Michael Moore...Sensacional ou Sensacionalista
a mesa de cafe
Acabei recentemente de ler o best-seller de Michael Moore, “Brancos Estúpidos e Outras Desculpas Esfarrapadas Para o Estado da Nação”, e devo dizer que fiquei bastante surpreendido com a qualidade da argumentação deste na sua campanha anti-América de Bush. E pronto, contra Bush. E pronto, contra Clinton. E pronto, contra as desigualdades sociais sentidas pelos negros na “Land of the free…home of the brave”.
Basicamente, o livro é uma amálgama de críticas sustentadas em factos (aparentemente verdadeiros, porém a direita de Bush afirma _como aliás, não podia deixar de ser_ que são deturpados e que tomam outros contornos fora do seu contexto), que nos deixam verdadeiramente perplexos face ao estado a que as coisas chegaram num país em que supostamente existe uma democracia, e em que supostamente existe um presidente – se bem que alcoólico e de vitórias duvidosas. No fundo, nos E.U.A. (e estou perfeitamente ciente que Michael Moore diz a verdade) chegou-se à ditadura do capitalismo e, pior que isso, à ditadura do capitalismo mais repugnante de sempre; uma nova doutrina: o capitalismo moral e religioso. Por outras palavras, nos E.U.A. a elite de milionários esmaga as classes hierarquicamente inferiores, e é apoiada e bafejada por republicanos conservadores, moralistas, e acima de tudo, aquilo que sempre lhes conveio ser: cristãos. A desculpa para se continuarem a cometer as atrocidades que se cometem. Foi Deus que certamente soprou nos ouvidos de Bush (ou do seu patrão, Cheney) que deveria usar o Alaska como foco de exploração petrolífera…Foi certamente Jesus Cristo que apareceu numa bela noite de calor Texano no alpendre da residência ecológica em que a ex-bibliotecária Laura Bush se encontra e ordenou (ordens divinas não se discutem): vais dizer ao teu marido para rejeitar qualquer proposta da ONU, qualquer tratado ambiental que condene a emissão de gases perigosos, enfim, qual Quioto qual quê…? Estamos muito bem (então nós, esta província de Espanha), aqui sossegados enquanto imaginamos a Figueira a ser engolida pelo mar…Estamos aqui muito bem e até gostamos de ver a próspera indústria nos E.U.A., os bonitos carros da Chrysler, empresa fabricante de carros sem restrição nas emissões de fumo…mas toda a gente sonha em ter aquele (sim, aquele que imita o antigo) porque é mesmo fixe.
Quem viu o Fahrenheit 9/11 sabe do suposto golpe nas eleições Gore/Bush, portanto é desnecessário falar disso outra vez. O meu crédito está inteirinho na versão de Michael Moore, porque das duas uma: ou a América é mesmo uma nação (termo tão simpático aos rightists ) de conservadores acéfalos, ou tem uma grande fatia da população que não percebeu o que implicaria votar em Bush. Ou então os resultados simplesmente apareceram, nem que tenha sido com a ajuda do Supremo Tribunal. E assim obtivemos o que obtivemos: para a América e para o mundo.
O livro de Moore contém ainda uma lista exaustiva de medidas tomadas desde a posse de Bush que explicam também o estado da nação. A suposta reforma da Segurança Social, os fundos cortados para as escolas (principalmente as das periferias, uma vez mais), o estado caótico em que o sistema de ensino público americano se encontra (se econtrou, e se encontrará), a forma passiva como se deixa a iniciativa privada mandar num país, enfim… Toda uma série de factos que só entendidos e reunidos explicam o porquê do declínio da sólida economia americana, e o agravamento das condições de vida neste país…
Michael Moore talvez não passe de um sensacionalista. Talvez não passe apenas de um comuna (meu Deus! Ele é comuna!), dado aquilo que defende e ataca. Mas Michael Moore vive num condomínio em Manhattan. E diz o leitor – “está bem, mas o Francisco Louçã também vive num luxuoso apartamento em Lisboa”. Bem, isto está a ficar confuso.
Como dizia, é provavelmente uma esquerda americana que se começa a fazer sentir (ao que aliás é associado muitas vezes _na maior parte delas, como se de uma máfia se tratasse_). Michael Moore é, a seguir a Donald Trump, um dos homens mais influentes da América. Sim, esse. Com um boné de baseball e barba por fazer…
Porém, e como já disse, há quem não pense assim...
Acabei recentemente de ler o best-seller de Michael Moore, “Brancos Estúpidos e Outras Desculpas Esfarrapadas Para o Estado da Nação”, e devo dizer que fiquei bastante surpreendido com a qualidade da argumentação deste na sua campanha anti-América de Bush. E pronto, contra Bush. E pronto, contra Clinton. E pronto, contra as desigualdades sociais sentidas pelos negros na “Land of the free…home of the brave”.
Basicamente, o livro é uma amálgama de críticas sustentadas em factos (aparentemente verdadeiros, porém a direita de Bush afirma _como aliás, não podia deixar de ser_ que são deturpados e que tomam outros contornos fora do seu contexto), que nos deixam verdadeiramente perplexos face ao estado a que as coisas chegaram num país em que supostamente existe uma democracia, e em que supostamente existe um presidente – se bem que alcoólico e de vitórias duvidosas. No fundo, nos E.U.A. (e estou perfeitamente ciente que Michael Moore diz a verdade) chegou-se à ditadura do capitalismo e, pior que isso, à ditadura do capitalismo mais repugnante de sempre; uma nova doutrina: o capitalismo moral e religioso. Por outras palavras, nos E.U.A. a elite de milionários esmaga as classes hierarquicamente inferiores, e é apoiada e bafejada por republicanos conservadores, moralistas, e acima de tudo, aquilo que sempre lhes conveio ser: cristãos. A desculpa para se continuarem a cometer as atrocidades que se cometem. Foi Deus que certamente soprou nos ouvidos de Bush (ou do seu patrão, Cheney) que deveria usar o Alaska como foco de exploração petrolífera…Foi certamente Jesus Cristo que apareceu numa bela noite de calor Texano no alpendre da residência ecológica em que a ex-bibliotecária Laura Bush se encontra e ordenou (ordens divinas não se discutem): vais dizer ao teu marido para rejeitar qualquer proposta da ONU, qualquer tratado ambiental que condene a emissão de gases perigosos, enfim, qual Quioto qual quê…? Estamos muito bem (então nós, esta província de Espanha), aqui sossegados enquanto imaginamos a Figueira a ser engolida pelo mar…Estamos aqui muito bem e até gostamos de ver a próspera indústria nos E.U.A., os bonitos carros da Chrysler, empresa fabricante de carros sem restrição nas emissões de fumo…mas toda a gente sonha em ter aquele (sim, aquele que imita o antigo) porque é mesmo fixe.
Quem viu o Fahrenheit 9/11 sabe do suposto golpe nas eleições Gore/Bush, portanto é desnecessário falar disso outra vez. O meu crédito está inteirinho na versão de Michael Moore, porque das duas uma: ou a América é mesmo uma nação (termo tão simpático aos rightists ) de conservadores acéfalos, ou tem uma grande fatia da população que não percebeu o que implicaria votar em Bush. Ou então os resultados simplesmente apareceram, nem que tenha sido com a ajuda do Supremo Tribunal. E assim obtivemos o que obtivemos: para a América e para o mundo.
O livro de Moore contém ainda uma lista exaustiva de medidas tomadas desde a posse de Bush que explicam também o estado da nação. A suposta reforma da Segurança Social, os fundos cortados para as escolas (principalmente as das periferias, uma vez mais), o estado caótico em que o sistema de ensino público americano se encontra (se econtrou, e se encontrará), a forma passiva como se deixa a iniciativa privada mandar num país, enfim… Toda uma série de factos que só entendidos e reunidos explicam o porquê do declínio da sólida economia americana, e o agravamento das condições de vida neste país…
Michael Moore talvez não passe de um sensacionalista. Talvez não passe apenas de um comuna (meu Deus! Ele é comuna!), dado aquilo que defende e ataca. Mas Michael Moore vive num condomínio em Manhattan. E diz o leitor – “está bem, mas o Francisco Louçã também vive num luxuoso apartamento em Lisboa”. Bem, isto está a ficar confuso.
Como dizia, é provavelmente uma esquerda americana que se começa a fazer sentir (ao que aliás é associado muitas vezes _na maior parte delas, como se de uma máfia se tratasse_). Michael Moore é, a seguir a Donald Trump, um dos homens mais influentes da América. Sim, esse. Com um boné de baseball e barba por fazer…
Porém, e como já disse, há quem não pense assim...
É claro que não vou defender George Bush, mas também não idolatro Michael Moore da mesma forma que tu. Porque nem tudo o que ele diz é verdade.. O Farenheit 9/11 tem alguns "enriquecimentos" no que diz respeito aos factos e isso é coisa que todos sabem. Por isso não levo 100% a sério o que ele diz... Mas pronto, devo louvar as suas técnicas já que, com maior ou menor credibilidade, Moore consegue transmitir aquilo que quer, ou seja, provocar o desagrado dos americanos por Bush... Contudo ainda não foi suficiente.
Posted by Alice | 22/5/05 8:13 da tarde
Idolatrar Michael Moore? É fantástico…
Alice, eu acho que ninguém idolatra Michael Moore. Isso seria pouco prudente…seria até estúpido. Seria até naïf, tal como ele muitas vezes, é. Há muito em que se pode acreditar em Michael Moore, mas há outra parte igual em que não se deve confiar. É imprudente ter certezas quanto à dubiedade dos factos de Michael Moore. Tu não investigaste. Não sabes. Ou seja, enquanto não houver (isto claro, a meu ver) certezas de que aquilo que ele diz em Fahrenheit é deturpado, aldrabado, descontextualizado, e tudo aquilo que quizeres acabado em “ado”, não podes desacreditar tão convictamente deste. Há, porém, inúmeras características nos seus filmes/textos/documentários que nos levam a desconfiar – uma delas é a forma mágica como “tudo bate certo”, outra é o espectáculo que faz à volta disso. Outra ainda é o sensacionalismo mais que intrínseco, outra ainda é o que fica por fundamentar em muitas afirmações que faz. Isto sim, são motivos para desconfiar de Michael Moore, não uma falsa certeza de que este deturpa a verdade.
Para além disso, se só viste o “Fahrenheit”, é precipitado, a meu ver, tirares conclusões tão definitivas em relação a todo o seu trabalho. O livro não tem muito a ver com o documentário.
Espero ter deixado bem claro que não idolatro Michael Moore (confiar não é a mesma coisa que idolatrar _ e visto que, como já disse, nem cegamente confio…), E não deixa de ser no mínimo curioso que quem aponte mais o dedo a Michael Moore, seja precisamente essa direita de chapéu e lenço de cowboy, com autocolantes “Bush/ Cheney” nas camisas, ou aquela raça de moralistas e cristãos que escrevem livros pró-Bush intitulados “Misunderestimated”…Face a isto, Alice, acho que não há muito mais para dizer. Realmente, admiro o trabalho de Michael Moore. Admiro, não idolatro.
Posted by António Pedro | 22/5/05 9:02 da tarde
O discurso dele, quando ganhou o óscar de melhor documentário para o 'Bowling for Columbine', é só genial.
Mesmo quando a organização da cerimónia pôs a música final para o calar.
Posted by Mariana | 22/5/05 9:22 da tarde