O que queria dizer I
Carrilho:
Carrilho é uma personagem singular. Apesar do seu gigantesco ego e da sua arrogância, consigo ver nele uma certa dose de razão. É já um dado adquirido – o facto da nossa comunicação social (generalizando, obviamente) não prestar – as notícias reality show; as entrevistas de rua que nada acrescentam à notícia que se está transmitir; os telejornais que duram o dobro do que deviam durar; os comentários e piadinhas dos pivots; a forma parcial como (e volto a repetir – generalizando) a maior parte das notícias chegam até nós. Hoje em dia, e aparentemente, o trabalho de um jornalista já não se resume só a transmitir a notícia. Este parece incumbido da perigosa (e pouco deontológica) tarefa de a tornar mais interessante aos olhos do leitor/ espectador. Porque o que interessa hoje a um jornal é vender, tal como o que interessa a um telejornal é ser líder de audiências – objectivo que não dá espaço à ética e ao profissionalismo para se manifestarem.
Mas creio que o que se passou com Carrilho foi algo um pouco diferente. Aparte o famoso vídeo (”Em que me filmam de trás! De trás, Ricardo Costa!”) do não aperto de mão a Carmona, parece-me ter ocorrido um fenómeno que se tem vindo já a verificar noutras ocasiões – comentadores e jornalistas influenciarem-se mutuamente. A meu ver, foi o mesmo que ocorreu na campanha de Soares (e até de Cavaco). Estes seres apostam numa estranha concordância que produz os seus efeitos. Assim, vamos ouvindo repetidamente refrões - extremamente eficazes na moldagem da opinião pública (ex: “Ele está demasiado velho!”; “Já deu o que tinha a dar!” (no caso de Soares), ou: “É um tecnocrata!”; “Não tem bagagem humanista!”; etc.”(no caso de Cavaco)). Normalmente, formam-se (naturalmente...) duas correntes – uma pró e outra contra - havendo sempre uma dominante. No caso de Carrilho, a corrente dominante foi obviamente a contra. Era muito raro ouvir um comentário favorável a Carrilho. E, para alem disso, os opinion makers juntavam-lhes certos requintes de maldade (ex: “Desta vez não trouxe a mulher!, etc.”). Quem me lê pensará certamente – “isso é óbvio, não descobriste nada de novo”. Pode ser bem verdade. Mas o problema fulcral parece-me ser outro: a partir do momento em que se descobrem estes mecanismos, é muito mais fácil para os interessados num resultado x ou y concretizarem os seus propósitos. Por outras palavras: passa-se a saber por onde pegar.
Apesar de não ter lido o livro de Carrilho, e de não subscrever tudo o que (manifestamente exaltado) foi dito por ele na tourada da RTP1, penso (tal como já disse) que o homem tem alguma razão. Mas o seu modus operandi apenas contribui para que os mesmos que (consciente ou inconscientemente) lhe arruinaram a campanha se continuem a divertir. E sou forçado a concordar com Pacheco Pereira: este é um debate bastante pertinente, mas não nestes moldes. Se MMC pusesse de parte a sua arrogância e assumisse a derrota (merecida ou não) seria muito mais fácil para ele iniciar o debate. E claro - ser ouvido...
Carrilho é uma personagem singular. Apesar do seu gigantesco ego e da sua arrogância, consigo ver nele uma certa dose de razão. É já um dado adquirido – o facto da nossa comunicação social (generalizando, obviamente) não prestar – as notícias reality show; as entrevistas de rua que nada acrescentam à notícia que se está transmitir; os telejornais que duram o dobro do que deviam durar; os comentários e piadinhas dos pivots; a forma parcial como (e volto a repetir – generalizando) a maior parte das notícias chegam até nós. Hoje em dia, e aparentemente, o trabalho de um jornalista já não se resume só a transmitir a notícia. Este parece incumbido da perigosa (e pouco deontológica) tarefa de a tornar mais interessante aos olhos do leitor/ espectador. Porque o que interessa hoje a um jornal é vender, tal como o que interessa a um telejornal é ser líder de audiências – objectivo que não dá espaço à ética e ao profissionalismo para se manifestarem.
Mas creio que o que se passou com Carrilho foi algo um pouco diferente. Aparte o famoso vídeo (”Em que me filmam de trás! De trás, Ricardo Costa!”) do não aperto de mão a Carmona, parece-me ter ocorrido um fenómeno que se tem vindo já a verificar noutras ocasiões – comentadores e jornalistas influenciarem-se mutuamente. A meu ver, foi o mesmo que ocorreu na campanha de Soares (e até de Cavaco). Estes seres apostam numa estranha concordância que produz os seus efeitos. Assim, vamos ouvindo repetidamente refrões - extremamente eficazes na moldagem da opinião pública (ex: “Ele está demasiado velho!”; “Já deu o que tinha a dar!” (no caso de Soares), ou: “É um tecnocrata!”; “Não tem bagagem humanista!”; etc.”(no caso de Cavaco)). Normalmente, formam-se (naturalmente...) duas correntes – uma pró e outra contra - havendo sempre uma dominante. No caso de Carrilho, a corrente dominante foi obviamente a contra. Era muito raro ouvir um comentário favorável a Carrilho. E, para alem disso, os opinion makers juntavam-lhes certos requintes de maldade (ex: “Desta vez não trouxe a mulher!, etc.”). Quem me lê pensará certamente – “isso é óbvio, não descobriste nada de novo”. Pode ser bem verdade. Mas o problema fulcral parece-me ser outro: a partir do momento em que se descobrem estes mecanismos, é muito mais fácil para os interessados num resultado x ou y concretizarem os seus propósitos. Por outras palavras: passa-se a saber por onde pegar.
Apesar de não ter lido o livro de Carrilho, e de não subscrever tudo o que (manifestamente exaltado) foi dito por ele na tourada da RTP1, penso (tal como já disse) que o homem tem alguma razão. Mas o seu modus operandi apenas contribui para que os mesmos que (consciente ou inconscientemente) lhe arruinaram a campanha se continuem a divertir. E sou forçado a concordar com Pacheco Pereira: este é um debate bastante pertinente, mas não nestes moldes. Se MMC pusesse de parte a sua arrogância e assumisse a derrota (merecida ou não) seria muito mais fácil para ele iniciar o debate. E claro - ser ouvido...