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Era mais uma polémica...ou então...duas!

a mesa de cafe: Fevereiro 2005

Não gosto de deixar os meus trabalhos a meio. É uma vicicitude que me mete nojo, e mete nojo a mim próprio quando eu próprio a pratico. Mas parece que por Carlos da Maia, o Carlos que segundo alguns era Eça se ter deixado entregar a ele é desculpa para toda a gente o cultivar - o diletantismo assume proporções fantasmagóricas na nossa sociedade. E até os políticos o respeitam, e mais, o praticam!
Assim, esta introdução toda para vos falar de mais dois temas que são tabu absoluto. O primeiro por felizmente não fazer parte da nossa realidade, essa em que vivemos embrenhados sem fazer muita questão de saír dela. O segundo por ser uma coisa que aos olhos das mamãs mais...enfim...Santanetes, só acontece com os filhos dos divorciados, coitaditos - "O meu Bernardo?! A menina tá doidaaaaaaa?!". Já perceberam então que vos venho falar da eutanásia e da legalização das drogas.
Para quem me conhece, e partilha ou não das minhas ideologias (partidárias ou não), quem lê os meus textos, sabe que para mim este assunto nem deveria dar azo a muita discussão nem polémica. Após confirmar algumas opiniões com alguma pesquisa, mais propriamente com um site deplorável que me deixou transtornado com a pouca qualidade e solidez dos seus argumentos, mantenho-me firme, como o fiz em relação ao aborto e à homossexulidade. A eutanásia nunca poderá ser encarada do ponto de vista utilitário - chega a ser repugnante ler coisas como esta "(...)Naturalmente, cada vez pesam mais os motivos económicos - embora não seja apenas isso - pois, como foi dito mais de uma vez, algumas pessoas já não produzem e acabam por ser mais baratas mortas do que vivas.(...). Chamem-me ingénuo, mas não acredito que alguém a pense assim...pelo menos não acredito que o PS e a esquerda a pensem assim. O utilitarismo é abundantemente utilizado mais em partidos que consideram o "ambiente útil para criar emprego". Esses sim, poderiam passar a ver a vida humana deste modo, e pararem de nos azucrinar com o seu puritanismo cínico, ajudado por uma igreja "bafienta" e decadente, monopolizada e monopolizante.
Com efeito, e voltando ao tema em questão, corroboro o que disse em relação ao aborto. Pode parecer linear, mas se acho que a mulher que gera a vida tem o direito de acabar com ela, para poupar e ser poupada a uma série de prejuízos que poderão resultar do não abortar, seria descabido que não concordasse com uma decisão que uma pessoa toma, mais desesperada ainda do que no caso do aborto, destroçada, sem qualquer perspectiva ou vislumbramento de um sinal positivo ou de uma melhora, sozinha no mundo. Mas parece que o direito à vida prevalece...Mas que vida? Quem é que pode considerar um estado vegetativo e humilhante uma vida, quem é que ainda pode acreditar que colaborar numa decisão tão pensada, tão constantemente provada como única solução, pelas dores, pela monstruosidade de uma doença como um cancro terminal, é crime? Quem? Das duas uma: ou alguém que não percebe o que é passar por isso ou então alguém cuja definição de vida pode passar por um amontoado de ossos, que teve por solidariedade infernal a virtude de nascer humana e de ter que morrer humanamente, ou seja, até que já nem possa emitir qualquer juízo que o possa determinar como racional, até que a sua existência se resuma a um peso morto, frio, esquecido e abandonado num piso de um hospital, dia após dia, mês após mês, e em muitos casos, ano após ano.
Por isso é que sou a favor de uma possível alteração na Lei vigente que diz respeito à eutanásia. Por achar vergonhoso que alguém que lida com um doente, vamos supor, há mais de um ano, e o vê num arrastamento mórbido, querer colaborar com o termo desta e ser considerado criminoso. Por uma pessoa que enquanto humana que é, perceber que aquilo que lhe está a acontecer é um pesadelo que pode acabar mais cedo e lhe dizerem que deve continuar nele por respeito à vida. Para que possa dar valor a esta e pensar - que bom é ter vida. Como me sinto feliz. Por mim preferia ficar assim mais uns anos, porque tenho tudo o que me faz feliz - uma cruz e um senhor de gravata azul e amarela a quem chamam feirante do meu lado.
Urgem medidas sobre este assunto. Estes e tantos outros. Decidam por vocês próprios - é este o lema.

Quanto à legalização das drogas falarei mais à frente :)

"se acho que a mulher que gera a vida tem o direito de acabar com ela, para poupar e ser poupada a uma série de prejuízos"

Por favor, diz-me que não era exactamente isto que querias dizer...

Para quem gosta de bom cinema não deixa de ser uma pena que, em Coimbra, nos tenhamos que ficar pela crítica:
http://www.cinema.art.br/cinemacena/crit_editor_filme.asp?cod=3976
Não obstante, o Pablo tem uma opinião que vai para lá do filme... vale a pena ler.

Pedro

A eutanásia parece-me ser o caso mais delicado que se pode debater, por isso talvez ainda não tenha assumido nenhuma posição relativamente a ela. De facto, quando uma pessoa está na fase terminal da vida em demasiado sofrimento deve ter a hipótese de escolher o caminho que quer seguir (continuar ou desistir), mas aí, colocam-se as questões que me inibem de ter opiniões: primeiro, há sempre a possibilidade ainda que remota de a doença regredir e a pessoa ficar bem (conheço até vários casos). Depois, que lucidez tem uma pessoa que se encontra em sofrimento? Que escolhas pode fazer se apenas é regido pelo sofrimento? Em caso de perda de lucidez a própria pessoa não pode escolher o que quer, então quem escolhe? Os médicos? A família? A que título?
É por todas estas questões que não consigo ter uma opinião definida acerca da eutanásia!

"se acho que a mulher que gera a vida tem o direito de acabar com ela, para poupar e ser poupada a uma série de prejuízos"

-estou a falar do aborto, não sei o que é que entendeste...mas como tento ser o mais claro possível, vou esclarecer esta frase, que pode ser muito mal interpretada:
"poupar"- poupar a vida condenada de uma criança, uma vida que acaba por não ser vida, sei lá, o que é que posso acrescentar mais de modo a que entendam que para mim, se se puder poupar uma vida humilhante, de rejeições sociais, de rejeições, em muitos casos, de uma mãe imatura, "buçal", melhor...Entendam o que digo - não sou a favor do aborto como estratégia de planeamento familiar, enoja-me a perspectiva de uma jovem adolescente a mascar uma pastilha ou a fumar um cigarro, após uma noite escaldante de sexo com o namorado igualmente buçal, sabendo que não usou nenhum método de contracepção, mas que também não há problema porque há o aborto para recorrer, para usar indefinidamente...Sou a favor de uma despenalização do aborto, que poupe uma mulher que sofre com uma decisão destas, mas que a tomou por não ter saída, e agora se vê condenada, em sofrimento redobrado...num pesadelo que não acaba, tal como no caso da eutanásia e distanásia - vamos lá entender uma coisa: Alice, se aquilo que falas fosse verdade, eu era o primeiro a em alguns casos poupar a vida. Eu seria incapaz de matar alguém, porra. Eu era incapaz de participar num suicídio...!Porque considero que a eutanásia de que falo é um acto reflectido, de pessoas lúcidas, que se arrastam sem qualquer perspectiva de melhora, de mudança de estado; por amor de deus, nunca estou a falar num coma, nunca estou a falar de alguém desiquilibrado...nem estou a falar de alguém que se apanha tetraplégico!
Possibilidades de a doença regredir? Um cancro terminal NÃO regride; um tumor cerebral NÂO regride - antes pelo contrário - ESMAGA, causa dores insuportáveis... Para mim, isto sim, são doenças terminais, são doenças que acabam com a vida no momento em que a nossa existência vai ser eternamente passada numa cama, a ganhar escaras, num tormento que NÂO tem melhora. Aqui sim, esta pessoa escolhe. Vi um filme sobre a eutanásia, que me impressionou bastante - de uma filha que pratica a eutanásia com a própria mãe, por não ver qualquer perspectiva de melhora na doença dela, que a obriga a estar deitada num sofrimento silencioso 24 sobre 24h...tinha aí 10 anos quando o vi, e ainda me lembro.

"No projeto da Parte Especial do Código Penal, o § 4º do art. 121 aduz:

Art. 121.

§ 4º. "Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém, por meio artificial, se previamente atestada, por dois médicos, a morte como iminente e inevitável, e desde que haja consentimento do doente ou, na sua impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge ou irmão."
.

-Um consentimento meditado, avaliado quem sabe por psiquiatras e outros especialistas. Em que são estudadas todas as situações, de forma lúcida e objectiva, com uam decisão não movida únicamente pelo impulso, não movida nunca por critérios económicos, nem de espaço...
"(..)"Que escolhas pode fazer se apenas é regido pelo sofrimento?(...)"
"Apenas", Alice, "apenas"? "Apenas pelo sofrimento?" Mas o quê, são motivos pouco fortes? Eu tenho a certeza que se alguma vez presenciasses ou acompanhasses a evolução de um doente terminal...o processo que é...talvez desses mais valor a esse sofrimento.
"(...)A família? A que título?(...)" A que título?!! Por amor de Deus, mas achas que uma mulher que acompanhe o marido neste processo não é válida para decidir? Mas tu fazes ideia do que é a vida de uma mulher que vê o marido a definhar cada vez mais...? Que acorda de meia em meia hora para ver se está tudo bem, mês após mês? Que deixa de viver também ela, que rege a sua vida pelos horários das toneladas de medicação? Que é obrigada a deter um controlo emocional enorme para não se emocionar na presença do marido? "A que título?" Mas isto é pergunta que se faça? O quê, a sua opinião não é boa? Achas que é por preferir ver o marido morto, é? A sério...
Para terminar, leiam (pode até ser na diagonal, mas leiam) o artigo citado pelo Pedro...e pesquisem o que puderem sobre este assunto...

Tony, vamos lá por algo bem definido! Eu não sou contra nem a favor da eutanásia! Li a crítica ao filme e o meu pai também me falou sobre o mesmo, pois teve a oportunidade de o ver! A questão é que, dando possibilidade às pessoas que de facto "precisam" de parar com o seu sofrimento, também estamos a permitir um certo "facilitismo" nesse processo para outros casos em que talvez não se justifique! Claro que, com isto não digo que se devam privar quem realmente necessita pelos outros, mas como é que se pode delinear quais são os casos em que se deve permitir a eutanásia e aqueles em que não se deve?
Outra coisa: todas as questões que coloquei no comentário anterior advieram da primeira de todas, ou seja, a existência de uma hipótese de regressão!
CLARO que não ponho de parte o recurso à eutanásia em casos extremos! Tudo depende da definição de vida e é OBVIO que vida não é ser vegetal, não é ser um corpo inactivo!
Espero que isto te elucide do que é a minha verdadeira opinião, talvez não me tenha expresso em condições no primeiro comentário!

(...)Claro que, com isto não digo que se devam privar quem realmente necessita pelos outros, mas como é que se pode delinear quais são os casos em que se deve permitir a eutanásia e aqueles em que não se deve?(...)Da mesma forma que determinas se um criminoso o é ou não. Com a opinião de especialistas, com um processo bem definido e conduzido, com o apuramento de verdades e razões. E o facilitismo só é permitido em países como o nosso, em Repúblicas das Bananas, onde o profissionalismo não é um requisito, é um extra. Uma Lei abrangente previne esse tipo de hipóteses.
Para mim um tetraplégico não é um doente terminal; um cancro maligno é. A regressão é impossível na maior partes destes casos - e muitas vezes as operaçõs só adiantam o estado vegetativo em que as pessoas irão viver, inevitavelmente, uns anos depois. E se admites a possibilidade de eutanásia em casos extremos partilhas a minha opnião, porque quer a eutanásia, quer o aborto, deverão ser usadas únicamente nestas situações - em casos extremos. Só que parece que para alguns os casos extremos se restringem a uma violação, ou qualquer coisa do género.

A Eutanásia representa um dos paradoxos da Medicina. É impressionante como uma ciência que tem como objectivo preservar a vida de um doente pode conduzir a este efeito, mas pode. Digo desde já que quanto ao aborto, não tenho opinião definida, mas quanto à Eutanásia, sou claramente a favor, embora tenha muito medo do mau uso que poderia ser feito dela se não existir legislação para o evitar.
Continuando, na minha opinião, a diferença substancial entre a Eutanásia e o Aborto é a seguinte: A consciência.
Com efeito, o bebe (ou como lhe queiram chamar) é um ser sem consciência, o que, para mim, não é de modo algum uma razão para validar um aborto, mas sim, pelo contrário, o principal motivo para ele não ser permitido, pois estamos a falar de um ser humano, cujo futuro se desconhece absolutamente.
Já no caso da Eutanásia, o ser humano encontra-se, à partida, completamente consciênte e ciente de que o futuro (aquele que, no caso de um aborto, se desconhece) não lhe augura nada de bom. Assim, neste caso, parece-me obvio que esta pessoa deve ter o direito de acabar com a própria vida. Este paradoxo da Medicina é alarmante, pois as pessoas vivem até cada vez mais tarde e a vida passa a ter um sigificado exagerado, pois, para mim, a vida não é a vida clínica, não acaba quando tudo deixa de funcionar no nosso corpo, inclusivamente a mente, ela acaba quando deixa de ter qualquer siginficado e passa a ser vegetativa.

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