Send As SMS

« Home | Inter Rail... » | Constituição Europeia? » | O Monstro » | O futuro das futuras torres » | "The Big Fish" - Quem conta um conto... » | Michael Moore...Sensacional ou Sensacionalista » | Um pouco de filosofia » | Para todos os interessados, os Clássicos da Broadw... » | Universidade:) » | China invade... »

O dia depois de ontem

a mesa de cafe

Agora que passou o misto de pânico/euforia/embaraço, e começando pelo fim, por parte dos Srs. Deputados (com o fim das reformas destes e etc.), dos comentadores políticos (nos quais Vasco Pulido Valente obviamente se insere, aliás, este homem vive num pranto incessante), e da população em geral, eu pergunto (se é que me é legítimo fazê-lo): saberá Sócrates o que é “Austeridade”? Saberá o governo do Partido Socialista o que é ser-se, de facto, socialista? E saberei eu? E alguém sabe? Pois custa-me reconhecer que se calhar os da velha guarda é que têm razão, quando afirmam que, hoje em dia, as orientações partidárias têm um fundo ideológico comum: a cultura de massas. E que a única coisa que distingue os jovens como eu, em/na política, são as idiossincrasias pessoais de cada um. Parece uma perspectiva um pouco redutora , mas penso que é essencial que a escutemos com atenção para concluirmos o seguinte: estamos na merda. Sócrates percebeu isso quando chegou ao governo, nós percebemos isso quando finalmente percebemos que ele tinha chegado ao governo. E que se tinha deparado com uma economia em que não há espaço de manobra para se ser socialista. E que como percebeu que não havia, não se importou de respirar fundo, ganhar fôlego e dar uma sopradela destas nas promessas que tinha feito, unindo histórica e preocupantemente dois partidos aparentemente opostos, que discordam em coisas muito semelhantes: O Bloco de Esquerda e o PSD. Só que essa aparente harmonia da oposição tem, a meu ver, uma leitura um pouco distinta daquela que a priori nos seria fácil ter: não são as medidas de Sócrates que são boas; não é o facto do IVA aumentar que vai acabar com o défice, não é o tabaco que vai pagar as despesas da saúde pública. Ou melhor, poderá hipoteticamente pagar, o IVA pode até produzir os seus efeitos…mas o que Cavaco Silva diz não deixa de ser verdade: o rombo na economia e a competitividade entre as empresas nacionais e estrangeiras (e basta-nos olhar para o amigável IVA de Espanha) sairão seriamente prejudicadas (a longo prazo, mas que sairão é uma certeza)…Conclusão: o que se vive é o adiamento de uma tragédia , nada mais que isso…
Bem, mas preferiria dizer a quem lê isto que esquecesse as linhas de cima, porque o que me senti ao escrevê-las nada mais foi que um saco de frases feitas e de clichets (os textos da blogosfera acerca das Medidas de Austeridade _mesmo os daqueles que efectivamente sabem o que escrevem_ are so damn boring…); prefiro antes pegar nalgumas reflexões acerca do que se vive em Portugal que vão ficando esquecidas, numa altura em que supostamente elas são as mais importantes, ou por outras palavras, as que realmente contam…
Disse o Zé, e bem, que “um Estado não enriquece com dinheiro vindo de dentro, mas sim com dinheiro vindo de fora”. Ora digam-me como é que se pretende mandar vir esse dinheiro com uma massa de licenciados que chega a esse estado profissional sem saber ler nem escrever, ou falar fluentemente mais que uma língua que não o inglês? Mas a verdade é que nos enganamos diariamente, pensando que esta língua é suficiente, que ninguém nos irá pedir mais que isso: mas a verdade é que nos enganamos redondamente…a globalização é um monstro que cresce diariamente, e não se vai dar (ou pelo menos não se vai dar sempre) com o inglês como língua única. Como é que algum português mediano, pode competir com países da União Europeia, com um rigor como o dos suecos, por exemplo? A resposta é: não pode. Não podemos. Não conseguimos.
São, portanto, a meu ver, realmente estes, os problemas que Portugal tem de corrigir; que passam pela profunda crise moral que vivemos, com um país educado pela televisão, que o único fim que tem em vista é não fazer nada; é esperar que os outros façam. O que não deixa de ser assustador, visto que a espera produziu os seus efeitos; chegaram as consequências – fizemos e fazemos a cama para que os imigrantes de Leste façam o nosso trabalho, e nos passem à frente. E isto não é Xenofobia, é uma mera constatação, visto que por mim as fronteiras nem deviam existir – no lugar delas deveriam estar cartazes luminosos com a seguinte mensagem: “Vem Europa, que o nosso país nos está a fugir por entre os dedos como areia”. A crise não se resolverá enquanto problemas estruturais na sociedade e na educação não se resolverem. Acreditem que não.
A minha opinião de leigo é esta…obviamente que sofreu muitas influências…mas de influências…cada um colhe as que quer.

Belo post! Eu concordo com muito. Contudo, encontro algo muito grave na política nacional: ouve-se os partidos dizerem que apoiarão medidas de reestruturação e quando elas surgem - não neguemos, com Sócrates surgiram e não foram poucas e provavelmente ainda serão mais - não há elogios e, inclusivamente, há inexplicáveis ataques. O culto da má-língua. Mas à portuguesa, claro. Má-língua é dizer mal, mas deve haver algo para dizer mal, quando não há... quando não há estamos em Portugal, de certeza! Assim, se for consciente o Bloco de Esquerda não crítica o que deve ser feito, ganha espaço eleitoral ao centro e ao PCP e mostra que merece ser Governo. Acredito que no Bloco de Esquerda há muita e boa gente que concorde com estas medidas. Só que não falam. E o mesmo sucede para os outros partidos, à esquerda e à direita. E, julgo, também com a sociedade portuguesa. Aliás, segundo uma sondagem o PS voltaria a ter maioria absoluta. Foi feita antes do anúncio destas medidas, mas julgo que pouco se terá alterado. O mesmo grupo de pessoas que deu ao PS a maioria para governar fê-lo porque queria um PS activo, competente e com um projecto e isso, Sócrates já mostrou ter.
O Estado social é, hoje, possível. Não nos actuais formatos. Pagar um subsídio de desemprego a quem recusa, sistematicamente, empregos ou ainda trabalha não é uma política social. Por outro lado, as despesas com a segurança social aumentam (aumentam, não é custam) cerca de 250 milhões de euros por mês. Para se ter uma ideia os submarinos custam 700 milhões de euros pagos em 30 anos (30 anos para um mês). Ou seja, não é cortando nos submarinos que se salva o défice. Também não o é comprando-os. No entanto, não se fala que sem eles os Estaleiros de Viana de Castelo - pilar da economia local e os últimos estaleiros portugueses de grandes dimensões - teriam que adquirir pelo seu dinheiro equipamento de construção naval que foi negociado a custo zero nas contrapartidas dos submarinos. As contrapartidas dos concursos de armamento têm um mínimo de 100% do valor da aquisição. Não creio que nos concursos públicos haja sempre essas vantagens. Porém, também na Defesa se pode e deve cortar. Mas há que ter em conta que há dois versos da mesma moeda e sem os ver não podemos dizer que ela nada vale.
Penso, pois, que se deve cortar com inteligência em todo o funcionalismo público que se mostre ineficaz, despesistas e desnecessário. O Ministro das Finanças tem, por fim, prontas medidas concretas nesse sentido. Por fim, temos Governo! O Estado Social é possível e é necessário, contudo, só pode existir se o Estado existir.

Pedro

PS- Belo uso da palavra "merda"! Adequado! Acho eu, se bem que não esteja certo se Joyce o usava...

"E que se tinha deparado com uma economia em que não há espaço de manobra para se ser socialista." ...nem mais nem menos!

Concordo com praticamente tudo menos com o problema linguístico. Embora nunca sejam demais as línguas que se conhecem, creio que esse é mesmo um dos únicos campos em que nos superiorizamos a quase todos os povos europeus, pois temos uma tremenda facilidade em aprender línguas, nomeadamente as de origem anglo-saxónica ou latina.

"pois temos uma tremenda facilidade em aprender línguas, nomeadamente as de origem anglo-saxónica ou latina."

É pena que realmente não utilizemos essa facilidade com frequência...
Ou achas que temos um grande domínio das línguas estrangeiras (honestamente) ?

Gostei do post. A malta tem que ter noção que a economia é um pau de dois bicos, ou como uma manta demasiado pequena para a nossa cama. Eu sei que dizer isto é muito vago, mas também não me apetece desenvolver muito por agora: ao tomarmos uma medida económica para combater um problema qualquer (p.e. o défice), vamos combatê-lo num lado, sendo certo q estamos a destapar o outro lado, e que portanto, se de um lado o défice é combatido, por outro, «abrimos buracos» para que ele permaneça. E é a partir daqui que faz todo o sentido dizer «Um estado não enriquece com o dinheiro vindo de dentro mas de fora», e podemos transportar este mesmo caso para o défice: enqto não tivermos investimento estrangeiro neste país para que possamos combater o flagelo de todos os ângulos, andamos sempre como o cão atrás da sua cauda, nunca chegamos a agarrá-la.

o dinheiro vondo de fora é como lã para aumentar a manta. No nosso país pode-se dizer que há uma manta individual numa cama de casal! :P

Enviar um comentário
A Mesa de Café

Imprensa Desportiva

a mesa de café Blogger