a mesa de cafeHoje a Zizânia quase que veio a baixo. As pessoas pararam. Para rir, para olhar, para comentar com a pessoa que tinham à frente, ou simplesmente para ficarem especadas com o cenário
iraquiano que se pintou naquela meia hora.
Vou começar então por dividir a conversa em temas:
O primeiro foi, como não podia deixar de ser, o da
homossexualidade. Tudo a propósito de uma conversa que já tinha havido noutro local, em que duas opiniões se confrontaram, cada uma com o seu peso.
De um lado surgia o discurso "era mata-los a todos"; "desde que se mantenham à distância não há problema"; "quantos mais melhor, mais gajas ficam". Do outro o habitual consenso - são anormais - talvez, são deficientes - talvez, são
contra-natura - talvez, mas o respeito é uma coisa que serve para toda a gente - desde o psicopata ao primeiro ministro, todo o ser humano deve ser respeitado. E eu não posso deixar de concordar.
A minha opinião acerca deste assunto é bem clara. A Homossexualidade para mim é um desvio da racionalidade. É, diria mesmo mais, uma doença. E o que me leva a concluir isto é o simples facto de ser, como já disse
contra-natura . Do mesmo modo que não nos sentimos deprimidos sem motivo, se não tivermos motivos para isso - como uma depressão; do mesmo modo que não temos vontade de roubar se não formos
cleptomaníacos. Está na natureza do ser humano que este se comporte de maneira normal. É natural que comamos quando temos fome e bebamos quando temos sede. É natural e nasce connosco, da mesma maneira que respiramos para sobreviver - sem ninguém nos ensinar, sem ninguém nos forçar. Eu sou heterossexual e não sei porquê, gosto de mulheres sem motivo, simplesmente porque me sinto atraído por elas, sem saber explicar. Em suma, a opção é de cada um, e ninguém tem mesmo nada a ver com isso.
Outro assunto é se a homossexualidade pode ser tratada ou não. Sinceramente não sei. Mas tenho a certeza que quem sofre dela merece ser tratado com o respeito que qualquer pessoa com qualquer outro problema merece, seja ela quem for, mas sempre desde que isso não resulte em prejuízo meu. No que diz respeito a lésbicas, venha-me o primeiro homem dizer que não gosta de ver - e se disser que não gosta está a mentir de certeza. Tenho pena, mas é esta a verdade crua e dura.
O tema seguinte foi o da
transsexualidade. Eu como homem digo que me sentiria indignado no dia que apanhasse uma
surpresa, mas acho que, por outro lado, é preciso muito azar para semelhante coisa acontecer a alguém. É que, sinceramente, seja pela voz, pela altura, pelo que quer que seja, será que não dá para distinguir logo? Acho que é preciso ser-se muito azarado. Mas uma vez mais respeito, e realço: cada um faz as suas opções,
ninguém tem rigorosamente que se importar, que se opor - a liberdade de outra pessoa acaba onde a minha começa. E enquanto estivermos assim estamos muito bem.
E continuando na onda dos temas polémicos, tinha que vir inevitavelmente o
aborto. Já disse várias vezes o que leio: não sou a favor do aborto, não sou a favor da legalização do aborto; sou, sim, a favor da
despenalização do aborto, coisa que me parece bem distinta. Vou tentar dar o máximo de razões possíveis que validem a minha decisão:em primeiro lugar, e como homem, parece-me que não tenho, por incapacidade ou por me ser alheio, rigorosamente nada a ver com o que uma mulher decide fazer com o corpo dela - portanto, estamos a falar no domínio dos danos que resultam para a mulher que aborta. Em segundo lugar, parece-me que a decisão compete somente a ela e ao pai da criança. Quanto às células a que dão o nome de "vida", lamento muito, mas não consigo mesmo (talvez uma vez mais por incapacidade) entender como vida humana. Para mim as pessoas que se refugiam neste argumento enveredam únicamente pelo caminho da ambiguidade. É uma vida e pronto. Viram a cara a criança sidosa que lhes pede dinheiro ou vende pensos, viram a cara ao mendigo que dorme no banco de jardim em frente à sua casa, não olham sequer nos olhos um drogado, uma prostituta que os aborde na rua. Têm medo. E falam aos berros de respeito pela vida humana, esquecendo-se que em muitos casos
a vida que protegem é a mesma a que vão virar a cara 20, 30, ou 40 anos depois.
Com efeito, as evidências estão à vista de todos: a mulher que quer abortar, aborta - com a simples diferença de que a que tem dinheiro aborta em segurança numa clínica bem limpa, com todas aquelas luvas de latex branquinhas e uma agulha esterelizada, pronta a usar. A que não tem fa-lo em casa, em condições miseráveis, sejam elas de higiene, sejam de assistência. E as duas na mesma clandestinidade, na mesma corrupção. Não é tempo de acabar com este pesadelo?
Mas responde o leitor indignado: "mas isso é completamente absurdo, é o mesmo dizer que mais valia não haver penalização de um homícidio, pois se as pessoas matam na mesma...nem condenação de uma fraude, se as pessoas roubam na mesma..."
Pois para este argumento a minha resposta é muito simples. Numa fraude não existe perigo de vida, portanto não é sequer equiparável. Num homícidio os danos resultam apenas por um lado. Eu mato alguém, esse alguem morre. Eu mando um tiro no peito, essa pessoa simplesmente morre. No aborto clandestino não - os danos resultam graves quer para a suposta
vida que não existe mais, quer para a mulher que comete um acto de desespero desses. Porque ainda acredito piamente que só uma mulher muito desesperada é capaz de o fazer. É, a meu ver, uma decisão absolutamente difícil, e penso que o
inner-judgement é suficiente, não sendo necessário um processo pos-trauma para agravar a situação. Para fazer sentir a pessoa em causa ainda pior - "Tu mataste alguém".
Defendo assim que uma revisão da lei vigente é sem dúvida a melhor solução. As coisas surgem a meu ver de forma bem simples. Há uma lei em vigor - se tanta gente não a cumpre, alguma coisa está mal. Mas isto claro, do meu ponto de vista
esquerdino.
Em seguida vou falar de
eutanásia e
legalização das drogas. Mas isso fica para depois, porque estão à minha espera...
no café :D