Informação de Entretenimento
Não gosto de “chover no molhado”, mas quando os assuntos oferecem, diariamente, matéria para reflectir (e visto que até está na moda reflectir, ou fazer reflexões de interesse nulo – como, provavelmente, esta– sobre tudo e mais alguma coisa) não posso deixar de fazer uma pequena crítica à qualidade da informação em Portugal. Mais precisamente, sobre o fenómeno que se tem vindo a verificar: a evolução dos serviços informativos para serviços informativos de entretenimento. É, no fundo, aquilo que, pelo menos, dois dos Jornais da Noite de duas televisões nacionais são. Refiro-me, mais concretamente, ao “Jornal da Noite” da SIC. Para quem pensasse que o da TVI seria manifestamente pior, peço que vejam o da concorrência (para concordarem com isso e para terem razões para o criticar). Dar-me-ão razão. E sustento a minha opinião em duas reportagens (que ninguém me convence de não terem sido encenadas antes) que passaram a semana passada: uma sobre exorcismos e outra sobre epilepsia. 1ª pergunta: alguém me explica o que é que uma reportagem sobre exorcismos faz num Jornal da Noite?
Apesar de medíocre, concordaria que fosse transmitida num qualquer outro programa, mas nunca num Jornal da Noite. Em segundo lugar, pedia que me explicassem por que carga de água os doentes epilépticos merecem que a sua doença seja tratada como se de Alzheimer ou outra semelhante se tratasse ? Penso ser do conhecimento geral que os epilépticos levam uma vida totalmente normal, tendo alguns ataques, ocasionalmente, que podem muito bem ser prevenidos com medicação e algumas precauções (evitar sítios abafados e a prática de desportos de alto risco, por exemplo). Portanto, não vejo qual a necessidade de uma reportagem recheada de perguntas cruéis e de extremo mau gosto a crianças que, não só não sabem fornecer nenhum tipo de esclarecimento sobre a doença (não tendo os depoimentos por elas prestados, por isso, nenhuma utilidade informativa, como não conseguem estar cientes da forma tão pouco profissional e ética como a informação por elas providenciada pode ser usada (e do quão lesiva a sua divulgação pode ser). Limitando-me a criticar a forma como a reportagem foi conduzida, e não a actuação da jornalista (que fazia, recorrentemente, perguntas do género: “E sofres muito com a doença?”) concluo que, das duas, uma: ou a jornalista ignora pura e simplesmente o seu papel; ou tem ordens para fazer uma reportagem que comova (e, consequentemente, que entretenha – visto que as pessoas, em Portugal, gostam que as comovam) e que deixe de lado a tarefa de informar.
Mas achava que seria precipitado tirar conclusões, tendo apenas visto uma reportagem. No dia seguinte, pela mesma hora, ouvia atrás de mim uma senhora idosa a carpir. Dizia sentir-se extremamente deprimida e sem vontade de comer, devendo, por isso, estar possuída por algum demónio (escusado será que este salto lógico me fez rir). Nada mais simples: ficaria curada com uns abanões do Padre local. Até aqui nada de espantoso (para além da óbvia desadequação da reportagem). Até que me são mostrados uns grande planos da dita senhora a cuspir uma substância que não soube identificar (apesar de ter algumas suspeitas que prefiro guardar para mim) acompanhados por uns grunhidos do Padre, do género “Vai-te, besta!”; “Deixa esta senhora em Paz!” – isto enquanto a ia levantando e deixando cair, sucessivas vezes.
Concluí que este tipo de reportagens seria habitual (dado uma semana antes ter-nos sido dada a conhecer a história de um guru brasileiro que retirava cancros com uma tesoura), e mais concluí que, decididamente, vivo no país errado. Não num país de provincianos, mas sim num país de gente esperta (esperta, não inteligente) que vive à custa de gente provinciana. Uma última pergunta, para reflectir: porque é que os nossos noticiários são os únicos que duram aproximadamente 1h30? Porque é que nos países ditos desenvolvidos estes têm, aproximadamente, 1/3 da duração? Dá que pensar, não dá?
Apesar de medíocre, concordaria que fosse transmitida num qualquer outro programa, mas nunca num Jornal da Noite. Em segundo lugar, pedia que me explicassem por que carga de água os doentes epilépticos merecem que a sua doença seja tratada como se de Alzheimer ou outra semelhante se tratasse ? Penso ser do conhecimento geral que os epilépticos levam uma vida totalmente normal, tendo alguns ataques, ocasionalmente, que podem muito bem ser prevenidos com medicação e algumas precauções (evitar sítios abafados e a prática de desportos de alto risco, por exemplo). Portanto, não vejo qual a necessidade de uma reportagem recheada de perguntas cruéis e de extremo mau gosto a crianças que, não só não sabem fornecer nenhum tipo de esclarecimento sobre a doença (não tendo os depoimentos por elas prestados, por isso, nenhuma utilidade informativa, como não conseguem estar cientes da forma tão pouco profissional e ética como a informação por elas providenciada pode ser usada (e do quão lesiva a sua divulgação pode ser). Limitando-me a criticar a forma como a reportagem foi conduzida, e não a actuação da jornalista (que fazia, recorrentemente, perguntas do género: “E sofres muito com a doença?”) concluo que, das duas, uma: ou a jornalista ignora pura e simplesmente o seu papel; ou tem ordens para fazer uma reportagem que comova (e, consequentemente, que entretenha – visto que as pessoas, em Portugal, gostam que as comovam) e que deixe de lado a tarefa de informar.
Mas achava que seria precipitado tirar conclusões, tendo apenas visto uma reportagem. No dia seguinte, pela mesma hora, ouvia atrás de mim uma senhora idosa a carpir. Dizia sentir-se extremamente deprimida e sem vontade de comer, devendo, por isso, estar possuída por algum demónio (escusado será que este salto lógico me fez rir). Nada mais simples: ficaria curada com uns abanões do Padre local. Até aqui nada de espantoso (para além da óbvia desadequação da reportagem). Até que me são mostrados uns grande planos da dita senhora a cuspir uma substância que não soube identificar (apesar de ter algumas suspeitas que prefiro guardar para mim) acompanhados por uns grunhidos do Padre, do género “Vai-te, besta!”; “Deixa esta senhora em Paz!” – isto enquanto a ia levantando e deixando cair, sucessivas vezes.
Concluí que este tipo de reportagens seria habitual (dado uma semana antes ter-nos sido dada a conhecer a história de um guru brasileiro que retirava cancros com uma tesoura), e mais concluí que, decididamente, vivo no país errado. Não num país de provincianos, mas sim num país de gente esperta (esperta, não inteligente) que vive à custa de gente provinciana. Uma última pergunta, para reflectir: porque é que os nossos noticiários são os únicos que duram aproximadamente 1h30? Porque é que nos países ditos desenvolvidos estes têm, aproximadamente, 1/3 da duração? Dá que pensar, não dá?
Excellent post Tony, superb... as always! ;D
Posted by Passepartout | 24/3/06 12:09 da tarde
Caro António Pedro, os meus parabéns pelo seu post! Nos dois dias que passaram [em que houve futebol na rtp1] o telejornal foi de apenas 30 minutos, porque a isso foi obrigado. [Não é so a sic e a tvi que têm esse tipo de reportagens]Assim consegue ver-se apenas o essencial da informação diária. Será de propor a transmissão diária de um jogo de futebol às 20:45H?
Bom fim de semana!
Posted by Unknown | 24/3/06 8:32 da tarde