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Os meios afinal são abstractos, tal como o cérebro de Bush...

a mesa de cafe

Surpreende-me a forma como a super potência mundial, a referência, o modelo de organização federal, estatal e social que são os E.U.A. não conseguem reagir exemplarmente a uma catástrofe que, ainda mais grave, foi prevista a tempo, e chegou a uma cidade que tinha (ou deveria ter) meios não para prevenir os estragos na sua totalidade mas, pelo menos, para que os estragos fossem bem menores.
A meu ver, e não recorrendo a anti-americanismos gratuitos, parece-me que Bush, uma vez mais, não foi feliz nas suas intervenções. Pelo menos na primeira, em que assistimos a um presidente desinformado, baralhado e atónito, que proferia um discurso de uma vacuidade quase assustadora. O remate de todo este foi, aliás, uma prova das prioridades ideológicas a que Bush dedica tanta atenção: a América e o mundo não esperavam ouvir que a população rezava, visto que, felizmente, a sociedade americana tem uma atitude louvável neste tipo de catástrofes: imediatamente disponibiliza ajuda humanitária e financeira, mostra solidariedade, e não daquela que se previa num país cujas eleições confirmaram um posicionamento de mais de metade da população num sector conservador de direita – ajuda financeira de milhares de dólares choveu, não cobertores velhos, comidos pelas traças. Mas, como dizia, o que a América e o mundo não ouviram foi o porquê de a legislação que previa reparações nos diques não foi aprovada. O que a América e o mundo não viram foi a mobilização de meios esperada, no momento. Aquilo a que a América e o mundo assistiram foi a um cenário semelhante ao do Tsunami, num país como a Tailândia. E, a meu ver, isto é preocupante, porque, afinal, a população dos E.U.A. não pode dormir tão descansada como isso – como diz MRS, “se o Estado não serve de forma funcional este tipo de incidentes, então, para que serve?”: o problema é exactamente esse: o Estado de Bush não serve para nada. Para nada…

P.S.: Há uma imagem que passou nas televisões, de um homem que toca saxofone no meio do caos que se vive no meio das ruas. Se alguém a conseguir, por favor diga...

Este post é d'O Acidental (não ponho link porque sinceramente... nao sei muito bem como se faz:/). Acho que capta exemplarmente aquilo que penso sobre o assunto de maneira que poupo toda a gente à minha prosa miserável e ainda dou a minha opinião sobre o assunto, mesmo que pelas palavras de terceiros.



Não há América para amar ou odiar
1. Coisa curiosa. Coloco um “post” sobre uma dada situação política na Alemanha. Ninguém reage. Mesmo quando sabemos que no destino da Alemanha está contido um pouco do destino da Europa e, por arrastamento, de um pequeno país como Portugal. Ninguém comenta a evidente deriva “nacionalista”, “comunitarista”, “reaccionária” de uma velha esquerda encarnada em Lafontaine. Gostava de saber porquê? Porque a discrepância de comentários é demasiado grande em relação a "post" posterior, relacionado com a América.

2. Quando o assunto é a América, a emoção vem ao de cima e as pessoas não se conseguem conter. E isto é um problema para um debate a sério. Hoje em dia, as pessoas só reagem àquilo que gostam ou não gostam. As pessoas não falam da Alemanha porque não gostam nem desgostam da Alemanha. A Alemanha não incute emoção. A América, ao invés, causa espasmos faraónicos.

3. Não sou pró nem anti americano. Porque isso não existe. Ou melhor, existe na cabeça de quem faz política na base do branco e preto, isto é, na base da emoção. A Política não é assim tão simples; tem várias tonalidades de cinzento. Critico e defendo correntes de pensamento americanas. Por exemplo, critico os neoconservadores e defendo os liberais clássicos. Não há uma América para amar ou odiar. Isto não é o parque infantil onde há o Rufia e o Bonzinho a lutar pela alma dos restantes. Há várias Américas. Mas, claro, esta complexidade não dá jeito a quem pensa com… a emoção.

4. Claro que critico os atrasos na ajuda. Não sou mais papista do que o Papa. O próprio Bush já admitiu os erros. Mas uma coisa é a crítica a uma situação. Outra coisa, bem diferente, é aproveitar esta situação como prova ideológica. É intelectualmente desonesto aproveitar uma tragédia para criticar todo o sistema americano. Como se tivesse havido intenção de abandonar aquelas pessoas. Como se fosse próprio dos ricos brancos abandonarem os negros pobres. Isto é que é desonesto. Ou tremendamente imbecil. O que está subjacente a este clima de crítica em relação à situação “Katrina” não é uma crítica aos erros mas uma recusa total de um sistema que, nesta perspectiva cínica, potenciou a catástrofe e o atraso na ajuda. Isto, no meu bairro, tem um nome: chico-espertice. A conclusão (latente) é óbvia: num sistema social, aquilo não acontecia.

5. O anti-americanismo é, na verdade, uma capa para se esconder o essencial: na América, a taxa de desemprego é de 5%; na França (símbolo da Europa centralista em dificuldades económicas), é de 11%. Mais: se viver na América é um inferno, porque razão a população americana continua a aumentar? Se viver na Europa centralizada é um sonho, porque razão a população continuar a diminuir? É sobre estas coisas que devemos falar. Falar com argumentos e não gritar com emoções. E devemos discutir não só a América. A Alemanha e a França também merecem umas discussões, ou não? Devemos ou não reservar uns espasmos faraónicos para Paris e Berlim?

[Henrique Raposo]

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