Mais que um café...
Porque chegaram as férias e sinto que devo preguiçar um pouco. Porque a imaginação está perra. Porque não me sinto em terra firme ao falar das presidenciais. Porque o tema sempre se adequa mais a este blog do que textos enjoativos sobre o Natal. Porque não tenho seguido (muito) de perto o que nos chega pelos media. Porque Portugal está chocado com o aparecimento da Mariana Dias na têvê – decidi postar um texto que me apareceu, sabe-se lá de onde, acerca do café. A muitos não dirá nada de novo, para outros, terá, quem sabe, algo a dizer – de qualquer das formas, não espero que ninguém vá ler um texto com esta extensão. O café está na mesa.
“Tenha-se em consideração o simples acto de beber uma chávena de café. O que há a dizer acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante? Imenso.
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas actividades sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao acto de tomar café é frequentemente muito mais importante do que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de facto, café. Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões para a interacção social e o desempenho de rituais (...).
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contem cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os adictos em café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedades que permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaina, mas desaprovam tanto o café como o álcool . (...)
Em terceiro lugar, um indíviduo que bebe uma chávena de café está envolvido numa complicada rede de relações sociais e económicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos países pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional, representando a principal exportação de muitos paises. A produção, transporte e distribuição do café implicam transacções constantes que envolvem pessoas a milhares de quilómetros dos consumidores. (...)
Em quarto lugar, o acto de beber uma chávena de café pressupõe todo um processo de desenvolvimento social e económico passado. Com outros artigos hoje familiares nas dietas ocidentais – como o chá, as bananas, as batatas e o açúcar – o café tornou-se um produto de consumo generalizado somente nos finais do século XIX. Embora seja uma bebida originária do Médio Oriente, o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há cerca de um século e meio atrás. Praticamente todo o café que se bebe nos paises ocidentais provém de areas (América do Sul e África) colonizadas pelos europeus; não é, de maneira nenhuma, um elemento “natural” da dieta ocidental. A herança colonial teve um impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no centro do debate actual em torno da globalização, do comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental. À medida que o café aumentou a sua popularidade, tornou-se um produto politizado e um assunto de marketing: as escolhas dos consumidores sobre que tipo de café beber e onde comprar tornaram-se opções de estilo de vida. As pessoas podem escolher beber apenas café orgânico, café descafeinado naturalmente ou café comerciado a preços “justos” (através de esquemas que pagam o total do preço de mercado a pequenos produtores de café em paises em vias de desenvolvimento). Podem optar por apoiar cafetarias “independentes”, em vez das cadeias internacionais de cafetarias como a “starbucks”. Os consumidores de café podem decidir boicotar café proveniente de determiandos países onde haja pouco respeito pelos direitos humanos e o ambiente natural. (...) é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos do planeta, incentivando-as a actuar no dia-a-dia em função desse novo conhecimento.”
“Tenha-se em consideração o simples acto de beber uma chávena de café. O que há a dizer acerca de um comportamento aparentemente tão desinteressante? Imenso.
Podemos começar por notar que o café não é meramente uma bebida. Enquanto parte das nossas actividades sociais quotidianas possui um valor simbólico. O ritual associado ao acto de tomar café é frequentemente muito mais importante do que o consumo de café propriamente dito. Duas pessoas que combinam encontrar-se para tomar café estarão provavelmente mais interessadas em estarem juntas e conversarem do que em beber, de facto, café. Em todas as sociedades, na realidade, beber e comer proporcionam ocasiões para a interacção social e o desempenho de rituais (...).
Em segundo lugar, o café é uma droga, pois contem cafeína, que exerce no cérebro um efeito estimulante. Os adictos em café não são vistos pela maioria das pessoas no Ocidente como consumidores de droga. O café, tal como o álcool, é uma droga socialmente aceitável, enquanto a marijuana, por exemplo, não o é. No entanto, há sociedades que permitem o consumo de marijuana e mesmo de cocaina, mas desaprovam tanto o café como o álcool . (...)
Em terceiro lugar, um indíviduo que bebe uma chávena de café está envolvido numa complicada rede de relações sociais e económicas de dimensão internacional. O café é um produto que liga as pessoas de algumas partes mais ricas e mais pobres do planeta: é consumido em grande quantidade nos países ricos, mas cultivado fundamentalmente nos países pobres. Depois do petróleo, o café é a mercadoria mais valiosa do comércio internacional, representando a principal exportação de muitos paises. A produção, transporte e distribuição do café implicam transacções constantes que envolvem pessoas a milhares de quilómetros dos consumidores. (...)
Em quarto lugar, o acto de beber uma chávena de café pressupõe todo um processo de desenvolvimento social e económico passado. Com outros artigos hoje familiares nas dietas ocidentais – como o chá, as bananas, as batatas e o açúcar – o café tornou-se um produto de consumo generalizado somente nos finais do século XIX. Embora seja uma bebida originária do Médio Oriente, o seu consumo maciço data do período da expansão colonial ocidental, há cerca de um século e meio atrás. Praticamente todo o café que se bebe nos paises ocidentais provém de areas (América do Sul e África) colonizadas pelos europeus; não é, de maneira nenhuma, um elemento “natural” da dieta ocidental. A herança colonial teve um impacto enorme sobre o desenvolvimento do comércio mundial de café.
Em quinto lugar, o café é um produto que está no centro do debate actual em torno da globalização, do comércio mundial, dos direitos humanos e da destruição ambiental. À medida que o café aumentou a sua popularidade, tornou-se um produto politizado e um assunto de marketing: as escolhas dos consumidores sobre que tipo de café beber e onde comprar tornaram-se opções de estilo de vida. As pessoas podem escolher beber apenas café orgânico, café descafeinado naturalmente ou café comerciado a preços “justos” (através de esquemas que pagam o total do preço de mercado a pequenos produtores de café em paises em vias de desenvolvimento). Podem optar por apoiar cafetarias “independentes”, em vez das cadeias internacionais de cafetarias como a “starbucks”. Os consumidores de café podem decidir boicotar café proveniente de determiandos países onde haja pouco respeito pelos direitos humanos e o ambiente natural. (...) é interessante perceber de que forma a globalização aumenta a consciência das pessoas acerca de questões que se passam em pontos remotos do planeta, incentivando-as a actuar no dia-a-dia em função desse novo conhecimento.”
- Anthony Giddens
E de onde vem o hábito de beber café?
Antes da primeira guerra os imperadores Austro-Húngaros repararam que os barbaros turcos davam uma ração aos cavalos que os deixava cheios de "x-trica". foram a ver era uma ração baseada no café que o imperador implantou como bebida.
Posted by Zé Bandeirinha | 18/12/05 10:12 da manhã