Auto da Barca Moderno - Drama em Prosa Literária versão Semi-Épica
Tem movido jornais e telejornais, um autentico Auto da Barca do Inferno que este Gil Vicente tem levado diariamente a cena de forma incansável durante os últimos três meses. A tragédia é composta por dois personagens principais, duas secundárias (uma delas em estado de profunda esquizofrenia), havendo ainda espaço para vários figurantes.
Gil é um personagem esforçado e empenhado, natural da zona norte de um país subdesenvolvido. Nasceu e foi criado no seio do lucro fácil e da corrupção desmedida, contraindo desde cedo um enorme talento para toda essa actividade. Belém é um dos irmãos mais velhos de Gil. Ambos são filhos de um pai terrivelmente esquizofrénico que não consegue vencer a dupla personalidade que entra em brutal conflito dentro de si. Tem dentro de si a personalidade de Federação, um indivíduo calmo que reflecte os seus momentos mais controlados (por vezes apenas com ajuda de muitos comprimidos anti depressivos); e tem a Liga, o outro lado da sua esquizofrenia avançada, que desponta em si os piores ataques de raiva e loucura, que o conduzem a atitudes que caem desde o arrependimento até ao esquecimento forçado pela sua parte e de todos, independentemente das consequências. Ambos os irmãos filhos do pai esquizofrénico vivem numa contínua angústia derivada de não consentirem a preferência do pai por três dos filhos, em tudo por ele beneficiados.
Tudo se passa numa altura em que o drama do pai se agrava, quando a sua segunda personalidade (a Liga), em que se transforma numa espécie de militarão na reserva, um homem multifacetado para os mais diversos ofícios, capaz das piores atrocidades e negociatas pelo mais pequeno punhado de moedas. Para além disso, cerca de dez anos antes (1496), um delegado do ministério público corrupto, que trabalhava para os lados de S. Bento, ao abrigo de uma falha na Lei, tinha conseguido registar o pai de Gil, Belém e dos restantes irmãos com duas identidades: a Federação, mais calma e moderada, embora nem sempre exemplar; e a Liga: a identidade que levava este pai a cometer os piores erros e que teimava violentamente em separar-se da Federação, originando penosas, violentas e tristes cenas de crise de esquizofrenia. Claro que perante isto, o estado da doença apenas poderia piorar, visto que o próprio pai, bem como alguns irmãos acabavam por, em vez de se aperceber de um caso bicudo de esquizofrenia, não reconhecer o seu próprio pai e encontrar nele dois indivíduos distintos (cada um era uma face da doença mental prolongada).
Numa batalha, Gil infringe as regras. Põe em combate um indivíduo que não estava registado como soldado, mas sim como porteiro. Tal atitude ia contra as regras de educação dura que o pai esquizofrénico tinha dado aos seus filhos. Pena era que o seu estado de deterioração mental já estivesse demasiado avançado para que este tomasse uma decisão do castigo a aplicar sem voltar atrás algumas dezenas de vezes.
O líder espiritual do pai (Fernando Inácio Fernandes Alberto), ao saber que ele não controlava a sua vida familiar como seria de esperar de um pai mentalmente saudável, ameaçou vir a castigar todos os irmãos, não os voltando a convidar para os cobiçados torneios anuais que organizava. Para isso dava os exemplos dos irmãos estrangeiros. Porém a intolerância insensível de FIFA não compreendia uma coisa: os pais das famílias europeias eram mentalmente saudáveis; lá longe, nos seus países, não havia uma autoridade paternal tão debilitada e esquizofrénica como no país de Gil, de Belém e dos restantes 14 irmãos. Nisto Gil, teimoso e manhoso, tenta a todo o custo salvar-se da gravidade da situação recorrendo aos mesmos delegados do ministério público que tinham agravado os problemas mentais do seu pai. Porém, FIFA (líder espiritual), sabendo o perigo que isso viria a ser e o descrédito que lhe viria a trazer, desautoriza Gil. Este teima em não se fazer rogado, admitindo não temer ser deserdado e começar uma nova vida do zero, mesmo que para isso queime todos os seus irmãos. Para isso, conta com o apoio da quase totalidade dos abutres que se passeiam pelo seu país alegremente. Ao saber que Belém iria lucrar com o castigo de Gil que o pai não conseguia decidir, aparece Leixões, um bastardo idoso, figurante que tenta de forma tão fugaz como frustrada deitar a mão aos proveitos, lamentando-se por se achar incompreendido.
Um desenrolar interessantíssimo, um elenco fora de série, momentos de drama, romance e comédia, numa peça a não perder em qualquer teatro perto de si todos os dias. Entrada livre. Não deixe de ficar para ver. Tal como eu, você vai ficar doido para saber como acaba.
Leia-me também em www.show-de-bola.blogspot.com
Gil é um personagem esforçado e empenhado, natural da zona norte de um país subdesenvolvido. Nasceu e foi criado no seio do lucro fácil e da corrupção desmedida, contraindo desde cedo um enorme talento para toda essa actividade. Belém é um dos irmãos mais velhos de Gil. Ambos são filhos de um pai terrivelmente esquizofrénico que não consegue vencer a dupla personalidade que entra em brutal conflito dentro de si. Tem dentro de si a personalidade de Federação, um indivíduo calmo que reflecte os seus momentos mais controlados (por vezes apenas com ajuda de muitos comprimidos anti depressivos); e tem a Liga, o outro lado da sua esquizofrenia avançada, que desponta em si os piores ataques de raiva e loucura, que o conduzem a atitudes que caem desde o arrependimento até ao esquecimento forçado pela sua parte e de todos, independentemente das consequências. Ambos os irmãos filhos do pai esquizofrénico vivem numa contínua angústia derivada de não consentirem a preferência do pai por três dos filhos, em tudo por ele beneficiados.
Tudo se passa numa altura em que o drama do pai se agrava, quando a sua segunda personalidade (a Liga), em que se transforma numa espécie de militarão na reserva, um homem multifacetado para os mais diversos ofícios, capaz das piores atrocidades e negociatas pelo mais pequeno punhado de moedas. Para além disso, cerca de dez anos antes (1496), um delegado do ministério público corrupto, que trabalhava para os lados de S. Bento, ao abrigo de uma falha na Lei, tinha conseguido registar o pai de Gil, Belém e dos restantes irmãos com duas identidades: a Federação, mais calma e moderada, embora nem sempre exemplar; e a Liga: a identidade que levava este pai a cometer os piores erros e que teimava violentamente em separar-se da Federação, originando penosas, violentas e tristes cenas de crise de esquizofrenia. Claro que perante isto, o estado da doença apenas poderia piorar, visto que o próprio pai, bem como alguns irmãos acabavam por, em vez de se aperceber de um caso bicudo de esquizofrenia, não reconhecer o seu próprio pai e encontrar nele dois indivíduos distintos (cada um era uma face da doença mental prolongada).
Numa batalha, Gil infringe as regras. Põe em combate um indivíduo que não estava registado como soldado, mas sim como porteiro. Tal atitude ia contra as regras de educação dura que o pai esquizofrénico tinha dado aos seus filhos. Pena era que o seu estado de deterioração mental já estivesse demasiado avançado para que este tomasse uma decisão do castigo a aplicar sem voltar atrás algumas dezenas de vezes.
O líder espiritual do pai (Fernando Inácio Fernandes Alberto), ao saber que ele não controlava a sua vida familiar como seria de esperar de um pai mentalmente saudável, ameaçou vir a castigar todos os irmãos, não os voltando a convidar para os cobiçados torneios anuais que organizava. Para isso dava os exemplos dos irmãos estrangeiros. Porém a intolerância insensível de FIFA não compreendia uma coisa: os pais das famílias europeias eram mentalmente saudáveis; lá longe, nos seus países, não havia uma autoridade paternal tão debilitada e esquizofrénica como no país de Gil, de Belém e dos restantes 14 irmãos. Nisto Gil, teimoso e manhoso, tenta a todo o custo salvar-se da gravidade da situação recorrendo aos mesmos delegados do ministério público que tinham agravado os problemas mentais do seu pai. Porém, FIFA (líder espiritual), sabendo o perigo que isso viria a ser e o descrédito que lhe viria a trazer, desautoriza Gil. Este teima em não se fazer rogado, admitindo não temer ser deserdado e começar uma nova vida do zero, mesmo que para isso queime todos os seus irmãos. Para isso, conta com o apoio da quase totalidade dos abutres que se passeiam pelo seu país alegremente. Ao saber que Belém iria lucrar com o castigo de Gil que o pai não conseguia decidir, aparece Leixões, um bastardo idoso, figurante que tenta de forma tão fugaz como frustrada deitar a mão aos proveitos, lamentando-se por se achar incompreendido.
Um desenrolar interessantíssimo, um elenco fora de série, momentos de drama, romance e comédia, numa peça a não perder em qualquer teatro perto de si todos os dias. Entrada livre. Não deixe de ficar para ver. Tal como eu, você vai ficar doido para saber como acaba.
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