La Mala Educacion (de nosotros, claro)
a mesa de cafe
Gil Vicente, 21:30. Alice. Zé. Eu. Flipa. Prestes a ir, uma vez mais, ou simplesmente pela primeira vez, descobrir Almodovár. Uns tinham a vaga ideia do que seria este filme. Outros ficaram atónitos com a forma escolhida por Almodovár para transmitir uma mensagem. Talvez de sufoco, talvez de mera reflexão; introspecção...ou mera observação. Lê-se o cinema deste realizador. Que não resiste à tentação de experimentar o diferente, incluindo o seu universo em cada um. Umas vezes de forma súbtil, outras de forma gritante, como é o caso deste. Estas películas acrescentam um pouco mais aquilo a que chamamos sociedade. Somos confrontados, em grande plano, com realidades que não são as nossas. Com mundos distantes, obscuros...fictícios ou não...mas a quem cabe decidir? A nós? Ao realizador? Parece-me que a nós, mala educacion é a nossa. Não estamos, com efeito, preparados para aceitar a realidade, que tentamos afastar a cada segundo, pensando que não poderá estar ao nosso lado, sentada numa cadeira de cinema, palpitante atrás de nós. Um choro comovido foi ouvido pelo Zé. Alguém ficou marcado por aquele filme. Mas nós saíamos galhofeiros, alegres, gozando com o cenário avantesco que se movimentava na entrada, crentes de que toda a gente sería mal educada como nós. Parece-me que muitos eram.
O flagêlo da droga nas décadas de 70/80 é-nos pintado eximiamente por um pintor que não sabe ao certo o que pintar, nem como pintar. As únicas cores que consegue usar são os sentimentos com que mancha os seus filmes. Já em Habla con ella o realizador nos tinha presenteado com um emaranhado de emoções.
Não me assumo, efectivamente, como conhecedor deste realizador, mas sei reconhecer uma obra de arte quando a tenho diante dos meus olhos. Meio duvidoso fui ver este último filme ao cinema, receando mais um filme para intelectuais, e saí emocionadamente reflexivo. O cinema não provoca em mim um choro desiquilibrado, nem choro me provoca sequer. Mas a forma como cada filme se introduz no meu cérebero faz com que, queira ou não, medite um pouco sobre o que acabei de ver. No caso de Almodóvar faz com que medite muito. No caso de Mala Educación fez com que tivesse de descrever o que tinha visto.
Penso que neste filme o realizador volta um pouco ao estilo de Tudo sobre mi madre. Diferente, como é característica inerente a este, mas igual. Introduz novamente as personagens do seu mundo, mas não tão insinuadamente como no mais recente. Talvez por anteriormente não necessitar...mas isto leva-nos a uma questão que para mim é fulcral no meio de toda esta reflexão: era necessário isto, de uma forma tão intensa? Na minha opinião penso que o filme não perderia com a sobriedade, mas talvez Almodovár esteja simplesmente cansado de ser sóbrio. Abstrai-se do que a crítica poderá dizer, do que as pessoas poderão pensar. Sabe para quem faz os seus filmes, da maneira que faz - e é esta qualidade que é louvável num realizador, independentemente do assunto que trata no filme. Não lhe interessa o cliché , a noção de exagero. Filma o que vê. E se o que vê é aquilo, não sente problema nenhum em o fazer passar. Ninguém é obrigado a ver o seu cinema. Entendo que este não fala de heterosexualidade/homosexualidade. Fala da mente, das relações humanas, sem qualquer tipo de preconceito ou problema, paradigma ou ideia pré-concebida. As is...ipsis verbis...Quem gostar entende...quem não gostar não compreende...quem se sentir indiferente não interioriza. Ou pelo menos assim deve pensar o realizador. Eu olho Almodovár. Olho as suas relações...Gosto, mas não entendo...
Gil Vicente, 21:30. Alice. Zé. Eu. Flipa. Prestes a ir, uma vez mais, ou simplesmente pela primeira vez, descobrir Almodovár. Uns tinham a vaga ideia do que seria este filme. Outros ficaram atónitos com a forma escolhida por Almodovár para transmitir uma mensagem. Talvez de sufoco, talvez de mera reflexão; introspecção...ou mera observação. Lê-se o cinema deste realizador. Que não resiste à tentação de experimentar o diferente, incluindo o seu universo em cada um. Umas vezes de forma súbtil, outras de forma gritante, como é o caso deste. Estas películas acrescentam um pouco mais aquilo a que chamamos sociedade. Somos confrontados, em grande plano, com realidades que não são as nossas. Com mundos distantes, obscuros...fictícios ou não...mas a quem cabe decidir? A nós? Ao realizador? Parece-me que a nós, mala educacion é a nossa. Não estamos, com efeito, preparados para aceitar a realidade, que tentamos afastar a cada segundo, pensando que não poderá estar ao nosso lado, sentada numa cadeira de cinema, palpitante atrás de nós. Um choro comovido foi ouvido pelo Zé. Alguém ficou marcado por aquele filme. Mas nós saíamos galhofeiros, alegres, gozando com o cenário avantesco que se movimentava na entrada, crentes de que toda a gente sería mal educada como nós. Parece-me que muitos eram.
O flagêlo da droga nas décadas de 70/80 é-nos pintado eximiamente por um pintor que não sabe ao certo o que pintar, nem como pintar. As únicas cores que consegue usar são os sentimentos com que mancha os seus filmes. Já em Habla con ella o realizador nos tinha presenteado com um emaranhado de emoções.
Não me assumo, efectivamente, como conhecedor deste realizador, mas sei reconhecer uma obra de arte quando a tenho diante dos meus olhos. Meio duvidoso fui ver este último filme ao cinema, receando mais um filme para intelectuais, e saí emocionadamente reflexivo. O cinema não provoca em mim um choro desiquilibrado, nem choro me provoca sequer. Mas a forma como cada filme se introduz no meu cérebero faz com que, queira ou não, medite um pouco sobre o que acabei de ver. No caso de Almodóvar faz com que medite muito. No caso de Mala Educación fez com que tivesse de descrever o que tinha visto.
Penso que neste filme o realizador volta um pouco ao estilo de Tudo sobre mi madre. Diferente, como é característica inerente a este, mas igual. Introduz novamente as personagens do seu mundo, mas não tão insinuadamente como no mais recente. Talvez por anteriormente não necessitar...mas isto leva-nos a uma questão que para mim é fulcral no meio de toda esta reflexão: era necessário isto, de uma forma tão intensa? Na minha opinião penso que o filme não perderia com a sobriedade, mas talvez Almodovár esteja simplesmente cansado de ser sóbrio. Abstrai-se do que a crítica poderá dizer, do que as pessoas poderão pensar. Sabe para quem faz os seus filmes, da maneira que faz - e é esta qualidade que é louvável num realizador, independentemente do assunto que trata no filme. Não lhe interessa o cliché , a noção de exagero. Filma o que vê. E se o que vê é aquilo, não sente problema nenhum em o fazer passar. Ninguém é obrigado a ver o seu cinema. Entendo que este não fala de heterosexualidade/homosexualidade. Fala da mente, das relações humanas, sem qualquer tipo de preconceito ou problema, paradigma ou ideia pré-concebida. As is...ipsis verbis...Quem gostar entende...quem não gostar não compreende...quem se sentir indiferente não interioriza. Ou pelo menos assim deve pensar o realizador. Eu olho Almodovár. Olho as suas relações...Gosto, mas não entendo...