a mesa de cafe: Março 2005
Daqui a uma semana vamos para Pas de La Casa, numa viagem de finalistas que rompe com o conceito do “entrar bêbado e sair ressacado” que se tem mantido em praticamente todas as viagens ditas “de finalistas” do secundário. Este ano o José Falcão escolheu, em votação, eleger a neve como alternativa à praia paradisíaca que os responsáveis da agência “Total Fun Trip” tentaram pintar, com muita manha e muitas imagens. Aliás, a apresentação do programa desta foi surreal: dois jovens muito jovens, distanciados não pela idade mas pela concepção de divertimento, que resolveram debitar durante 30mn um paleio de televendas, mas em que o produto que publicitavam era ainda mais inacreditável.
Começaram por se apresentar e fazer a apologia do Fernando Alvim, como se este fosse, digamos, o ícone de uma geração, o modelo de “jovem” a seguir…Como se a sua presença fosse, por si só, uma razão mais que valida para irmos todos que nem um rebanho. Todas estas baboseiras foram acompanhadas por um vídeo projectado na parede esburacada e gasta do anfiteatro da escola, em que mostravam no Curto-Circuito imagens de uma discoteca a abarrotar de gente. Esperaram com isto que a nossa reacção fosse, certamente, a de ficarmos boquiabertos e em êxtase, coisa que infelizmente não aconteceu.
Em seguida, decidiram mostrar o hotel. Um hotel de quatro estrelas, aparentemente bom, mas, pasme-se: nunca tinha aceite jovens, era a primeira vez, “e especialmente para nós”. Possuía 7 piscinas, e sabe-se lá mais o quê. Está-se mesmo a ver que nesta altura do ano estariam todas à nossa espera. Se uma interior estivesse aberta já nos deveríamos dar por muito satisfeitos.
Prosseguiram com a introdução de um novo “conceito”: a do “Brasil especialmente trazido até nós” (em Lloret, vejam bem). Ilustram com grandes passeios de barco, com um céu azul e com uma água cristalina, e, claro, com muitos jovens sorridentes, muitos bikinis e fatos-de-banho, muitos mergulhos. A sensação que me dá, é que se mergulhasse no Mediterrâneo nesta altura do ano, a hipotermia seria uma certeza.
Mostraram ainda (e esta foi das minhas preferidas) a pérola de toda a viagem: o “Sunset Barbecue” – que era antecedido por uma travessia de Catamaran até à ilha deserta, onde o tal buffet estaria à nossa espera, bem como massagens, e o mergulho para um colchão encharcado em água. Muitas palmeiras, muitos cocos, muitas meninas de ar sorridente de bikini. Havia ainda extras que iam desde o “jantar à luz das velas, com a namorada, numa praia deserta”, ou “O Torneio de Counter-strike” (o meu sonho é ir enfiar-me numa viagem de finalistas para a passar em frente ao computador – se isto fosse o que queria, ficava em Coimbra).
Para rematarem todo este cenário idílico, acabaram em beleza com outro passeio de barco (desta vez de madrugada) até outra praia deserta, onde estariam à nossa espera as “barmaids” e os “barmens” das discotecas, em bikini e em calções-de-banho, claro, e com muitas bebidas.
Ilustraram com a imagem de uns actores porno, sorridentes para a câmara, atrás de um bar com umas bebidas de cor esquisita.
Escusado será dizer que imediatamente imaginei as “barmaids” loiras e esbeltas como um grupo de obesas mórbidas de cabelo preto encaracolado, a correrem atrás de mim pela praia.
É por isso que fico feliz em ver que ando numa escola de gente lúcida e minimamente inteligente, que ao mesmo tempo prefere a moderação e uma actividade como o ski ao exagero da outra viagem de finalistas, que caiu no exagero, e na mão de oportunistas.
Fico feliz por sermos “a única escola de Coimbra que não vem com a nossa agência” (palavras dos próprios), e ao mesmo tempo que não nos incluímos nos 13.000 jovens que vêem nestas viagens uma boa forma de fugirem, sei lá, ao controlo dos pais, ou que simplesmente gostam de passar por esponjas e fazer figuras tristes.