Hoje fui ver o filme de que tinha falado anteriormente, o "Hotel Rwanda" e posso garantir que não é como a comum das películas... Sai-se da sala e não se comenta a qualidade da construção do argumento, nem a interpretação do elenco, nem nada que tenha a ver com uma opinião cinematográfica habitual! Não... Fica-se com uma sensação de profunda injustiça pois o que está no ecran é o retrato do que se passou há 11 anos e foi tão cruelmente ignorado... Sim, porque, como o Rwanda não tinha grande representatividade na ONU, os EUA, a França e a Inglaterra ignoraram todos os pedidos de ajuda! Há imensa crueldade neste genocídio, aliás como em todos: há estupidez crónica nas razões, nas armas, nos meios, nas "soluções", na indiferença, no abandono de vítimas impotentes à sua sorte, em tudo!
É isto que fica Uma noção de que somos uma cambada de parvos que não sabem reagir perante estas situações, pois não podemos tirar proveito próprio delas, nem nos afectam directamente Temos mesmo uma deficiente e estúpida organização de valores e sentimentos!
Fica uma das passagens que mais me marcou: O gerente do Hotel Rwanda, que contribui para salvar centenas de vidas no meio daquele pesadelo, diz a um jornalista estrangeiro que está contente por este último ter conseguido imagens elucidativas da chacina no país de modo a que o Mundo veja o que se passa para poder actuar. Perante isto, o jornalista responde: Sim, o Mundo vai ver as imagens. As pessoas vão olhar para elas a meio do jantar e dizer «Ah Que horror!» e depois vão baixar a cara e continuar a refeição sem fazer nada!
De facto, dizer é fácil, realizar é muito mais incómodo!
E muito ficou por dizer sobre este filme. Recomendo-o vivamente. Agr, só um senão: a prestação do Nick Nolte. Já o vi a fazer melhor, e sobretudo já o vi a fazer muito parecido. Além disso, não explorou a personagem. É demasiado superficial a visão que temos sobre a sua personagem, não dando um toque mais humano que acho que o filme tem como ponto principal: O carácter humano - seja nas vertentes positivas e heróicas encarnadas sobretudo em Paul Rusesabagina (Don Cheadle) ou nas mais negativas, seja no coronel Zimbaguizu (duvido mto q esteja a escrever bem) ou no Gregóire ou no gajo do rádio/armazém. Nick Nolte está habituado a fazer filmes de acção, onde muitas vezes as personalidades de cada personagem não são tão relevantes como num filme como Hotel Rwanda é.
De resto, e mesmo para perceber (um pouco) do que se passou em 94 em todo o Rwanda (e não só em Kigali, onde todo o filme decorre), um filme vale mesmo a pena.
Só mais uma coisa: Rwanda não é/foi caso único: Congo Zaire Angola e de há uns anos para cá a situação do Sudão é mesmo muito grave e não vês as Nações Unidas a tomar acção. Porque, até como disse no meu blog há uns tempos, a ONU morreu há muitos anos, pouco depois de ter sido criada, pois nunca conseguiu atingir os objectivos a que se propôs. Nunca. E este ano comemora o seu 60º aniversário. Eu não vejo muito por comemorar...
Posted by Alexandre Carvalho | 21/4/05 6:01 da manhã