maria tem alguma razão no que diz.Além disso nota-se que a comunicação social é normalmente de esquerda e que exagera tanto nos feitos da esquerda como nos problemas da direita.Mesmo assim não acredito que se preocupem tanto com estes problemas.Se calhar sou eu que sou irresponsável,mas não é mais engraçado falar de noitadas,miudas(isto para os rapazes),futebol(para quem gosta) e sobre a queima que ja ta tao perto?beijinhos e abraços
Posted by Anónimo | 2/2/06 10:58 da tarde
"não percebo a ligação que fazes entre a pessoa que evita falar do Estado Novo na tv e do comunista qualquer que diz que a revolução falhou... "
Sim, estava a associar aquilo em que nós quase nos tornamos graças a alguns comunistas com aquilo em que estivemos graças a alguns fascistas. Simples.
"ao dizeres que os saudosistas do Estado Novo não se podem expressar politicamente, pois os partidos fascistas são proibidos, estarás a dizer que o Estado Novo foi um regime fascista? ;-)"
Penso que sim. Talvez Fascista seja exagerado, mas pelo menos teve inspiração fascista, tal como o chines teve comunista, etc...
Bem, paremos de rodeios. Há um ponto incontornável: São proibidos Partidos Fascistas em Portugal. Concordas, Mariana?
Posted by José Maria Pimentel | 3/2/06 4:28 da manhã
Se concordo que seja proibida a constituição de um Partido Fascista em Portugal? Let me put it this way: os ideais fascistas atentam contra os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e são, portanto, contrários ao conceito da própria democracia. Era como se num regime monárquico existissem partidos políticos. Portanto, por toda a carga negativa que esses ideais acarretam, não vejo qual a vantagem de existir um partido que os defenda. Mas, também não vejo problema em que ele exista. Pura e simplesmente porque sei que não iria ter grande expansão. Aliás, se reparares, pode não existir um Partido Fascista (exactamente com esta designação), mas há várias variantes que se assumem como tal e não têm qualquer problema em afirmar as suas políticas mais extremistas (PNR, PPM, Frente Nacional, até o CDS-PP...). Portanto, quem seja possuidor desses ideais até se pode sentir amplamente representado. Esses partidos só não têm mais expressão porque o número de fascistas em Portugal é, felizmente, reduzido. Não é propriamente porque a esquerda os tenta abafar a todo o custo :P
Posted by Mariana | 3/2/06 10:22 da manhã
"Era como se num regime monárquico existissem partidos políticos."
Não percebi!
Quanto ao resto, deixa-me dizer-te, Mariana, que estás a cair no mesmo erro daquelas pessoas que te chamam Comuna, ou, pior, ao António.
Eu já reparei que tu tens uma certa dificuldade em descodificar as várias vertentes da Direita. O CDS-PP e o PPM estão longe de ser Fascistas, podem é ter Fascistas nas suas fileiras que, como não podem formar um Partido próprio, têm que se refugiar nos partidos legais. O mesmo se passaria com os comunistas, caso fossem proibidos partidos comunistas, refugiavam-se no PS ou noutro partido mais à esquerda. Se cais no erro de julgar Fascista todo aquele que, por exemplo, critica o Che Guevara ou o Fidel, também se poderia considerar Comunista quem criticasse o Salazar (queria ter um exemplo melhor, mas não me ocorre). Não me parece.
Outra coisa, se os ideais Fascistas vão contra os direitos humanos, deixa-me dizer-te que os comunistas não ficam muito atrás.
Mas a questão, mais uma vez, é bem simples: Numa democracia todos os ideais devem poder ser representados. Os ideais fascistas devem sê-lo e as pessoas que deles partilham devem poder ter um partido que os assuma oficialmente.
Aliás, se formos a ver bem, até seria bom que houvesse um partido desses, pois deixava as coisas bem mais claras na direita.
Já imaginaste se não houvesse PCP? Andavam os Comunistas todos espalhados pelos partidos de esquerda. Era bom? Não me parece.
Se houvesse um Partido Fascista as coisas ficavam muito mais definidas e isso só seria bom, pois esclarecia de vez os ideais dos outros partidos (especialmente da Direita).
Posted by José Maria Pimentel | 3/2/06 1:49 da tarde