Divagando pela Economia
a mesa de cafe
Portugal atravessa uma grave crise económica e moral. Vou riscar este começo, porque já umas dezenas de crónicas começaram assim. Recomecemos, portanto:
Portugal é um país que, como toda a gente sabe, está a anos de algumas coisas, e a séculos de outras. Está a anos de conseguir uma OTA e um T.G.V., a séculos de ter população e políticos que entendam a sua necessidade, para que Portugal se integre numa economia de mercado; para que o projecto de uma social-democracia se concretize e se assegure a longo prazo.
As minhas fracas luzes de economia poderiam degenerar numa aceitação de um discurso que resuma o equilíbrio e o crescimento económico a uma conjugação de aumentos e decréscimos de impostos com a redução do peso do Estado. Mas, felizmente, penso que é possível ver uma luzinha ao fundo deste escuro túnel que nos é impingido. Mas, obviamente, essa fraca luz só se tornará em Sol, quando pararmos de tentar iluminar a gruta com lâmpadas: porque desta forma, viveremos eternamente a assistir ao desgastante fenómeno que é o de assistirmos a uma lâmpada que se acende enquanto outra se apaga. Perdoem-me o discurso metafórico, mas passo a explicar:
Parece-me haver duas maneiras de ver a social-democracia em Portugal: a que tende a ser neo-liberal/ conservadora e a que tende a ser socialista/ trotskista/ marxista. A que tende a ser neo-liberal pensa que o caminho passa pelo aniquilamento do Estado-Providência; a que tende a rumar para o lado inverso acha que o desafio reside precisamente aí – não no aniquilamento deste, mas na conjugação deste com a Economia (que é cada vez mais de mercado). É para aí que tende o esforço, por exemplo, deste Governo, mas que será inglório enquanto houver quem queira fundir as lâmpadas. Eu sei que estão fartos deste discurso das lâmpadas, mas vou tentar, uma vez mais, clarificar:
Portugal falhou os alicerces da social-democracia e do Estado-Providência desde a 1ª República; falhou a já tardia industrialização, com o fracasso da política industrializadora setembrista; falhou a constituição de um sólido grupo empresarial, de uma sociedade dinâmica e investidora, que falhou, por sua vez, pela não constituição de poderosas instituições de crédito. Falhámos, portanto, em tudo, e parece que não contentes, queremos continuar a falhar.
Agora explico como é que preveniremos essa falha, e o porquê de essa prevenção ser um grande e trabalhoso desafio, que ultrapassa défices orçamentais. Agora explico o porquê dos investimentos corriqueiramente apelidados de “faraónicos” serem meras peças do puzzle:
É sabido que o PEC tem, como objectivo, a estabilidade de preços, juntamente com o tratado de Maastricht – ambos se completam na tarefa legal que é concretizar esse mesmo objectivo. Mas, está provado que estão a falhar redondamente, amplificando as assimetrias dentro da própria U.E. e, ao que se sabe, enfraquecendo os Estados-maiores que, como todos, fraquejam à medida que o preço do petróleo sobe. Caso vos tenha falhado este pormenor, o petróleo é, sim, e será, o motor de uma Economia Global. Pelo menos, enquanto as energias alternativas não se afirmarem.
Com efeito, Portugal precisa de crescer mais que os outros, escapando aos becos em que se encurrala – vejamos: mais I.V.A., menos investimento. A medida dá “uma no cravo”, porque surge como forma de combate ao défice, e outra “na ferradura”, porque não combate verdadeiramente o problema. Assim, um leigo como eu, chega à seguinte conclusão: que para assegurar o Estado-Providência, é preciso que haja como. E, a meu ver, só há uma maneira: aumentando o peso do Banco Europeu de Investimentos, tornando-o peça fulcral na correcção das assimetrias existentes entre Estados Maiores e Menores (ou seja, possibilitando este investimentos nestes Estados Menores); conseguindo obras que fomentem a Indústria (sim, essas tais “faraónicas”); lutando cada vez mais por uma verdadeira União Política (na qual o Tratado Constitucional terá, obviamente, um grande papel) entre os Estados Membros...
Em suma, construindo uma Europa igualitária, que não deixe para trás o Estado-Providência, que não é necessariamente um fardo (vejamos o caso, por exemplo, da Finlândia), com sacrifícios que partem de todos nós – e, obviamente, com a vontade de todos os governantes que ambicionem uma Europa justa, solidária, de empregos, de oportunidades, de futuro…
Este texto chama-se "Divagando pela Economia": foi o que fiz mas, entenda-se, numa frágil embarcação...
Portugal atravessa uma grave crise económica e moral. Vou riscar este começo, porque já umas dezenas de crónicas começaram assim. Recomecemos, portanto:
Portugal é um país que, como toda a gente sabe, está a anos de algumas coisas, e a séculos de outras. Está a anos de conseguir uma OTA e um T.G.V., a séculos de ter população e políticos que entendam a sua necessidade, para que Portugal se integre numa economia de mercado; para que o projecto de uma social-democracia se concretize e se assegure a longo prazo.
As minhas fracas luzes de economia poderiam degenerar numa aceitação de um discurso que resuma o equilíbrio e o crescimento económico a uma conjugação de aumentos e decréscimos de impostos com a redução do peso do Estado. Mas, felizmente, penso que é possível ver uma luzinha ao fundo deste escuro túnel que nos é impingido. Mas, obviamente, essa fraca luz só se tornará em Sol, quando pararmos de tentar iluminar a gruta com lâmpadas: porque desta forma, viveremos eternamente a assistir ao desgastante fenómeno que é o de assistirmos a uma lâmpada que se acende enquanto outra se apaga. Perdoem-me o discurso metafórico, mas passo a explicar:
Parece-me haver duas maneiras de ver a social-democracia em Portugal: a que tende a ser neo-liberal/ conservadora e a que tende a ser socialista/ trotskista/ marxista. A que tende a ser neo-liberal pensa que o caminho passa pelo aniquilamento do Estado-Providência; a que tende a rumar para o lado inverso acha que o desafio reside precisamente aí – não no aniquilamento deste, mas na conjugação deste com a Economia (que é cada vez mais de mercado). É para aí que tende o esforço, por exemplo, deste Governo, mas que será inglório enquanto houver quem queira fundir as lâmpadas. Eu sei que estão fartos deste discurso das lâmpadas, mas vou tentar, uma vez mais, clarificar:
Portugal falhou os alicerces da social-democracia e do Estado-Providência desde a 1ª República; falhou a já tardia industrialização, com o fracasso da política industrializadora setembrista; falhou a constituição de um sólido grupo empresarial, de uma sociedade dinâmica e investidora, que falhou, por sua vez, pela não constituição de poderosas instituições de crédito. Falhámos, portanto, em tudo, e parece que não contentes, queremos continuar a falhar.
Agora explico como é que preveniremos essa falha, e o porquê de essa prevenção ser um grande e trabalhoso desafio, que ultrapassa défices orçamentais. Agora explico o porquê dos investimentos corriqueiramente apelidados de “faraónicos” serem meras peças do puzzle:
É sabido que o PEC tem, como objectivo, a estabilidade de preços, juntamente com o tratado de Maastricht – ambos se completam na tarefa legal que é concretizar esse mesmo objectivo. Mas, está provado que estão a falhar redondamente, amplificando as assimetrias dentro da própria U.E. e, ao que se sabe, enfraquecendo os Estados-maiores que, como todos, fraquejam à medida que o preço do petróleo sobe. Caso vos tenha falhado este pormenor, o petróleo é, sim, e será, o motor de uma Economia Global. Pelo menos, enquanto as energias alternativas não se afirmarem.
Com efeito, Portugal precisa de crescer mais que os outros, escapando aos becos em que se encurrala – vejamos: mais I.V.A., menos investimento. A medida dá “uma no cravo”, porque surge como forma de combate ao défice, e outra “na ferradura”, porque não combate verdadeiramente o problema. Assim, um leigo como eu, chega à seguinte conclusão: que para assegurar o Estado-Providência, é preciso que haja como. E, a meu ver, só há uma maneira: aumentando o peso do Banco Europeu de Investimentos, tornando-o peça fulcral na correcção das assimetrias existentes entre Estados Maiores e Menores (ou seja, possibilitando este investimentos nestes Estados Menores); conseguindo obras que fomentem a Indústria (sim, essas tais “faraónicas”); lutando cada vez mais por uma verdadeira União Política (na qual o Tratado Constitucional terá, obviamente, um grande papel) entre os Estados Membros...
Em suma, construindo uma Europa igualitária, que não deixe para trás o Estado-Providência, que não é necessariamente um fardo (vejamos o caso, por exemplo, da Finlândia), com sacrifícios que partem de todos nós – e, obviamente, com a vontade de todos os governantes que ambicionem uma Europa justa, solidária, de empregos, de oportunidades, de futuro…
Este texto chama-se "Divagando pela Economia": foi o que fiz mas, entenda-se, numa frágil embarcação...