E agora?
Perante a polémica actual, o fala, o contradiz, o mata e o esfola, penso importante definir com exactidão e de forma explícita o que penso e aprovo/condeno. Mais do que para encher isto com comentários de um que ficou a achar que eu sou isto ou do outro que não gostou daquilo, faço este exercício perante mim e para bem do meu processo de organização mental; também perante os outros que me lêem, os que eu leio, aqueles a quem mando umas bocas, ou os que me mandam a mim. Trata-se de um assunto sério, acerca do qual, por todo o lado (principalmente na imprensa), cada vez mais se fala e menos se pensa.
Não gosto de política. Nunca me envolvi directamente em nenhum assunto que detivesse uma componente política de uma envergadura tão robusta. No entanto, não apresento esta questão como as pessoas que ligam, vivem ou gostam de política. Aqui o que está em causa ultrapassa em larga escala o ser de direita ou de esquerda.
Tenho recordado imenso a passagens de dois livros que reli recentemente, em relação a este assunto. Será que George Orwell quando escreveu o 1984 ou Aldous Huxley no Admirável Mundo Novo se lembraram que ia haver um miúdo que ia dar voltas e voltas à cabeça a pensar nos livros deles, a propósito de uma questão destas? Certamente que não. No entanto foi o que aconteceu.
Sem dispersar mais, actualmente, Portugal vai ser chamado a decidir, mais do que se concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez se realizada antes das 10 semanas por vontade da mulher, vamos saber se a maioria do nosso país é ou não a favor de que o seu Estado, a sua Lei e os seus órgãos representativos tolerem a prática do aborto, de modo que este seja totalmente liberalizado dentro de um certo período de tempo. O que se vai passar, se a maioria votar sim, é isso, não é apenas o carácter dócil de que a pergunta se “reveste”, porque se fosse não estaríamos perante todo este alarido. Isto para não falar da parte da mulher. Afinal, um filho é gerado por um pai e por uma mãe. Muitos pais não reconhecem filhos, muitas mulheres são violadas e ficam sem amparo. Eu penso que pôr na vontade da mãe se a criança vai ou não nascer é equiparável a retroceder à época Vitoriana ou à Grécia antiga, em que apenas à mãe competia exercer as tarefas relacionadas com os filhos, ocupando-se o pai de trabalhos, negócios e outras actividades, e limitando-se a contactar periodicamente com eles. Se uma criança tem uma mãe que não a deseja, poderá ter um pai que a eduque e a faça crescer saudável a todos os níveis (e vice-versa). Na minha opinião, a lei deveria responsabilizar os dois indivíduos que originaram a vida da criança pela sua estabilidade, sejam quais forem as condições.
Isto porque, evidentemente, a mulher pode engravidar perante um descuido ou uma irresponsabilidade. O acto sexual pressupõe responsabilidade. Claro que continua a haver raparigas novas “enganadas” e com ideias erradas acerca dos perigos do sexo. Um problema desta dimensão, está longe de ser resolvido dizendo sim ao aborto. Um problema destes resolve-se com medidas estruturais e de raiz que visem informar as pessoas e construir conhecimento na sociedade. Somos um país que ainda nem o passo básico para esta etapa deu…em Portugal, grande número de pessoas acha inconcebível haver aulas de Educação Sexual. Uma medida urgente.
Outra questão que vale a pena abordar, dada a polémica que tem gerado, é a liberdade. Não sei quem é que me vai convencer da liberdade que tem, quem vai abortar. Há, de facto, alguns casos de mulheres que, por facilidades e “conhecimentos” abortam várias vezes e não contentes com isso ainda perante as câmaras dos telejornais dizem “não vejo qual é o mal, eu fiz quatro…”. No entanto, não vou sequer pegar nesses casos, porque parto do princípio que há mulheres que abortam em casos de miséria extrema e desespero. Ninguém me vai convencer que estas mulheres, principalmente as mais desfavorecidas, ao fazê-lo, estejam a exercer qualquer tipo de liberdade. Estão a recorrer, contrariadas, a algo que vêem como a única saída para o seu estado. Dar liberdade a estas mulheres que abortam contrariadas e tanto preocupam os/as defensores do sim, não passa por cingi-las ao “pronto, aborte lá”. Dar liberdade a essas mulheres passaria por um processo muito mais abrangente e muito mais difícil e trabalhoso (daí ninguém acreditar ou pensar sequer em segui-lo), que passaria por dar condições de apoio social, assistência a mães solteiras e acompanhamento, sistemas de protecção e acompanhamento psicológico e médico a grávidas de risco, leis de responsabilização conjugal, tanta coisa… No fundo, dar condições à criança e à família. Porém, perco a conta ao número de pessoas que me dizem diariamente ir votar sim por não acreditar em nada disto. Tristemente, não tenho outra explicação para este fenómeno que não o pragmatismo e fascínio pelo fácil que afoga a nossa sociedade.
A par disto, vem o fácil (que mais podia ser), que é “ir a Espanha abortar”. Nem sequer pensem mais nisso. Quais lobos esfomeados, já trataram de comprar um prédio na Av. da República, mesmo no centro de Lisboa, para montar uma enorme clínica de abortos. Com as medidas de fundo por mim propostas no parágrafo acima, estávamos a inverter a tendência para o recurso à interrupção voluntária da gravidez (fosse ela feita no centro de Lisboa, em Badajoz ou numa cave de um armazém nos arredores de Fátima). Eu acredito que sim, que há medidas que evitam a tendência para recorrer à interrupção. Os exploradores de clínicas de aborto e os médicos/as e enfermeiros/as que ganham muito dinheiro (seja ele legal ou não) a fazerem abortos, certamente pensam que não, mesmo que acreditem que sim, que haja medidas que moderem o número de casais a recorrer ao aborto (o problema é que se elas fossem postas em prática, estes indivíduos sem escrúpulos teriam a sua clientela e o seu negócio em risco).
Para mim, é uma questão que se prende acima de tudo com o faço de cada um acreditar nas ideias concretas que promovam a vida e a qualidade de vida dos seres humanos. No estrangeiro, preferem recorrer ao aborto. Para mim, isso nada significa. Não tenho problema nenhum em viver num país que em algumas coisas saiba dar grandes exemplos: na abolição da escravatura, no fim da pena de morte e no não pactuar com uma prática de risco e humilhante a que chamam interrupção voluntária da gravidez. Com Educação Sexual nas escolas, divulgação e responsabilização para a prática sexual, uso de métodos contraceptivos, acompanhamento de mães solteiras, apoio empenhado de grávidas em risco, aplicação rigorosamente acompanhada da pílula abortiva (este medicamento não destrói o “ovo”, impede a sua evolução reprodutiva) a mulheres vítimas de violações, reforço da lei conjugal, facilidade de regime de adopção para casais heterossexuais com condições para acolher crianças (pouca gente sabe, mas no nosso país começa a ser vulgar ir adoptar bebés ao Brasil e a África, dadas as dificuldades que o nosso regime se encarrega de colocar a quem quer e tem condições para adoptar).
É fácil acreditar, promover e desfrutar o privilégio de viver em democracia, bem como a nossa liberdade individual para exigir e pressionar os nossos representantes estatais a mudar e seguir uma política neste sentido? Não. É difícil, não é uma tarefa fácil. Eu sei que não é fácil, mas mesmo hoje acredito! Vou votar NÃO, porque eu SIM, eu acredito que uma questão desta seriedade pressupõe medidas bem mais sérias e estruturais, que visem uma evolução continuada e credível. Acredito que há quem pense como eu. Divulguem! Não tenham medo de ter dúvidas, nem de se informarem perante todos daquilo que pensam e o que vos leva a pensar sim ou não. Votem, mas acima de tudo, evitem o pragmatismo! Eu não tenho medo de acreditar. Eu não tenho medo de pensar. Eu VOTO NÂO!
Não gosto de política. Nunca me envolvi directamente em nenhum assunto que detivesse uma componente política de uma envergadura tão robusta. No entanto, não apresento esta questão como as pessoas que ligam, vivem ou gostam de política. Aqui o que está em causa ultrapassa em larga escala o ser de direita ou de esquerda.
Tenho recordado imenso a passagens de dois livros que reli recentemente, em relação a este assunto. Será que George Orwell quando escreveu o 1984 ou Aldous Huxley no Admirável Mundo Novo se lembraram que ia haver um miúdo que ia dar voltas e voltas à cabeça a pensar nos livros deles, a propósito de uma questão destas? Certamente que não. No entanto foi o que aconteceu.
Sem dispersar mais, actualmente, Portugal vai ser chamado a decidir, mais do que se concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez se realizada antes das 10 semanas por vontade da mulher, vamos saber se a maioria do nosso país é ou não a favor de que o seu Estado, a sua Lei e os seus órgãos representativos tolerem a prática do aborto, de modo que este seja totalmente liberalizado dentro de um certo período de tempo. O que se vai passar, se a maioria votar sim, é isso, não é apenas o carácter dócil de que a pergunta se “reveste”, porque se fosse não estaríamos perante todo este alarido. Isto para não falar da parte da mulher. Afinal, um filho é gerado por um pai e por uma mãe. Muitos pais não reconhecem filhos, muitas mulheres são violadas e ficam sem amparo. Eu penso que pôr na vontade da mãe se a criança vai ou não nascer é equiparável a retroceder à época Vitoriana ou à Grécia antiga, em que apenas à mãe competia exercer as tarefas relacionadas com os filhos, ocupando-se o pai de trabalhos, negócios e outras actividades, e limitando-se a contactar periodicamente com eles. Se uma criança tem uma mãe que não a deseja, poderá ter um pai que a eduque e a faça crescer saudável a todos os níveis (e vice-versa). Na minha opinião, a lei deveria responsabilizar os dois indivíduos que originaram a vida da criança pela sua estabilidade, sejam quais forem as condições.
Isto porque, evidentemente, a mulher pode engravidar perante um descuido ou uma irresponsabilidade. O acto sexual pressupõe responsabilidade. Claro que continua a haver raparigas novas “enganadas” e com ideias erradas acerca dos perigos do sexo. Um problema desta dimensão, está longe de ser resolvido dizendo sim ao aborto. Um problema destes resolve-se com medidas estruturais e de raiz que visem informar as pessoas e construir conhecimento na sociedade. Somos um país que ainda nem o passo básico para esta etapa deu…em Portugal, grande número de pessoas acha inconcebível haver aulas de Educação Sexual. Uma medida urgente.
Outra questão que vale a pena abordar, dada a polémica que tem gerado, é a liberdade. Não sei quem é que me vai convencer da liberdade que tem, quem vai abortar. Há, de facto, alguns casos de mulheres que, por facilidades e “conhecimentos” abortam várias vezes e não contentes com isso ainda perante as câmaras dos telejornais dizem “não vejo qual é o mal, eu fiz quatro…”. No entanto, não vou sequer pegar nesses casos, porque parto do princípio que há mulheres que abortam em casos de miséria extrema e desespero. Ninguém me vai convencer que estas mulheres, principalmente as mais desfavorecidas, ao fazê-lo, estejam a exercer qualquer tipo de liberdade. Estão a recorrer, contrariadas, a algo que vêem como a única saída para o seu estado. Dar liberdade a estas mulheres que abortam contrariadas e tanto preocupam os/as defensores do sim, não passa por cingi-las ao “pronto, aborte lá”. Dar liberdade a essas mulheres passaria por um processo muito mais abrangente e muito mais difícil e trabalhoso (daí ninguém acreditar ou pensar sequer em segui-lo), que passaria por dar condições de apoio social, assistência a mães solteiras e acompanhamento, sistemas de protecção e acompanhamento psicológico e médico a grávidas de risco, leis de responsabilização conjugal, tanta coisa… No fundo, dar condições à criança e à família. Porém, perco a conta ao número de pessoas que me dizem diariamente ir votar sim por não acreditar em nada disto. Tristemente, não tenho outra explicação para este fenómeno que não o pragmatismo e fascínio pelo fácil que afoga a nossa sociedade.
A par disto, vem o fácil (que mais podia ser), que é “ir a Espanha abortar”. Nem sequer pensem mais nisso. Quais lobos esfomeados, já trataram de comprar um prédio na Av. da República, mesmo no centro de Lisboa, para montar uma enorme clínica de abortos. Com as medidas de fundo por mim propostas no parágrafo acima, estávamos a inverter a tendência para o recurso à interrupção voluntária da gravidez (fosse ela feita no centro de Lisboa, em Badajoz ou numa cave de um armazém nos arredores de Fátima). Eu acredito que sim, que há medidas que evitam a tendência para recorrer à interrupção. Os exploradores de clínicas de aborto e os médicos/as e enfermeiros/as que ganham muito dinheiro (seja ele legal ou não) a fazerem abortos, certamente pensam que não, mesmo que acreditem que sim, que haja medidas que moderem o número de casais a recorrer ao aborto (o problema é que se elas fossem postas em prática, estes indivíduos sem escrúpulos teriam a sua clientela e o seu negócio em risco).
Para mim, é uma questão que se prende acima de tudo com o faço de cada um acreditar nas ideias concretas que promovam a vida e a qualidade de vida dos seres humanos. No estrangeiro, preferem recorrer ao aborto. Para mim, isso nada significa. Não tenho problema nenhum em viver num país que em algumas coisas saiba dar grandes exemplos: na abolição da escravatura, no fim da pena de morte e no não pactuar com uma prática de risco e humilhante a que chamam interrupção voluntária da gravidez. Com Educação Sexual nas escolas, divulgação e responsabilização para a prática sexual, uso de métodos contraceptivos, acompanhamento de mães solteiras, apoio empenhado de grávidas em risco, aplicação rigorosamente acompanhada da pílula abortiva (este medicamento não destrói o “ovo”, impede a sua evolução reprodutiva) a mulheres vítimas de violações, reforço da lei conjugal, facilidade de regime de adopção para casais heterossexuais com condições para acolher crianças (pouca gente sabe, mas no nosso país começa a ser vulgar ir adoptar bebés ao Brasil e a África, dadas as dificuldades que o nosso regime se encarrega de colocar a quem quer e tem condições para adoptar).
É fácil acreditar, promover e desfrutar o privilégio de viver em democracia, bem como a nossa liberdade individual para exigir e pressionar os nossos representantes estatais a mudar e seguir uma política neste sentido? Não. É difícil, não é uma tarefa fácil. Eu sei que não é fácil, mas mesmo hoje acredito! Vou votar NÃO, porque eu SIM, eu acredito que uma questão desta seriedade pressupõe medidas bem mais sérias e estruturais, que visem uma evolução continuada e credível. Acredito que há quem pense como eu. Divulguem! Não tenham medo de ter dúvidas, nem de se informarem perante todos daquilo que pensam e o que vos leva a pensar sim ou não. Votem, mas acima de tudo, evitem o pragmatismo! Eu não tenho medo de acreditar. Eu não tenho medo de pensar. Eu VOTO NÂO!
tanto paleio nao sei para que... dizias o mesmo em 10 linhas...
educacao sexual? acho te uma piada do crl, knd andavas no secundario, tu e tantos outros queixavam se que tinham aulas a mais por semana, deviam tirar 2 ou 3 horas... os outros iam "para as manifestacoes" e "greves" e tu agora refilas... enfim...
é tao facil abortar nos dias de hoje em portugal legalmente... uma bela duma moça toma o famoso comprimido dos violadores, deita-se no seu quarto e dorme... dia seguinte "ah facam me exame toxiologico"... semanas mais tarde..
"epa acho que tou gravida e fui violada, tenho aki este exame que fiz ah umas semanas atras" (coitada da pobre rapariga que nao sabe por quem foi violada)... isto eh uma das mtas outras possiveis...
tinha mais qq coisa para dizer, mas ja me esqueci de metade do teu texto... um beijinho para ti, certamente iras gostar! :)
Posted by Anónimo | 29/1/07 9:02 da tarde
sim, claro morgado, no secundario queixavamo-nos das aulas de portugues, economia ou do que fosse..o que nao significa que nao fosse imprescindiveis.
abortar em portugal e facilimo, e é contra isso que eu sou.
beijinhos
Posted by Zé Bandeirinha | 30/1/07 4:59 da tarde
ah, mesmo sabendo eu que es o morgado, para a proxima assina sem compromisso
Posted by Zé Bandeirinha | 30/1/07 5:00 da tarde