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O eterno jogo de ping-pong

Penso que é preocupante a atitude da população portuguesa face à política, principalmente, porque reduz o sistema eleitoral a um eterno jogo de ping-pong entre ela e o Governo. Empurra para o Governo uma bola, recebe-a desfeita; empurra outra bola, recebe-a desfeita. E isto porque a população portuguesa (chamemos-lhe eleitorado) não percebe que os caprichos que reclama são incompatíveis com o hedonismo que pratica. Dá todos os privilégios como adquiridos, tentando explorá-los ao máximo, e o resultado é, normalmente, que os benefícios que resultariam para o Estado desses privilégios que atribuiu desaparecem, em questão de segundos. O chico-espertismo prevalece. Vantagem nula.
Ora, para alguém que ainda nem sequer vota, esta palhaçada que é o não compreendimento de como uma democracia pluri-partidária deve funcionar, deixa-me a pensar (vantagem minha) se a única solução não é fugir e deixar isto tudo aos espanhóis. Pôr uns letreiros luminosos nas fronteiras, que digam qualquer coisa como: “venham-nos tirar o défice, que nós não conseguimos, nem com os melhores economistas da melhor faculdade do país (e quem sabe, do mundo)”. Penso que seria a solução mais sensata ou, melhor, a única possível. Assim, os magistrados (que só entendem latim e alemão) não entenderiam, os professores (que só dão francês, alemão e inglês) não entenderiam, o povo recusar-se-ia a entender, e o Governo Espanhol aqui instalado governaria à vontade, sem que as pessoas percebessem – e sem que os sindicatos acordassem de manhã e dissessem: ena, vamos fazer mais uma greve, ou melhor, vinte.
Bem, mas o que verdadeiramente me motivou a escrever este texto foi uma sondagem no “Público” que revelava, apesar do pouco número de inqueridos, que estas eleições autárquicas iriam revelar o descontentamento com o Governo (ou pelo menos, 67% dos inquiridos pensam assim). Nada de mal, certo? Errado. Este tipo de observações não é digna de um jornal como o “Público” que já devia ter assimilado a óbvia lição de que as eleições autárquicas nunca devem ser misturadas com a prestação do Governo. Isto parece-me tão simples, tão evidente, que não consigo aceitar que alguém não pense assim. E porquê? Porque quando se vota num candidato para uma autarquia, está-se a acreditar num projecto concebido localmente! O eleitorado não deve culpar o candidato à autarquia pela má prestação de um governo porque este simplesmente não tem culpas no cartório. Ou seja, é primitivo ver as autárquicas como um sistema de punição do Governo. É primitivo, é perigoso e é irracional. Eu, felizmente, não penso assim. Vantagem minha.

Ao contrário do António Pedro, penso que não devemos dissociar o comportamento do Governo, seja em que momento for da vida política Nacional.
Acho, pois, que o Governo deve ser associado a uma eventual derrota ou vitória na pecentagem global das autarquias conseguidas para a sua cor política.
Na minha perspectiva, quer as autárquicas, quer as presidenciais, servem "também" para a penalização do (mau) governo, seja ele de quem for.
Esquecermo-nos desta realidade, é querermos tapar o sol com a peneira...

Repito o comentário, uma vez que não me identifiquei com o heterónimo habitualmente em uso na blogosfera:
Ao contrário do António Pedro, penso que não devemos dissociar o comportamento do Governo, seja em que momento for da vida política Nacional.
Acho, pois, que o Governo deve ser associado a uma eventual derrota ou vitória na pecentagem global das autarquias conseguidas para a sua cor política.
Na minha perspectiva, quer as autárquicas, quer as presidenciais, servem "também" para a penalização do (mau) governo, seja ele de quem for.
Esquecermo-nos desta realidade, é querermos tapar o sol com a peneira...

Como deve ter percebido, penso exactamente o contrário. Um autarca não deve em situação alguma ser penalizado pelas atitudes impopulares de um governo...obviamente que também não deve ser beneficiado. Acho que é justo pensar assim...Pelos vistos, há quem não ache o mesmo...

Volte sempre...

Acho que há dois pontos que, apesar de parecerem iguais, não o são exactamente e que importa clarificar. Se a questão é se devemos decidir o nosso voto autárquico com base na prestação do governo, seja como punição ou aprovação, estou completamente de acordo contigo.Não devemos. Nem vale a pena estar a argumentar tal coisa porque as razões são mais que óbvias.
No entanto, uma coisa completamente diferente, é se é possível fazer uma leitura nacional dos resultados autárquicos e inquirir até que ponto esses resultados não são influenciados pela opinião da maioria em relação ao governo. Como análise política é um exercício, a meu ver, perfeitamente válido e até necessário. Por todas as razões e mais algumas. Porque, sejamos realistas, há muita gente que vota assim. Porque há também muita gente que vota, não em candidatos ou projectos, mas num partido. E quando o partido anda mal...
Porque numa cena política onde as personagens não abundam e se repetem nos cargos é muito fácil que o julgamento do candidato autárquico acabe por ser também o julgamento do colaborador ou opositor do governo. Porque há que julgar um candidato não só pelo seu projecto para a cidade/freguesia mas também pelas suas convicções políticas. Que ultrapassam (esperemos nós!) as suas opiniões sobre gestão autárquica.
E, por último, porque a dura realidade é que são os próprios candidatos, os próprios membros do governo e os próprios políticos da oposição a levar o debate para esse campo. Basta atentar nos noticiários de ontem. Lá descobriríamos facilmente Ribeiro e Castro a criticar Sócrates num comício autárquico no Portugal profundo. E Jorge Coelho a discursar como candidato em Sintra com tiradas triunfalistas sobre os seus "amigos no governo" que estavam naquele momento reunidos para beneficiar Sintra a pedido do candidato Coelho. Isto com direito a telefonema de Sócrates himself a meio do discurso e tudo.
Como vês, a ideia de indagar se "Estas eleições irão revelar o descontentamento com o governo?" não é tão descabida quanto isso.

Lamento, caro quadrúpede rosa, mas não comungo com a sua perspectiva autarquica. Pelo menos, enquanto não me esclarecer num ponto: poder-se-á associar o trabalho autarquico de um "dinossauro" que esteja em funções á 16 ou 30 anos com a má ou boa performance de um ciclo político parlamentar? Repare que estes em Portugal duram,em média, 3 anos. Ora, num desfazamento temporal tão grande misturar os erros e virtudes de ambos os lados numa unica soma final não será exagerado? De salientar ainda, que o equilibrio do poder local apoia-se, geralmente, em micro-partidos locais incorporados nos pesos-pesados nacionais...sendo assim, não seria mais sensato "separar o trigo do joio"?

Amigo Bandeira
Até posso concordar consigo, no que tange ao exemplo indicado. Porém, veja: em Portugal, como em outros países, há sempre o complexo da fábula do Lobo e do Cordeiro, quando o primeiro disse ao segundo que fora o pai quem lhe torvara a água. Se às câmaras municipais e às juntas de freguesia não concorressem pessoas sob a chancecla de uma cor política, nada disto se colocaria em questão; assim, pretende-se atingir a cor política através das pessoas.
Se fizer uma sondagem local, entre os seus amigos, os seus vizinhos, etc., verá que as eleições autárquicas estão condicionadas ao desempenho governativo.
De qualquer forma, agradeço o seu ponto de vista.

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