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Dadas de Carnaval

Há uma certa raça pseudo-intelectual alternativa que me contem com os nervos. Normalmente costuma andar mais à esquerda, mas também os há mais reaccionários (estes últimos trocam as t-shirts do Ché por outras com cartoons sobre Marx). Na minha opinião, que é tão só a opinião de um ser que se considera na fronteira entre o burgesso que berra com o árbitro e o homem que compra o jornal todos os dias, e que gosta de satisfazer a sua sede de consumo com alguns gadgets - mais um na multidão, portanto – este conjunto de seres que aparentam descobrir coisas fantásticas todos os dias, que ouvem música que ninguém ouve, vêem filmes que ninguém vê e lêem livros que não interessam nem a uma estátua de mármore - rejeitando tudo o que pareça mainstream - regem a sua conduta por directrizes que pescam da sua incapacidade de se inserirem no povinho de que dizem gostar mas em relação ao qual afirmam, sem sequer se aperceberem da incoerência do discurso, não ter qualquer afinidade.
Este espécie de antípoda de dandy (que aparenta gostar de ter mau aspecto) considera as suas opiniões e julgamentos acima de quaisquer outras. Não concebe, aliás, que haja pessoas a partilhar das mesmas ideias, mas que simplesmente não gostam de andar de sandálias a brincar ao 25 de Abril. O facto de conviverem com todo o tipo de pessoas que vive à margem da sociedade cria-lhes na cabeça a ilusão de que são verdadeiros conhecedores do mundo, e de que todos os outros são apenas corpos diluídos num todo que consideram fútil e superficial, de que fogem como o diabo da cruz.

O mais triste é que não se percebem que são apenas fashion victims (fashion surge aqui como conceito alargado) cuja tendência que seguem é apenas e só aquela que lhes é ditada pelos restantes membros da minoria a que julgam pertencer. O mais curioso é acharem que têm horizontes alargados porque leram clássicos e são liberais em matérias polémicas. O mais engraçado é não se aperceberem de que são apenas um amontoado de tendências e demagogias, de ideias impraticáveis, de meias de riscas fluorescentes, de clichés e lugares-comuns, de radicalismos que se desvanecem com a idade ou quando sentam, ao fim-de-semana, o rabo nos BMW dos papás. E o que nos descansa a todos é saber que mais dia, menos dia, cederão ao sistema que, longe de ser perfeito, é o único que nos/ lhes permite usufruir da liberdade que lhes é tão cara...

já para não falar do esgar e sorriso quase paternalistas com que nos olham, como quem diz "coitadinho, vive na ignorância...", quando ousamos falar de alguma coisa que..oh! meu deus! é do 'sistema'

Uhm não tenho a certeza se percebi a quem te referes com este post, de qualquer das formas estranhei quando vi que tinha sido assinado por ti...

O mais triste é que não se percebem que são apenas fashion victims (fashion surge aqui como conceito alargado)

Tal como eles são para ti "fashion victims", também não serás tu para eles uma? E não será a Lili Caneças também? E eu? E o vizinho do lado? Não seremos todos, para algém vítimas de qualquer onda fashion?

Na tua razão, eles são uma raça de pseudo-intelectuais alternativa, mas na razão deles tu é que és um ignorante...Afinal quem é que tem razão? Eles ou tu? (Serei eu, ou o padeiro, ou a ministra da educação ou a professora primária do bairro a ter a razão?)

Think about it... Fico à espera de resposta ;)

Inês:
Esse é apenas um da infinidade de tiques. Não te atrevas nunca a dizer a um que gostaste de um best seller...

Mariana:

Não me refiro a ninguém em particular. É uma análise esterótipada. Como tal, admito a hipótese de poder até estar errado e nem existir semelhante grupo de pessoas (ou a existir, não ser exactamente como retratei aqui).

Alice:

Não está aqui em causa quem é que tem razão ou não. Não pretendi com este texto uma análise objectiva, mas sim subjectiva. Não menos do que aquela que acabaste de fazer no teu comentário.
Quanto ao excerto que transcreveste e comentaste, chamo-te à atenção para a parte inicial do texto em que digo ser "mais um na multidão" - ou seja, inevitavelmente fashion victim (no sentido que estou a dar à expressão, obviamente): a única diferença é que a maior parte das pessoas assume-se como tal, sem qualquer tipo de problemas, enquanto que este grupo social (a existir, claro) pretende ser alternativo, pretensão essa que lhe dificulta a percepção de que afinal não são assim tão únicos.

Espero que todas as dúvidas tenham ficado esclarecidas...

Pois, a minha ideia é que em vários aspectos não é como retrataste aqui.

Desculpa a divagação sobre razão e objectividade, mas o teu texto inspirou-ma ;)

Podes então precisá-los, Mariana?

Posso, mas depois não te queixes :P

também os há mais reaccionários (estes últimos trocam as t-shirts do Ché por outras com cartoons sobre Marx).
Nunca vi nenhum tipo reacionário (quer estejas a falar dos de extrema-direita que ficam todos empolgados porque vai dar uma reportagem sobre o Mário Machado na RTP1, ou simplesmente alguém mais conservador) a usar t-shirts com cartoons sobre Marx. Acho que a maioria deles nem sabe quem foi Marx. Provavelmente é apenas mais um comuna e preferem usar t-shirts com caveiras e frases tipo "I hate the world" que cartoons que até podiam ter alguma piada, se bem feitos.

As pessoas de que falas podem rejeitar o que é mainstream não porque acham que é fixe fazerem-no, mas porque simplesmente têm, de facto, gostos diferentes dos da maioria, ou não? Quanto a lerem livros que ninguém lê, verem filmes, etc... lá está, se é o que eles gostam, porque não? Se calhar também acham os teus gostos desinteressantes até para uma estátua de mármore ou simplesmente pouco se importam com isso! Eu também não gosto de muitas coisas que são mainstream hoje em dia (e tenho a certeza que tu também não) e isso não quer dizer que as rejeite só por rejeitar, mas sim porque sinceramente não me atraem nada.

regem a sua conduta por directrizes que pescam da sua incapacidade de se inserirem no povinho de que dizem gostar mas em relação ao qual afirmam, sem sequer se aperceberem da incoerência do discurso, não ter qualquer afinidade.
Nesta parte senti-me visada, portanto vou tentar explicar a minha opinião sem parecer incoerente. Eu sou de esquerda e acredito na existência de um Estado Social que faculte uma série de serviços e bens à população e que colmate as tais leis invisíveis que comandam a economia e façam com que haja desigualdades. Não sou uma pessoa snob que sinta repulsa em andar de transportes públicos ao lado do povinho, como dizes, ou de conviver com ele e alegro-me de o ver na televisão em dias de eleições a votar, ou a manifestarem-se sobre qualquer coisa ou a darem opiniões. Porque isto é que é a democracia e prova que a nossa população faz uso dela e não pretende abdicar da mesma. Portanto, se ando a defender esta ou aquela ideia política é pelo povo do país em que vivo e não propriamente para mim, já que em certos aspectos são coisas que não me afectam ou que julgo não vir a precisar. E acho bonitos alguns costumes e tradições da nossa população, não tanto aqueles mais conhecidos tipo touradas e fado, mas sim aquelas pequenas histórias que se apanham em entrevistas na televisão, ou que lês em livros, ou que os teus avós te contam, etc. Nesse sentido, posso dizer que gosto do nosso povo. Por outro lado, não me iria sentir nada no meu elemento se estivesse numa festa popular a comer sardinha no pão e a ouvir Quim Barreiros. Tal como numa tourada, ou num jogo de futebol ou num café da esquina dum vilarejo qualquer. Consigo perceber perfeitamente que não sou como aquelas pessoas, que não cresci no mesmo meio e que tenho gostos e uma cultura bastante diferentes. Não estou a ajuizar qual é a melhor ou pior, mas apenas a aceitar que é diferente. Eu gosto de ler os livros de Miguel Torga, de ver o povo neles retratado e de poder ser capaz de melhorar as suas condições de vida, mas não me via nada sendo uma personagem deles. Como é que é a tua posição sobre este assunto, então?

(Ok, agora vem o parágrafo em que atinges o cúmulo do exagero)
Primeiro, o conceito de 'mau aspecto' é super subjectivo, eu não considero as roupas ou aparência dos hippies ou indivíduos mais à esquerda a que te referes dessa forma (isto supondo que é destas pessoas que estás a falar, daí eu até ter dito no meu primeiro comentário que não sabia se tinha percebido bem a quem te referias). E acho que se falasses com algum deles e desses a tua opinião sobre alguns assuntos, apesar de não seres uma "pessoa que vive à margem da sociedade", eles não te iriam considerar um "corpo diluído num todo que consideram fútil e superficial". Eu até acho que a maioria das pessoas, especialmente dos jovens (então dos mais novos que nós nem se fala), fazem parte dum todo fútil e superficial, o que não quer dizer que não esteja aberta a ouvir essas pessoas e ser-me provado o contrário! Nem, por esse facto, me considero "conhecedora do mundo", por isso acho que as pessoas de que falas também não se acham.

E eu não acho também que sejam fashion victims, no sentido de seguirem uma tendência sem a questionarem e de esta passar com o tempo, sinceramente até admiro essas pessoas que tão fervorosamente defendem os seus ideiais e que estão sempre dispostos a organizar reuniões ou manifestações, com as quais eu posso não concordar, mas admiro a sua capacidade de se entregarem a uma causa que acham justa e verdadeira e não sei se eu no lugar deles estaria disposta a faltar a aulas ou a fazer todas as semanas reuniões à noite para discutir assuntos polémicos e não propriamente para estar sentado no café a ver um jogo de futebol ou a beber uma cerveja com os amigos. E se calhar as suas ideias são impraticáveis por causa desse tal todo fútil e superficial que não hesita em aplicar-lhes estereótipos! Porque se há uns cujo idealismo se desvanece e têm um discurso incoerente ao sentarem-se depois num BMW, para muitos deles isto não é apenas uma brincadeira de adolescentes e levam-no a fundo como filosofia de vida. E penso que é triste essa ideia de um dia cederam ao sistema (os hippies transformarem-se em yuppies), pois mostra que apesar do esforço e apesar dessa minoria ter tentado transformar as suas ideias nas da maioria, não o conseguiu.

(não tenho a certeza se isto ficou bem explicado, mas como tenho de ir estudar escrevi um bocado à pressa, desculpa)

O teu comentário apenas confirma a minha ideia, Mariana. Não percebeste do quê nem de quem é que estava a falar...
Em primeiro lugar, os “mais reaccionários” de que falo não são, de todo, a espécie de andróides acéfalos que parecem ter sobrado do 3º Reich e que aparecem na RTP com caçadeiras e planos para matar toda a gente. Refiro-me mais ao jovem liberal de ideias à direita, ao jovem Opus, de família bem (em alguns casos). Já vi um ou outro com umas t-shirts em que se podia ler “Marx Park”, com umas figuras a que representavam Marx e Estaline a la “South Park”.
No que toca à “rejeição por tudo o que é Mainstream”, vejo que tomaste isso como um ataque à tua pessoa. Não falo de ti, Mariana. Falo, por exemplo, daquela manada que se concentra à porta de um cinema decrépito à meia-noite de quarta-feira, tão bem retratada neste sketch do “Gato Fedorento” (http://www.youtube.com/watch?v=-Ev7P9-46z4). Falo da mania, da moda de dizer mal de tudo o que as massas lêem, vêem e ouvem. E isto não é um estereótipo. Conheço pessoas assim (nas quais não acho que te incluas).

Em terceiro, Mariana, não duvido das tuas boas intenções e da firmeza da tuas convicções. Mas também não duvido dos teus sarcasmos em relação ao povão, do desdém com que dele falas em diversas situações. Sim, desse povão que come sardinhas e ouve Quim Barreiros. Uso aqui as tuas próprias palavras: “(...)têm, de facto, gostos diferentes dos da maioria, ou não? Quanto a lerem livros que ninguém lê, verem filmes, etc [comerem sardinhas e ouvirem Quim Barreiros, neste caso]... lá está, se é o que eles gostam, porque não? Se calhar também acham os teus gostos desinteressantes até para uma estátua de mármore ou simplesmente pouco se importam com isso!(...)”: no entanto, não é por isso que deixas de criticar esta atitude e de fazer piadas sobre o assunto, ou é? Ou vais-me dizer que nunca as fizeste e que ao marcares a diferença que existe entre ti e o “povão que come sardinhas e ouve Quim Barreiros” (até a própria expressão tem o seu quê de sarcasmo) não estás imediatamente a colocar-te num patamar superior? Provavelmente vais responder que não, mas não era de esperar o contrário. É muito mais simples para ti considerares-te diferente. Poupa-te ao trabalho de teres de explicar porque é que és, de certa maneira, superior. Poupa-te ao trabalho de teres de explicar porque é que isso entra necessariamente em colisão com a moral socialista que apregoas. Que como todos sabemos vê no operariado e no povo (não no povo de Häberle, mas no povão que come sardinhas e ouve Quim Barreios o seu fundamento). Há, de facto, uma dificuldade generalizada em perceber que, objectivamente, somos melhores numas coisas e que outros são melhores noutras. É esta absurda tentativa de democratização de estatutos sociais (e como eu odeio esta expressão) uma das grandes responsáveis pela mediocridade generalizada do nosso ensino superior e dos nossos licenciados (por exemplo). Se nos deixássemos de hipocrisias (como fizeram os nossos amigos alemães há uma data de anos), provavelmente não estaríamos na situação em que estamos.

Por último, no que diz respeito ao mau aspecto, também acho que me devo explicar melhor:
As coisas vivem-se em contextos. As roupas, a música, a literatura baseiam-se e são representações destes contextos. Ora, a partir do momento em que o contexto muda, a cultura - resumindo numa palavra - também muda. Porque deve mudar. Na minha modesta opinião, é aquilo a que podemos chamar progresso. Andar de barba por fazer e de sandálias rotas num contexto revolucionário é compreensível, visto que as pessoas têm coisas bem mais importantes com que se ocupar: todo o seu tempo é dedicado à causa em que estão embrenhadas. Ou seja, é uma consequência. Conservar o mesmo aspecto em plena democracia (lamento ter que dizer que era difícil estarmos melhor) não é uma consequência (e muito menos condenável): é moda. E cuja corrente (se assim lhe pudermos chamar) até está bem definida: retro. Nada mais que isso.
Por honestidade, cabe-me fazer o contraponto ao que acabei de dizer. OK, existem jovens revolucionários. No entanto, questiono-me acerca de que tipo de revolução pretendem fazer. Estou certo de que não será para ampliar os direitos e liberdades do povo (do povo de Häberle de que falei em cima – aqui sim).
Para acabar, permite-me estabelecer aqui uma pequena analogia entre o seguinte parágrafo...

“(...)E eu não acho também que sejam fashion victims, no sentido de seguirem uma tendência sem a questionarem e de esta passar com o tempo, sinceramente até admiro essas pessoas que tão fervorosamente defendem os seus ideiais e que estão sempre dispostos a organizar reuniões ou manifestações, com as quais eu posso não concordar, mas admiro a sua capacidade de se entregarem a uma causa que acham justa e verdadeira e não sei se eu no lugar deles estaria disposta a faltar a aulas ou a fazer todas as semanas reuniões à noite para discutir assuntos polémicos e não propriamente para estar sentado no café a ver um jogo de futebol ou a beber uma cerveja com os amigos. E se calhar as suas ideias são impraticáveis por causa desse tal todo fútil e superficial que não hesita em aplicar-lhes estereótipos!...”

...e uns outros que retirei de um site de jovens, também eles muito dedicados:

“(...)Passar uma noite em claro, deitar às duas ou três da manhã ou acordar às 4h da manhã para, por exemplo, ir fazer uma colagem de cartazes são sacrifícios que, infelizmente, muito poucas pessoas já fizeram e é algo que um número ainda mais reduzido de militantes faz de forma continuada(...)”

“(...)Trabalhar regularmente para o movimento durante uns meses ou por um, dois ou três anos é melhor do que nada, mas é imprescindível que todos se mentalizem de que à nossa frente estão muitos anos de trabalho. Na verdade, deve estar toda uma vida de trabalho, mas um trabalho que não deve ser encarado como um fardo, como uma «grande chatice», mas um trabalho que se torna num prazer e num infinito orgulho. Um trabalho que nos faz sentir bem, um trabalho que deve ser encarado com toda a seriedade, claro, mas também com toda a alegria. Sem dúvida de que «o trabalho liberta» e este trabalho ajuda a libertar todo um povo, o nosso povo!...”


“(...) se pensarmos que quanto mais actividades construtivas e projectos sérios formos realizando e fortalecendo, mais odiados ainda somos; então é sem dúvida caso para dizer que «sim, temos um infinito orgulho por sentir esse ódio de tão desprezíveis sujeitos, que representam tudo aquilo que combatemos (...)”


Permite-me, então, que te questione, Mariana: a dedicação destes jovens já não admiras? Destes que também organizam manifestações com as quais tu não podes concordar? Destes que se entregam a uma “causa que consideram justa e verdadeira”? Destes que também consideram as suas ideias impraticáveis por causa do “todo fútil e superficial que não hesita em aplicar-lhes estereótipos”? O que diz a tua coerência, Mariana?

Fico à espera da resposta e btw, serás responsabilizada pela minha nota na frequência de Constitucional :P

Esqueci-me de dizer que os parágrafos foram retirados do site da "Frente Nacional"...

Resta-me perguntar qual o mal de ir ver cinema independente na quarta-feira à noite? Bem melhor que os gajos que iam ao Olímpia matar a fome ao instinto, não? Ah, não, esses são melhores, não têm aquele ar de quem "aparenta gostar de ter mau aspecto".

Como disse a Clara Ferreira Alves (que está longe ser alvo da tua crítica), "vocês já repararam os livros que se vendem?" A maioria são uma porcaria (foi esta a ideia da sua resposta). Portanto, não me espanta que haja alguém que leia livros diferentes. O mesmo para os filmes. E para a música (sobretudo, quando ser-se diferente é não ouvir D'ZRT).

Este é um "post" que ficaria muito bem se estivesses num curso de sociologia e o teu professor fosse o Miguel Esteves Cardoso (que não, não é de sociologia)... aqui, demarca-se do teu estilo habitual. E olha que isso normalmente só ocorre aos quarenta anos quando notas que aquele socialismo em que acreditavas não era assim tão bom e o Cavaco não era assim tão mau (apenas era pragmáico)...

Pedri

Porque é que me parece, Pedro, que tu e Mariana estão...ofendidos? Eu já disse repetidas vezes que não visei atacar/ criticar ninguém em particular com este texto (muito menos a vocês), não me ouviste (viste) dizer que ver cinema não americano, ler bons livros, ou não ouvir D'ZRT te faz imediatamente uma das espécies de que falo aqui e, btw, quem ia ao Olímpia tinha mau aspecto e sim, a Clara Ferreira Alves é uma encartada de primeira cujos devaneios variam entre Proust e as gravações do serviço 118 (que a incomodam muito).

De resto, como não pertenço a nenhuma seita e gosto de dizer o que bem me apetece, não me chateia nada fugir ao meu estilo habitual. Antes pelo contrário.

“António” :P

Eu não acho que tenhas visado atacar alguém em particular com este post, nem que, caso o tenhas feito, esse alguém era eu ou o Pedro, a questão é que eu pessoalmente me revi em vários dos aspectos que criticas nesse tal grupo de pessoas, é só isso.

Quando tiver mais tempo e paciência (aka ter feito a oral que está para breve) respondo-te ao teu comentário.

Eu acho que o cerne da 'crítica' não é questionar a integridade das causas que defendem, mas o modo como rejeitam qualquer hipótese que outro apresente diferente da deles. Como se, por até gostarmos de ver um filme americano de vez em quando, o que dizemos já não possa ser validado ou valorizado. Nisso concordo plenamente com o António

Bom post. E reacções interessantes nos comments.
Se me é permitido, acho que se está a confundir duas situações que não são necessariamente coincidentes. Uma tem a ver com posições políticas e outra com posições culturais.
Umas são aquelas pessoas militantemente anti-sistema (mais à esquerda ou mais à direita) que acreditam piamente que o mundo é governado por forças omnipresentes e obscurantistas e que somos todos meras marionetas conduzidas por uma ditadura global de carácter capitalista / sionista / imperialista / alienígena (riscar o que não interessa). Quanto a esses nada a dizer. Cada um acredita e luta por aquilo que bem entende. Cá estaremos todos para trocar opiniões quando for preciso e quem quiser é perfeitamente livre de apresentar as suas ideias iluminadas a eleições. (Menos os fascistas mas... pronto, condicionalismos históricos que provavelmente irão mudar)
A outra questão tem a ver com escolhas culturais. E aí julgo que o ideal deve ser exactamente o contrário. Quanto menos voluntarismo melhor. São de evitar os dois extremos: aqueles que acham que a cultura de massas não passa de alienação da “verdade” e aqueles que acham que os outros são todos uns excêntricos, diletantes e presunçosos.
A minha opinião sobre isso é muito simples. Muito francamente, acho que a cultura mainstream é terrível. Vejo pouca televisão, nunca comprei um álbum do “top” e acho que nenhum dos meus livros favoritos faz parte das listas de best sellers. Simplesmente... não gosto. E... bem... provavelmente isso é bem capaz de provir da minha incapacidade de me inserir no povinho, do qual aliás, não sei se gosto. Gosto de pessoas... as que conheço e que me rodeiam. Já o “povo”... enquanto entidade mitigada vagamente rousseauniana não me inspira grande apreço. Pelo menos no que diz respeito a arte. O “povo” (o que quer que isso seja) tem geralmente um gosto atroz.
Posto isto, vem o mais importante: nada disto me preocupa. Não creio que os outros sejam uma manada fútil e cega porque os livros que consomem não me interessam. Não creio que caminhemos para o Apocalipse de cada vez que alguém compra um álbum do Tony Carreira. Nisto, como em muitas outras coisas, sou um liberal. Não tenho vocação para missionário. Cada um gosta do que bem entende e não tem satisfações a dar a ninguém. A sociedade de mercado tem essa vantagem: liberdade de escolha. Não gosto do James Blunt? Acho o Dan Brown um lixo? Tenho bom remédio... não compro isso e gasto o meu dinheiro noutras coisas. Não creio que o declínio da civilização ocidental venha dos Paulos Coelhos ou da Margarida Rebelo Pinto. Acho no entanto verdadeiramente louvável que haja pessoas que se interessam por algo que está um pouco à margem do “popular”. Acredito que, de longe, as propostas mais inovadoras e excitantes não são as que vendem mais. Não sei se partilho portanto dessa tua raiva aos que “aparentam descobrir coisas fantásticas todos os dias, que ouvem música que ninguém ouve, vêem filmes que ninguém vê e lêem livros que não interessam nem a uma estátua de mármore “. Já mantenho alguma distância em relação aquelas mentes iluminadas que pretendem sempre “estatizar” a liberdade cultural. Que acham que o meu dinheiro deve servir para financiar peças geniais e incompreendidas que ninguém vai ver, filmes modorrentos e simbolistas a meia luz que também ninguém gosta ou companhias de bailado moderníssimas que toda a gente adora... depois de abrirem falência. Ou até, a cereja em cima do bolo, daquelas sumidades culturais que se lembraram de maravilhas portuguesas como “Planos Nacionais da Leitura” ou música da rádio com quotas.

P. S. – Acho que até sou um jovem liberal com ideias à direita. Não sou da Opus mas até sou católico. Não tenho a t-shirt do “I Hate the World” mas em compensação tenho uma “Revenge Is Sweet”, “Drown In Blood”, “The End Is Fucking Near” e “Are You Ready For The Thrash Killing Machine?”. Visto-me mal Segundo a opinião do meu pai. E…gosto da minha família…por isso deve ser mais menos família bem. Não sei se não acabo por me enquadrar nisso tudo;)

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

E o que nos descansa a todos é saber que mais dia, menos dia, cederão ao sistema que, longe de ser perfeito, é o único que nos/ lhes permite usufruir da liberdade que lhes é tão cara...
Antes de mais, é difícil entender "o sistema" como um conceito, é a tua representação do mainstream. Não estou certo de que haja uma cedência ao "sistema", mas antes que esse mesmo sistema absorve as tendências que eu entendo como forças de mudança. A sua absorção surge de acordo com o grau de conformismo desse ideal. Vou fugir aos exemplos de "Ché"'s e afins, para um outro mais recorrente mas menos visado porque já absorvido - o hip-hop. Numa primeira fase do rap militante, de rua, o "sistema" activa os mecanismos de repressão, como a polícia, quando se torna movimento mais alargado, o movimento hip-hop é absorvido em marcas de roupa, filmes e jogos de computador. Na sequência há, regra geral, a continuação de uma outra forma de forças em colisão - o rap-sou-mau-e-mato-vos-a-todos do nosso 50 cent, o hip-hop que procura uma nova mensagem face a um novo contexto do movimento e, finalmente, o rap anti-50 cent.
Todos eles reivindicam uma forma de pensar e viver muito característica, prefiro entende-los como intelectuais-parciais, por mais idiotas que me pareçam (lol), a pseudo-intelectuais. Todos eles adoptam uma arrogância reles porque esta é, inevitavelmente, recíproca. Parece-me que este modelo facilmente se transporta a situação que descreves, tu vê-los como pseudo intelectuais porque rejeitam o mainstream e, no reverso da medalha, “eles” não te entendem como intelectual porque te identificas com, pelo menos, parte do mainstream. Ainda, à velocidade a que as mudanças hoje se operam, uma velocidade de auto-teorização mais rápida do que as ciências sociais conseguem fornecer, é fácil entender a realidade social como facilmente explicável - felizmente estás ciente da tua subjectividade (o que acontece com poucos) – e eu concordo contigo, na maioria dos aspectos mas também entendo que nos devemos incluir na nossa representação... No fundo, o moralmente certo seria a velha história de “exercitar a tolerância e a aceitação da diferença”, como parece ser a ideia (e uma boa ideia!) da Alice na resposta ao teu post mas, francamente, ninguém quer saber disso para nada...

Retiro a minha sugestão do ultimo comentario de te incluires na tua representação, porque já o fizeste nos comentários :P

Penso ser de bom tom agradecer a todos os que participaram na discussão. Mais uma vitória contra a "geração rasca" :D

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