Excelentes posts num excelente blog
NO PAÍS DOS SACANINHAS
Dêem-me um sacana à moda antiga
Como nos filmes de outras eras
Daqueles que vestiam a sacanice e a assumiam
E olhando se reconhecia e temia
Fato e sacana.
Hoje há sacaninhas
Betinhos com caras de sonsos
Vozes delicadas, boas maneiras
Aprumados, bem-educados
Bem vestidos, bem comportados
Frágeis como donzelas
Usam tretas freudianas à lapela
Não são filhos da puta
São filhinhos da mamã.
Até na sacanice este país se tornou pequenino
Pouca coisa, mesquinho.
Temos os sacanas que merecemos.
Ah quem me dera um sacana à moda antiga
E não estes piolhos que por aí pululam
Com sacanices todas iguais, globalizadas
Que só fazem comichão não dão tesão
Tão frágeis, tão indefesos e pequeninos
Que se tem medo que quebrem e se partam
Se levarem uma simples lambada.
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Eu, abaixo assinado, declaro solenemente, por minha honra
Que auferirei e desfrutarei
De todos os privilégios a que tenho direito
E de todas as mordomias que me serão concedidas
Como servidor e representante da Nação.
Prometo não esquecer que há crise… Para os outros
Prometo não dar mais regalias… Aos outros
Prometo cortar privilégios…. Aos outros
E com unhas e dentes defender os meus.
É uma honra servir este País
E depois de terminado o mandato
Irei como os meus antecessores
Para institutos ou empresas do Estado
Ou para a Caixa Geral de Depósitos
Fiel depositária de todos,os que como eu,
Não se distinguiram na governação
E que também assinaram este documento
Prometendo nele desfrutar ad eternum
Dos privilégios que me são concedidos
Por ter, mesmo que por pouco tempo,
Sentado o cu na cadeira do poder.
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in, Eroticidades
20 valores
Posted by Anónimo | 1/7/05 1:57 da tarde
O conforto material e social (eufemismo para designar o sucesso segundo os valores dominantes) conquista-se pela subserviência ao poder, pelas relações, pelo nascimento ou apelido e... também... pelo mérito! A percentagem de casos de sucesso devidos ao mérito intrínseco será ínfima. Por mérito intrínseco designo qualidades morais e intelectuais, capacidade de trabalho e cultura indiscutíveis. Não incluo na definição de "mérito intrínseco" a capacidade para criar e gerir eficientemente relações úteis.
O "sistema" faz uma tremenda propaganda aos casos de mérito intrínseco. Divulga até à exaustão a história do tipo pobrezinho, mas inteligente que vingou entre os privilegiados. As sagas de "self-made men" são objecto de um folclore interminável. Isso serve para esconder os percursos mais triviais de sucesso (!), que são muito bem caricaturados nos "poemas" deste "post".
O tipo que se safa, que descobre o cú da agulha por onde passar à frente dos outros. O tipo que dá o golpe, que não hesita na "cunha" porque o que conta é o resultado e apenas o resultado. O "chico esperto" que vive de expedientes e que se está nas tintas para o civismo ou para o respeito pelo espaço público. O arrangista, o manhoso, o pequeno delinquente das boas maneiras, o salteador de concursos, o nepotista, o delator. O contorcionista de valores (morais e financeiros...). O filho do pai, o irmão do administrador, o amigo do presidente, o conhecido do primo do director, o pateta que faz jeito na organização para não turvar as àguas tranquilas do poder instalado e que receia a sucessão e a perda das mordomias.
Tudo isto não é específico de Portugal. Podem encontrar-se estas artimanhas em todo o mundo, com maior ou menor sofisticação. Em Portugal, o "chico-espertismo" é talvez mais primário e dói mais, porque o país está de rastos e precisa desesperadamente de qualidade. O país está farto dos vampiros do costume e seus acólitos, afilhados e sucessores que insistem em mamar numa têta exangue.
Gente boa deste planeta, uni-vos!
Não acreditais nas raras hitórias em que são os bons que saem vencedores.
Não vos deixais deprimir pela mediocridade dominante.
Identificai o que é importante e não vos deixais cair na tentação de correr atrás de falsos pedestais.
Porque dos oportunistas é o reino da estupidez.
Amen
Posted by Anónimo | 1/7/05 2:37 da tarde
Gosto sobretudo do título do post, que interpretei imodestiamente :)
Para não variar, aliás, como a Alice já nos habituou, os poemas são muito bons...! Obrigado...
Posted by António Pedro | 1/7/05 8:42 da tarde