Bento XVI
Qual não foi o meu espanto quando me dizem HABEMUS PAPAM e que esse Papa era o cardeal Ratzinger…
Estava numa mesa de café e fiquei colada à cadeira. Deixei de ser católica devido ao crescente conservadorismo desta religião, que me afastou completamente e tenho de confessar que tinha uma certa esperança que deste conclave saísse um homem renovador que atraísse mais pessoas para o catolicismo. Mas, pelos vistos, os cardeais optaram por tentar salvar a igreja virando-se para dentro e não para fora. Ou estou muito enganada, ou, se este Papa tiver um pontificado longo, a igreja tem os dias contados tal como a conhecemos.
O que sei deste novo Papa é pouco mas suficientemente elucidativo… Sei que na época da difusão da Teologia da Libertação na América Latina, Ratzinger defendeu que todos os padres da área deviam ser excomungados, sei também que era o braço direito de João Paulo II, denunciando, por isso, que vai manter a posição contrária à utilização de métodos contraceptivos, ao fim do celibato dos padres, à emancipação da posição feminina da igreja e ao divórcio, enfim, a essas modernices. Por outro lado, há a questão da escolha do nome: Bento XVI… Pelo que sei, Bento XV foi um verdadeiro missionário, que espalhou a fé católica um pouco por todo o mundo, ora, tendo em conta o seu conservadorismo, conto mais com uma imposição do que com uma difusão… Posso estar enganada, mas vejo algum fundamentalismo naquela figura.
Espero que as minhas preocupações não tenham fundamento, nem as informações que tenho sejam certas, porque é triste ver algo que já está em decadência a enterrar-se ainda mais…
É verdade...mas parece-me que foste das poucas pessoas que repararam nesses pequenos detalhes. O que as pessoas gostaram mais desta eleição foi certamente o fuminho branco a sair da chaminé, que consideraram muito bonito, como provavelmente disseram 20 entrevistados no Jornal Nacional. A foto irá, obviamente, ganhar o Pullitzer. Os outros já encomendaram os seus terços benzidos pelo papa a 27€, como pude ver numa lojeca perto da Capela Cistina…os últimos benzidos pelo anterior devem valer o dobro, claro está…
Salvaram a honra do convento…airosamente…
Posted by António Pedro | 19/4/05 8:59 da tarde
Outra coisa que me esqueci de referir foi o envolvimento deste cardeal num relativamente recente escândalo de corrupção financeira no Vaticano, mais concretamente, do Banco Ambrosiano...
Belos tempos nos esperam, sim senhor...
Ah, e já seria de esperar, claro, que, estando aberto ao diálogo interreligioso, o Papa Bento XVI considerasse o Catolicismo no topo da hierarquia das religiões do mundo! Isto sim, é igualdade de religiões!
Posted by Alice | 19/4/05 11:40 da tarde
Eu não diria melhor... Ratzinger era um braço direito de João Paulo II... um braço direito muito levantado, penso eu.
A Igreja pensa que vai sobreviver "se não se esvaziar". Ora, o "esvaziar" é, simplesmente, actualizar uma doutrina válida a um mundo actual e extrair os necessários valores eternos (e eu sou laico, recorde-se). Para a Igreja há que julgar o preservativo com leis feitas numa altura em que este nem passava pela cabeça (umm....) de ninguém.
Bento XVI será, pois, um Papa para a velha e reaccionária Igreja se reconstruir após este processo de "abertura" que muitos consideram ser a causa dos problemas do mundo. Pois, então, se a Igreja é a solução, pq não há-de ser o problema? Pois, pois. Não pensaram nisso, pois não?
Pedro
Posted by Pedro Monteiro | 20/4/05 1:00 da tarde
1o. Nos ultimos meses/anos do pontificado de J. Paulo II Ratzinger já era "o Papa", pelo menos, no que se refere à linha doutrinal da Igreja. Portanto, a sua escolha representa uma opção pela continuidade, em detrimento das (legitimas) aspirações de modernidade manifestadas por importantes sectores da Igreja.
2o. O nome que escolheu pode indicar um crescente empenhamento na missionação e na evangelização com base em dogmas (reiterados) que teriam maior acolhimento em contextos não-Ocidentais.
3o. Ratzinger é um feroz opositor do relativismo e do individualismo que estariam corroendo a civilização Ocidental. Veja-se parte significativa da sua literatura bem como a homilía que proferiu pouco antes do início do conclave. Percebo que assim seja porque a Igreja não pode debater esses fenómenos abertamente sem pôr em causa os seus dogmas. E esse é o problema essencial: a perenidade e o poder espiritual da Igreja dependem desses dogmas. Refiro-me a dogmas "triviais" como a indissolubilidade do matrimónio, a proibição do aborto, a exclusão da homosexualidade, a oposição aos métodos contraceptivos, etc. Mas também a dogmas "fundamentais" como o da santíssima trindade ou o da fé. A Igreja não se pode misturar com o tempo e com o modo porque tornar-se-ia tão plástica e vulnerável como os homens e as mulheres que pretende tutelar. O máximo que uma instituição que se pretende eterna pode fazer é acompanhar o mundo a um ritmo drasticamente mais lento do que o ritmo do próprio mundo, para expurgar o essencial do acessório, para se concentrar apenas sobre as tendências longas e profundas que possam influenciar a dimensão espiritual do ser humano.
Escrevo com o à-vontade de um agnóstico, desapaixonadamente e sem preconceitos em relação a uma instituição a que não adiro. Posso perceber os terríveis dilemas com que se confronta actualmente uma organização que se defende do mundo proclamando "verdades" que a realidade de tantos milhóes de seres humanos tende cada vez mais a negar.
Posted by Anónimo | 20/4/05 5:58 da tarde
Eu bem disse q ele ia ser europeu... Não concordo com a tua opinião - alice - de que a igreja tem os seus dias contados se este Papa tiver um pontificado longo. Primeiro, porque estás a «desprezar» (ou melhor dizendo, ignorando) a história secular desta instituição. Porque Ratzinger é um conservador, sim, mas também o era quem o precedeu. E mais conservadores foram outros Papas no seu tempo e a Igreja ainda é o q é. E na minha opinião vai continuar a sê-lo. E Ratzinger é um fundamentalista? E então? Quem já acredita nesta religião vai continuar a sê-lo independentemente do fundamentalismo do Papa. Pelo menos do lado ocidental/«desenvolvido». Mas tb tenho as minhas reservas quanto à entrada de novos membros neste mesmo espaço (vulgo, Europa). Agora, o fundamentalismo religioso (seja de que religião for) continua a ser aceitável em grandes regiões do planeta (vulgo, América - do Sul e Central principalmente-, África e Ásia. Claro q a hegemonia do Catolicismo não se faz sentir nestas áreas como na Europa em si, mas porém, como eu já disse em posts anteriores, é nestas áreas q a Igreja Católica redescobriu os novos fiéis. Que muitos aceitam o fundamentalismo sem grandes entraves.
Quero falar mais mas por agr, chega.
Tenho dito.
Posted by Alexandre Carvalho | 21/4/05 5:49 da manhã
O patriarca de Lisboa, um dos 115 a quem coube eleger Bento XVI, relembrou que a Igreja não está programada «para mudar ao ritmo do mundo», mas antes sim «para desafiar o mundo a uma mudança qualitativa».
Posted by Anónimo | 21/4/05 8:48 da manhã
Olhem, desculpem, não é politicamente incorrecto eu ser o primeiro católico a comentar, mas depois de tanta polémica, axo que vai contra qualquer norma de bom senso...
Quem se orgulha tanto de não aderir a uma instituição e não praticar, etc e tal, têem mesmo de ser sempre os que estão à esquina apreensivos sempre à espera de uma chance para mandar o seu "bitaite"?!?!
Se eu fosse dizer tudo que tenho contra esse infeliz que agora até é papa, acho que nunca mais me calava...
Posted by Anónimo | 22/4/05 5:52 da tarde